quarta-feira, janeiro 06, 2016


Quarta, 6.
Afinal quem se propõe ter residência em Belém: o comentador televisivo arcebispo Marcelo ou o seu irmão gémeo que ninguém sabia da existência?

         - A nossa airosa União Europeia desmembra-se a uma velocidade tal que não posso garantir esteja de pé até ao fim do ano. Depois das cenas deploráveis dos países que levantaram cortinas de ferro para evitar a invasão dos refugiados, temos agora Schengen substituído pelas antigas fronteiras em países civilizados como a Dinamarca, a Suécia e outros. Sem falar na Polónia que vai ao ponto de instituir pura e simples a censura a todos os meios de informação. Ninguém liga nenhuma a Bruxelas. A querida União vai cair putrefacta.

         - Pode ser que as lágrimas de Obama sejam sinceras, quero acreditar que sim. O Presidente chorou ao rebater o seu plano para enquadrar as armas que cada americano exibe com orgulho e que resultou, só o ano passado, em mais de 30 mil mortos! Muitas dessas vítimas crianças e jovens liquidados às mãos de fanáticos e doidos, frustrados e traumatizados. Poucas ou nenhumas dessas mortes foram em legítima defesa – a argumentação que o lóbi evoca para manter o direito consagrado na Constituição.

         - Ontem falei aqui das condições degradantes que abarcam todos os sectores nacionais e são traumatizantes para a população. Falei dos transportes, mas podia falar também da administração pública, do sector das energias, comunicações, hospitais, Segurança Social, etc. etc. Digo e reafirmo: as pessoas não contam para os nossos governantes. Ou antes, contam aquelas que ousam expor casos pessoais e íntimos, diante das câmaras de televisão. É verdade que somos pouco exigentes, habituados desde sempre a amochar, a não reivindicar direitos e obrigações. Parece que queremos que nos deixem em paz, seguir o caminho estreito que sempre foi o nosso. O resultado é o laxismo que está para durar nos serviços públicos e privados, o facto de eles decidirem sem terem em conta aqueles a quem as decisões vão atingir. Por uma razão simples: a existência de dois mundos – o do alto e o do baixo. Um e outro, estão separados por abismos vertiginosos impossíveis de se olhar de frente. A decadência, por exemplo, dos transportes colectivos é disso a marca. Estes políticos, saídos na rifa da democracia, a maioria antes do 25 de Abril de famílias modestas e honradas, depressa subiram a escada da arrogância e tornaram-se os novos-ricos do poder, desprezando o metro e o autocarro, o eléctrico e o ascensor, alguns com motorista fardado, olhando o povo através dos vidros fumados da viatura do Estado. Como pode esta gente conhecer o que se passa cá em baixo, nessa sociedade laboriosa, esforçada e mártir, que salta de transporte em transporte, levantando-se de madrugada, um filho em cada braço, à chuva e ao calor, o peso da angústia e do cansaço misturados na resignação e no desespero. Nada. Absolutamente nada. Porque conhecer o outro, é passar para a sua condição – e isso para eles é demérito.