quarta-feira, março 29, 2017

Quarta, 29.
Naquele dia Fortuna veio corrigir as pernas da mesa. Chovia e a manhã ainda dispunha de um certo espaço antes da chegada da tarde. Quando ele saiu, tive um arrepio de alegria. Sentado à minha mesa de trabalho, vendo a chuva cair lá fora e contemplando o horizonte de cinza, senti a morte vir ao meu encontro por entre os pingos da chuva. Olhei-a de frente, olhos nos olhos, e docemente entreguei-me para que ela me levasse nos seus braços translúcidos. Para trás, sem nenhuma mágoa, deixei as muralhas de livros, e ouvi distintamente cada autor murmurar: “Foi-se aquele que tanto nos amou.”

         - Os patetas entendem-se com patetas, por isso a Aeroporto da Madeira passa a ter o nome do “maior jogador do mundo”. Depois de terem posto no Panteão Nacional Eusébio, tudo se espera deste reino de patetas. O que é mais impressionante ou talvez não, é o Presidente da República e Primeiro-Ministro caucionarem aquela idiotice. Que vai de rajada com àquela outra de um casal com responsabilidades na ilha que encontrei em Viena d´Áustria, em Dezembro passado. Falou-se da mudança de nome do aeroporto e eu perguntei-lhes se estavam de acordo. A resposta veio pronta: “Não estamos, mas não podemos fazer nada.” É sempre assim neste país à beira-mar plantado.  Os idiotas são senhores absolutos de tudo. Dito isto, não creio que Passos Coelho se submetesse a uma tal bajulice. O ex-primeiro-ministro está mais próximo da dignidade de António José Seguro, o Mágico que lhe deu o encontrão, muito distante. É mais político – diz a criadagem satisfeita que o enfeita.


         - Ontem vi a entrevista de Marine Le Pen no canal 2 e percebi como o senhor Pujadas manipula com as suas perguntas mas, sobretudo, com os seus juízos pessoais a opinião pública francesa. É pelo que ouvi que ela está na frente das eleições. Tudo o que a senhora disse sobre a UE é absolutamente certo. Se cumpre, é outra conversa.
         - Esta é a última obra da minha amiga Maria José. Acompanhei a sua gestação durante pelo menos dois meses, nas tardes em que ia ao seu atelier conversar com ela. A propósito, por meu intermédio, uma outra escultora, francesa, acabou de comprar casa aqui e vai-lhe fazer companhia. Marriette escolheu este sítio para viver. Quando vem cá a casa tomar café ou almoçar, tece laudas à zona e à escolha que em boa hora a trouxe a estas divinas paragens. Resta-lhe aprender o português. 

Os Alentejanos