Sexta, 24.
Já
era previsível: o impropriamente denominado estado islâmico reivindicou o
atentado de Londres. É a nova fórmula covarde de matar inocentes em nome de
nada. Recruta um solitário que se encarrega de assassinar o máximo de pessoas e
depois morre. No resumo, até hoje, estão contabilizados cinco mortos e para
cima de quatro dezenas de feridos, alguns em estado grave. Londres reagiu à
tragédia e prossegue a vida. Os londrinos, desde os tempos da peste de 1663 ao
incêndio de 1666, parecem tocados pela chama da sobrevivência imortal. Em
Londres, no final do fogo que a consumiu e fez 120 mil vítimas, ficou apenas
Pepys que em páginas admiráveis e cheias de coragem e humor, nos narra a
tragédia. Depois veio Christophe Wren que lhe deu a imagem que hoje conhecemos.
Mas isso é outra história.
- O livro de Gunter Grass que acabei
esta tarde, A Caixa, não tem nem de
perto nem de longe, a garra daquele que li antes. Pelo contrário, é um
exercício penoso centrado sobre a família, a sua, constituída por oito filhos
de três ou quatro mulheres diferentes, e onde ele, o pai, não sai nada bonito
na fotografia. Ainda bem que eu me separei cedo da minha, ou antes felizmente
que eles me recambiaram para um colégio armado ao fino e assim pude construir-me
sem os traumas dos filhos de Grass. Cito mais uma vez Gide: “Famille, je vous
hais!” Eu não chego a tanto, mas que sem ela por perto pude ser quem sou, um
ser livre, inteiramente votado à vida, sem os escolhos e orientações que a
moral cristã e os preconceitos sociais convocam para dominar, padronizar e
meter nos carris da decência o jovem que em adulto corresponda à norma, disso
me livrei. Graças a Deus!
- Em compensação, o romance em verso
de Gonçalo M. Tavares Uma Viagem à Índia,
não aportando ao panorama literário português nada de verdadeiramente original,
é todavia um trabalho merecedor de toda a atenção. Eu havia lido, julgo, duas
obras dele que não apreciei. Estava, por assim dizer, de pé atrás. A tal ponto que
tinha comprado o livro há muito tempo e ia adiando a sua leitura. Mantenho-o agora
sobre a mesa baixa do salão desde que acabei a sua leitura, porque não quero
separar-me dele tão depressa. Gonçalo Tavares é dos poucos escritores da nova
geração que eu conheço, dos mais interessantes. Se tiver tempo, farei uma
apreciação da obra para Maria Estela Guedes.
- A Piedade hoje perguntou-me se
achava que devia começar “a fazer uma despensa devido à guerra que aí vem”.
Pelo que percebi, é o que andam a fazer as velhas aqui do burgo. Talvez tenham
razão, mas adiantadas de meia-dúzia de anos. Os grandes países estão mais
avançados: nos últimos três anos abasteceram-se de material bélico em
quantidades colossais. Nunca se gastou tantos milhões com a guerra que
aparentemente nenhum político deseja, mas tudo faz para a ter.