Sábado, 4.
Quando
o Dr. Azul (o nome por si só instala no céu da boca uma miríade de estrelas) me
extraiu sem eu dar por isso o dente do sizo que há muito desejava ver-me livre,
disse: “Enfim, a partir de agora vou passar a ter o juízo todo!” Ele riu-se,
riram-se os seus quatro assistentes e depois devolveu-me: “Inda não. Resta um
sizo que está em bom estado.” O que é admirável neste estomatologista, é a
técnica e a competência que lhe permite fazer o seu trabalho com humor e ainda
por cima sem que o paciente tenha um sopro de dor, antes e depois da
intervenção. O seu apelido vai de par com o impulso que senti (e refreei) de
lhe pedir que me arrancasse todos os dentes, só para conferir se ficava
desdentado sem o mínimo sofrimento...
- Ontem
não resisti a comprar um pequeno livro de pouco mais de cem páginas contendo as
cartas e outros escritos de Klaus Mann, pela primeira vez vejo editado em
Portugal. O meu fascínio pelo escritor é tal, que adquiro tudo o que encontro
dele. E faço-o por impulso, pois tinha comprado em Paris o corpo do livro (Contre la barbárie) de onde foram
tirados os artigos e aguarda vez de leitura na pilha de in-fólios.
- Este
país não tem autorização de progredir porque tem tido à sua cabeça gente de uma
mediocridade e mesquinhez insuportáveis. Vem isto a propósito do impoluto juiz Carlos
Alexandre. Têm acusado o homem de tudo, mordem-lhe os calcanhares, vasculham-lhe
a vida, atormentam os filhos e a mulher, só porque ele é das poucas pessoas
honestas e trabalhadoras que devíamos estar de joelhos a glorificar. Agora
vieram com insinuações só porque o magistrado pediu numa aflição emprestados 10
mil euros ao amigo de infância Orlando Figueira a contas com a justiça. Dez mil
euros! Uma merdelhice comparada com os milhões de milhões que todos os dias são
expostos na praça pública surripiados por esta corja de políticos, empresários,
banqueiros e advogados ávidos de riqueza e por mor dela capazes de matar a mãe
e o pai, arruinar um país e fazer milhões de milhões de pobres. Eu posso nunca
mais ver editado um livro, mas não me calo. Nestas páginas direi o que penso,
plasmarei a minha revolta e deixarei nelas expresso de que lado estou, ainda
que não esteja se não do lado da liberdade.