Quinta, 30.
Acordei
com o zuir de um mosquito. Deviam ser umas quatro da manhã. Voltei a adormecer
para acordar às sete e meia, quando desci de um avião num barco de borracha. A
aeronave tinha tido uma avaria e durante um certo tempo rodou sobre si própria
até se estatelar no Tejo. Durante o acidente, não ouvi um grito, nem sei como
me encontrei na balsa, ao lado de um piloto de outra companhia que havia
viajado a meu lado, são e salvo. Ao despertar sentia-me sereno, pacificado,
feliz. Quando pus um pé de fora, estava no Terreiro do Paço e um sol limpíssimo
cobria a praça que abre sobre o rio.
- Não sei interpretar este sonho. Sei
que antes de ser despertado pelo insecto, tinha passado por momentos angustiantes,
durante os quais me debatia para encontrar um editor. Aliás estes pesadelos são
cada vez mais frequentes. Faz no próximo mês um ano que aguardo respostas de
dois ou três editores. Um já sei que achou o romance demasiado longo, outro de
cada vez que falamos, diz-me que está a ler “com interesse”, um terceiro que o
meu trabalho “é divertido”. Resta aquele que desde a primeira hora se sentiu
embalado pela história de O Rés-do-Chão
de Madame Juju e, de uma enfiada, me mandou quatro ou cinco contratos. Mas
Simão e mais uns quantos amigos, insistem para que resista a assinar com este
que foi de todos o mais cordato e por quem até sinto simpatia. Até quando? Estas
minhas reservas, advêm do facto de o último editor com quem trabalhei me ter
ficado a dever 72 mil euros de direitos de autor. Voilà porque questiono tudo e me tranquei na prudência talvez excessiva.