Quarta,
6.
Afinal
quem se propõe ter residência em Belém: o comentador televisivo arcebispo
Marcelo ou o seu irmão gémeo que ninguém sabia da existência?
- A nossa airosa União Europeia
desmembra-se a uma velocidade tal que não posso garantir esteja de pé até ao
fim do ano. Depois das cenas deploráveis dos países que levantaram cortinas de
ferro para evitar a invasão dos refugiados, temos agora Schengen substituído
pelas antigas fronteiras em países civilizados como a Dinamarca, a Suécia e outros.
Sem falar na Polónia que vai ao ponto de instituir pura e simples a censura a
todos os meios de informação. Ninguém liga nenhuma a Bruxelas. A querida União
vai cair putrefacta.
- Pode ser que as lágrimas de Obama
sejam sinceras, quero acreditar que sim. O Presidente chorou ao rebater o seu
plano para enquadrar as armas que cada americano exibe com orgulho e que
resultou, só o ano passado, em mais de 30 mil mortos! Muitas dessas vítimas
crianças e jovens liquidados às mãos de fanáticos e doidos, frustrados e
traumatizados. Poucas ou nenhumas dessas mortes foram em legítima defesa – a
argumentação que o lóbi evoca para manter o direito consagrado na Constituição.
- Ontem falei aqui das condições
degradantes que abarcam todos os sectores nacionais e são traumatizantes para a
população. Falei dos transportes, mas podia falar também da administração
pública, do sector das energias, comunicações, hospitais, Segurança Social,
etc. etc. Digo e reafirmo: as pessoas não contam para os nossos governantes. Ou
antes, contam aquelas que ousam expor casos pessoais e íntimos, diante das
câmaras de televisão. É verdade que somos pouco exigentes, habituados desde
sempre a amochar, a não reivindicar direitos e obrigações. Parece que queremos
que nos deixem em paz, seguir o caminho estreito que sempre foi o nosso. O
resultado é o laxismo que está para durar nos serviços públicos e privados, o
facto de eles decidirem sem terem em conta aqueles a quem as decisões vão
atingir. Por uma razão simples: a existência de dois mundos – o do alto e o do
baixo. Um e outro, estão separados por abismos vertiginosos impossíveis de se
olhar de frente. A decadência, por exemplo, dos transportes colectivos é disso
a marca. Estes políticos, saídos na rifa da democracia, a maioria antes do 25
de Abril de famílias modestas e honradas, depressa subiram a escada da
arrogância e tornaram-se os novos-ricos do poder, desprezando o metro e o
autocarro, o eléctrico e o ascensor, alguns com motorista fardado, olhando o
povo através dos vidros fumados da viatura do Estado. Como pode esta gente
conhecer o que se passa cá em baixo, nessa sociedade laboriosa, esforçada e
mártir, que salta de transporte em transporte, levantando-se de madrugada, um
filho em cada braço, à chuva e ao calor, o peso da angústia e do cansaço misturados
na resignação e no desespero. Nada. Absolutamente nada. Porque conhecer o
outro, é passar para a sua condição – e isso para eles é demérito.