sábado, janeiro 30, 2016

Sábado, 30.
O mundo já anda tão sensaborão, que não precisávamos de mais um vírus para nos chagar a vida. Trata-se do Zika, um mosquito que se alimenta do sangue humano, e faz razias pelas Américas do Sul e levou a OMS a declarar uma ameaça a ter em conta. Vive nos pântanos e pequenos charcos. Não se transmite de humano a humano, mas como as colónias são aos milhões e reproduzem-se facilmente, as grávidas quando infectadas os filhos nascem com microcefalia. É também este Aedes aegypti que transmite a dengue e a febre amarela. Só comparado a Abu Bakr Al-Baghdadi. Dois monstros.

         - A Gi que me abastece do lixo e das osgas que vegetam na internet, mandou-me este desenho saboroso do cartoonista Leone. Ele diz mais e melhor e mais eloquentemente que tudo o que se tem dito no mundo repetitivo da informação a propósito do ditador Ruhani. 



sexta-feira, janeiro 29, 2016

Sexta, 29.
Portugal, como sabemos, é um país sui generis. Dá para compreender o que se passa no mundo laboral ligado à CGTP, isto é, ao PCP unido no governo ao PS, que prossegue greves e manifestações como se Passos Coelho e sus muchachos ainda habitassem S. Bento! Calendário das greves de hoje: função pública na saúde e noutros sectores pelas 35 horas de trabalho semanal, os professores ameaçam também, além de que todo o mundo barafusta contra isto e contra aquilo como se estivéssemos no centro da governação PSD/CDS. Ou será que estamos, embora com outra sigla.

         - No rigolo suplemento do Público, este título: “Cavaco só concorda com casamento entre homossexuais do sexo diferente.” Eu prefaciando-o diria: Cavaco só admite homossexuais heterossexuais.


         - Ontem fui conhecer o espaço que a Conceição e o Simão estão em vias de abrir na Rua dos Fanqueiros. O prédio é pombalino e possui estuques decorativos com graça e bom gosto. O problema é o hostel (novo nome para as antigas pensões ou quartinhos à hora) a praga que fica no segundo andar e a ele temos acesso – como ao primeiro andar – por umas escadas íngremes de estarrecer. Não se percebe como podem os hóspedes escalar, degrau a degrau, aquela montanha escarpada, onde a todo o momento podemos precipitarmo-nos por ali abaixo e esborracharmo-nos na entrada de pedra. A rua é deslavada, corrida por automóveis malucos, cheia do negócio garimpeiro de chineses e paquistaneses, onde ninguém pode passear sem ficar exposto a todos os perigos. Espero que a pintura da Conceição e os livros do Simão sejam suficientemente fascinantes para lá levar os amantes das artes. Agora que passámos bons momentos de riso até às lágrimas, e em consequência a produção de betaendorfinas foi tanta que nos curou de todos os males, isso ninguém duvide.

quarta-feira, janeiro 27, 2016

Quarta, 27.
Os portugueses deviam estar de joelhos a agradecer à televisão, a todos os canais, por produzirem tão arautos presidentes da República, tão prolíferos e talentosos escritores, tão rigorosos economistas e tão exímios políticos. Portugal só não é um exemplo para o mundo, porque deixou de ter naus há quatro séculos.

         - A Maya por quem tenho estima e é entre o bruxedo que por aqui subsiste à custa de mentiras, um exemplo de trabalho e honestidade. Tenho o seu site nos favoritos e não começo o dia sem saber o que a elegante senhora me prediz. Só tenho um reparo a fazer: a baronesa das cartas às vezes acorda tarde – como ontem aconteceu. Anda decerto na ramboia pela noite dentro ou a colher nos sonhos as realidades que vaticina aos seus seguidores. Seja como for, paralisa-me o dia.

         - Entre as coisas que ando a ler, realço Grécia Revisitada. Frederico Lourenço é fascinante de todos os pontos de vista, não só porque expõe generosamente toda a sua imensa cultura, como, sem rede, se nos oferece cativante. Mais: neste ensaio, descobri-o irónico, flatteur, pícaro.  

         - Eu sei que não é fácil resolver o problema migratório oriundo do tempo de Bush pai e transformado num atentado no reinado do filho. Mas a Europa do euro, também mostrou desde a primeira hora, não ter grandeza para o encarar de frente. Deixou as coisas correr, as férias grandes estavam marcadas, os senhores políticos não podiam ser incomodados com trivialidades, havia eleições em vários países da União, o centro europeu estava defendido pelas fronteiras marítimas, a Inglaterra era preferencialmente o país dos sonhos dos infelizes. Isto foi no início da tragédia. Depois, as coisas atingiram o dramatismo que se conhece, o Ocidente foi confrontado com as mortes de crianças no Mediterrâneo, o abandono de seres humanos, a exploração destes por mafiosos e, acossados pelo desespero, vieram bater à porta da Europa por socorro. Milhões de povos sob a tirania de Bruxelas comoveram-se, revoltaram-se, exigiram que os governantes actuasse com humanidade. Aqui chegados, quando as temperaturas polares desceram do céu, os caminhos e os mares ficaram transformados num tapete de gelo, os anafados políticos respiraram de alívio na convicção de que o Inverno viria trazer tranquilidade aos seus quotidianos ronceiros e confortáveis. Mas tal não aconteceu. Então levantaram-se milhares de quilómetros de barreiras de arame farpado, derrubaram-se tratados por eles próprios construídos, usou-se a violência, recambiaram-se milhares às suas procedências, enterraram-se os mortos à pressa. Até que a Dinamarca, incomodada com a invasão dos bárbaros, assim como a Suíça que lhe segue os traços, encontrou esta saída asquerosa: todos os que tragam mais de 1.340 euros no bolso (900 euros na Suíça) serão confiscados! Como se as pessoas fossem ricas com tais somas! Mais: as famílias dos refugiados só se podem juntar a eles cinco após a autorização de permanência daqueles no país. Uma vergonha! Interrogo-me: o que seria uma nova guerra mundial com a mentalidade egoísta e primária dos dias de hoje! Que Deus nos defenda.

         - O Presidente do Irão, Hassen Ruhani, tem andado por aí a abrir os cordões à bolsa. Em Roma, visitou o Papa Francisco e à despedia pediu ao Sumo-Pontífice que rezasse por ele. Ai estes políticos! O curioso porém, foi o facto de as autoridades mandarem tapar as estátuas de nus do museu Capitolini para não chocar o ilustre visitante. Não era preciso tanto. O homem ao olhar aquelas maravilhas com os olhos que eu pousei nelas, quando muito diria: “Oh, nós os árabes, somos mais avantajados que estes homens de corpos potentes e zizis de pífaro.” Enfim, convenhamos, talvez não dissesse, mas lá que pensava... Todavia, o que é impressionante é o poder que o dinheiro tem. Nem toda a história artística e cultural da velha Europa consegue impor-se à bajulação daqueles que são infinitamente mais pequenos e insignificantes, face às maravilhas que gregos e latinos nos deixaram e devíamos venerar com orgulho e respeito. Convém, contudo, lembrar ao senhor a famosa Xerazade que não se limitou a adiar a morte com as suas histórias, mas também deve ter excitado gerações de tiranos Xarriares. 

terça-feira, janeiro 26, 2016

Terça, 26.
Recebi um e-mail de uma simpatia tocante do editor Diogo Madre Deus. Confesso que gosto muito das pequenas editoras e o Simão sabendo disso, empurrou-me para a Cavalo de Ferro que faz livros como se faz um objecto de arte e onde a Literatura ainda impera. O que ele me disse da minha escrita, por timidez e modéstia, não ouso para aqui transcrever. Agora que fiquei com a impressão de que um dia haveremos de nos entender, não tenho a mínima dúvida.

         - Há dias procurando uma observação, abri Nas Margens da Inquietação – terceiro volume do meu Diário publicado. Depois, como se seguisse um rio de águas límpidas e frescas numa tarde de Verão, deixei-me arrastar pela torrente e fui por ali fora. Céus! Como me mantenho intacto! Como o desassossego exterior e interior me consome com os mesmos laivos de inquietude! Nada do que vivi e contei caiu no marasmo do tempo. Pelo contrário, quer-me parece que a forma e o conteúdo, não transmitem o fardo pesado dos anos, antes absorveram o tempo numa carga dimensional que o eterniza em cada página. Estarei a ser presumido? Se estou que me desculpem, pois aqui por natureza mora consistentemente a discrição.  


         - O mais importante da festa eleitoral, reside no facto de em breve nos vermos livres de sua excelência-professor-doutor-economista-presidente Cavaco Silva. Alguns exclamam: “Como foi possível termos tido durante dez anos na presidência do país um homem daqueles!” Eu não sou desses. Acho que os portugueses têm aquilo que merecem. Ponto final. Todavia, a verdadeira história da personagem sinistra, começa a partir de Março. Vamos conhecê-la sem os entraves das venerações que a figura impôs enquanto habitou Belém. Eu costumo dizer que não há nada pior que a acensão de alguém que veio de baixo. Do mesmo modo que afirmo não haver nada mais aterrador que um inculto com dinheiro. Pertencem à mesma família dos que se arrogam acima da média, esquecendo que as origens rústicas e medíocres não desaparecem apagadas com um punhado de notas, e que a importância não advém daquilo que nos cerca ou possuímos, mas do que permanece íntegro dentro de nós. Bom. O senhor que se segue se não for outro boneco da TV, por exemplo, Marques Mendes, será Cristiano Ronaldo. É tiro e queda.  

segunda-feira, janeiro 25, 2016

Segunda, 25.
O espectáculo terminou e o pano desceu. Vamos ter o comentador Presidente da República, no PS vai haver escaramuça porque o apoio dado a Nóvoa pelos barões do partido em desprimor de Maria de Belém foi uma aberração, um tipo que andou a ser desafiado para se despir num programa de televisão pela marrequinha e não passa de um saloio esperto, teve mais votos que os “independentes” que aproveitaram as eleições para se promoverem, mas quem verdadeiramente ganhou a partida foi uma vez mais as abstenções com para cima de 50 por cento. Mas disto, chiu!

         - Uma grande tempestade de neve assolou os Estados Unidos nestes últimos dias paralisando Nova Iorque, retendo milhares em casa, sem transportes, a vida suspensa de um manto espesso de um metro impedindo o normal quotidiano americano. Os mais afoitos, esquiavam no Central Parque, as crianças divertiam-se à porta dos imóveis. Contudo, ao todo houve 30 mortos. Ainda há quinze dias, a população exibia-se em mangas de camisa ao sol, feliz com o clima “nunca visto”, atirando ao chão os cientistas da desgraça que ganham com as contradições da ciência sobre o aquecimento terrestre. A Natureza, soberana, impõe-se e derruba todas as fantasias.

         - Encontrei outro dia o homem que este Verão me obsequiou com uma quantidade de lenha que ia queimar e eu recuperei in extremis. Na troca de palavras, aconteceu o inesperado: ele ofereceu-me mais uma carrada e foi ao ponto de disponibilizar-se para ma trazer a casa. O que aconteceu sexta-feira. Chegou com a carrinha atulhada de madeirame de todos os formatos e qualidades. Pensando que eu não tinha com que a cobrir, trouxe também um grande plástico. Em dois dias carreguei para debaixo do telheiro umas arrobas de lenha seca e capaz de me evitar adquirir no próximo ano a tonelada habitual que alimenta as três lareiras cá de casa e com isso poupar duzentos euros. Tanta generosidade deixa-me sem jeito, para falar o brasileiro das telenovelas.


         - Por esta altura, alguém anda a ler O Rés-do-Chão de Madame Juju. Ontem deitei uma olhada ao original e logo esbarrei com duas gralhas. Que tristeza! Ninguém imagina como me incomoda ver estas manchas negras num livro! Sinto-me impotente para as remover, pelo simples motivo – estou demasiado envolvido com a história. Só um revisor o poderá fazer. Não é fácil para mim, não obstante as muitas revisões que fiz, ter controlo absoluto sobre quase 500 páginas e 873.627 caracteres. Agora que fico destruído, fico.