Quarta, 8.
Eu esconjuro-os na escrita, eles vingam-se e
entram-me por todo o lado. Falo dos meus amigos os fantasmas. Não os que
habitam no interior de mim, mas daqueles que em certos dias topo-os pelos
cantos dos olhos a passar suavemente na forma de sombras que desenham figuras
no espaço; outros dias travestidos de aranhas, morcegos, lagartixas de um verde
cintilante que à noite brilha. Não sei se dormem cá dentro de casa, se entram e
saem pelo silêncio da noite. Sei que ultimamente têm andado bastante activos ao
ponto de deixarem as suas marcas no exterior. A semana passada arredaram da
entrada um vazo com amores-perfeitos; ontem abriram a torneira de rega tendo ficado a verter água para o relvado não sei quanto tempo. Felizmente apenas um fio
que eu dei conta quando me sentei no terraço para leituras após o almoço.