sábado, março 04, 2017

Sábado, 4.
Quando o Dr. Azul (o nome por si só instala no céu da boca uma miríade de estrelas) me extraiu sem eu dar por isso o dente do sizo que há muito desejava ver-me livre, disse: “Enfim, a partir de agora vou passar a ter o juízo todo!” Ele riu-se, riram-se os seus quatro assistentes e depois devolveu-me: “Inda não. Resta um sizo que está em bom estado.” O que é admirável neste estomatologista, é a técnica e a competência que lhe permite fazer o seu trabalho com humor e ainda por cima sem que o paciente tenha um sopro de dor, antes e depois da intervenção. O seu apelido vai de par com o impulso que senti (e refreei) de lhe pedir que me arrancasse todos os dentes, só para conferir se ficava desdentado sem o mínimo sofrimento...

         - Ontem não resisti a comprar um pequeno livro de pouco mais de cem páginas contendo as cartas e outros escritos de Klaus Mann, pela primeira vez vejo editado em Portugal. O meu fascínio pelo escritor é tal, que adquiro tudo o que encontro dele. E faço-o por impulso, pois tinha comprado em Paris o corpo do livro (Contre la barbárie) de onde foram tirados os artigos e aguarda vez de leitura na pilha de in-fólios.




         - Este país não tem autorização de progredir porque tem tido à sua cabeça gente de uma mediocridade e mesquinhez insuportáveis. Vem isto a propósito do impoluto juiz Carlos Alexandre. Têm acusado o homem de tudo, mordem-lhe os calcanhares, vasculham-lhe a vida, atormentam os filhos e a mulher, só porque ele é das poucas pessoas honestas e trabalhadoras que devíamos estar de joelhos a glorificar. Agora vieram com insinuações só porque o magistrado pediu numa aflição emprestados 10 mil euros ao amigo de infância Orlando Figueira a contas com a justiça. Dez mil euros! Uma merdelhice comparada com os milhões de milhões que todos os dias são expostos na praça pública surripiados por esta corja de políticos, empresários, banqueiros e advogados ávidos de riqueza e por mor dela capazes de matar a mãe e o pai, arruinar um país e fazer milhões de milhões de pobres. Eu posso nunca mais ver editado um livro, mas não me calo. Nestas páginas direi o que penso, plasmarei a minha revolta e deixarei nelas expresso de que lado estou, ainda que não esteja se não do lado da liberdade.