Terça, 26.
Recebi um e-mail de uma simpatia tocante
do editor Diogo Madre Deus. Confesso que gosto muito das pequenas editoras e o
Simão sabendo disso, empurrou-me para a Cavalo de Ferro que faz livros como se
faz um objecto de arte e onde a Literatura ainda impera. O que ele me disse da
minha escrita, por timidez e modéstia, não ouso para aqui transcrever. Agora
que fiquei com a impressão de que um dia haveremos de nos entender, não tenho a
mínima dúvida.
- Há dias procurando uma observação,
abri Nas Margens da Inquietação –
terceiro volume do meu Diário publicado. Depois, como se seguisse um rio de
águas límpidas e frescas numa tarde de Verão, deixei-me arrastar pela torrente
e fui por ali fora. Céus! Como me mantenho intacto! Como o desassossego
exterior e interior me consome com os mesmos laivos de inquietude! Nada do que
vivi e contei caiu no marasmo do tempo. Pelo contrário, quer-me parece que a
forma e o conteúdo, não transmitem o fardo pesado dos anos, antes absorveram o
tempo numa carga dimensional que o eterniza em cada página. Estarei a ser presumido?
Se estou que me desculpem, pois aqui por natureza mora consistentemente a
discrição.
- O mais importante da festa eleitoral, reside no facto de em breve nos vermos
livres de sua excelência-professor-doutor-economista-presidente Cavaco Silva. Alguns
exclamam: “Como foi possível termos tido durante dez anos na presidência do
país um homem daqueles!” Eu não sou desses. Acho que os portugueses têm aquilo
que merecem. Ponto final. Todavia, a verdadeira história da personagem
sinistra, começa a partir de Março. Vamos conhecê-la sem os entraves das venerações
que a figura impôs enquanto habitou Belém. Eu costumo dizer que não há nada
pior que a acensão de alguém que veio de baixo. Do mesmo modo que afirmo não haver
nada mais aterrador que um inculto com dinheiro. Pertencem à mesma família dos
que se arrogam acima da média, esquecendo que as origens rústicas e medíocres
não desaparecem apagadas com um punhado de notas, e que a importância não advém
daquilo que nos cerca ou possuímos, mas do que permanece íntegro dentro de nós.
Bom. O senhor que se segue se não for outro boneco da TV, por exemplo, Marques
Mendes, será Cristiano Ronaldo. É tiro e queda.