Domingo, 3.
Laurent Delahousse é um dos poucos jornalistas
franceses que eu aprecio e estimo. Há uns anos que ele vem produzindo uma série
de programas sobre escritores, actores e outras individualidades que se
distinguiram no seu país. Robert sabendo do meu apreço pelo trabalho de
Delahousse, enviou-me o registo de um dos seus últimos projectos dedicados a
Françoise Sagan. Sagan que Green mauzinho quando queria e queria muitas vezes, ligava
à autora de Memórias de Adriano: Yourcenar
é a Sagan de l´Antiquité e
acrescentava piédestal sans la statue.
Em verdade não só ele. Muita gente da literatura, digamos, clássica encolheu-se
com o êxito de Bonjour Tristesse. Entre
nós a nossa Rebelo Pinto quis seguir-lhe os passos, mas tropeçou e ficou pelo o
caminho. Todavia, no romance em causa, estava já traçado o rumo que a escritora
viria a percorrer. Eu li-o na altura e também fui dos que não achei que a miúda
de dezoito anos tivesse um talento que ultrapassasse essa primeira aventura. Mais
tarde entendi quando li Aimez-vous Brahms?,
Derrière l´épaule que havia ali mais qualquer coisa do que as suas
extravagâncias e os seus desnortes amorosos com homens e mulheres, o fascínio
por carros de ostensivos e casas de luxo. Essa embriaguez da belle vie levou-a ao jogo, às drogas
duras, à solidão, à doença e por fim à morte. Um destino, diria, muito ao jeito
dos tempos presentes que adoram explorar a miséria e a decadência e, se ainda
por cima se tratar de um artista, então saem todos os ganhar. O fim de
Françoise Sagan foi o oposto à sua vida. Morreu praticamente nos braços da sua
derradeira amante, uma mulher rica que recomprou a casa da Bretanha que o fisco
lhe havia confiscado e velou por ela até ao último suspiro. Toda a imensa
fortuna que ganhou com os livros, foi lançada aos ventos da desgraça. O filho,
num testemunho de grande dignidade, diz que ainda hoje está a pagar os
desvarios da mãe. Contrairement à ce qui se dit, ce n´est pas pendant la
jeunesse qu´on les rencontres les plus souvent mais plus tard, quand l´ambition
de plaire est remplacée par l´ambition de partager. Derrière l´épaule, pág. 173, Plon.
- Os meteorologistas não se calam com o reaquecimento da terra e afirmam
que as estações do ano já não são o que eram nem voltarão a ser. Os
ambientalistas, no íntimo, lamentam apenas porque não vão poder fazer o seu
período de esqui na montanha, nem o Verão na praia. Mas depois, chega a mãe
natureza e desmascara-os. Foi o que aconteceu. Quando os negócios da neve
estavam encostados às boxes do desespero e muitos diversificavam para não
morrer na miséria, eis que a neve começou a cair do céu em catadupa. França,
Itália, Suíça estão forradas dela, com mais de vinte centímetros de altura. Não
há, todavia, nenhum iluminado que explique a contradição.
- O Irão xiita está a ferro e fogo. O motivo foi a execução do líder religioso
xiita Nimr´al-Minr pela sunita Arábia Saudita. A tensão é tal, que incendiaram
a embaixada deste país, e nas ruas prosseguem manifestações contra Riad. Também
entrou na contenda o temível Moqtada al-Sadr que exigiu o encerramento da
embaixada saudita em Bagdad, reaberta há dias, ao cabo de 25 anos. O que aí
vem, ficou expresso nas ameaças de Teerão. Muri al-Maliki, antigo
primeiro-ministro, disse que a execução do religioso vai “fazer tombar o regime
saudita; Hossein Jaber Ansari, porta-voz do Ministério dos Negócios
Estrangeiros do Irão, afirma que “Riad vai pagar caro por prosseguir esta
política”; e o ayatollah Ali Khamenei, intimidou com vingança divina. O mundo
islâmico nunca esteve tão perto da catástrofe. Quem ficará com a supremacia de
todo o mundo árabe? O mundo este ano começa como terminou o anterior – sob
catastróficos prenúncios de sangue e guerra. Enquanto isto, em Portugal, os dez
cavaleiros do após Calipso (nada menos que um por cada milhão de portugueses,
pois então!) continuam o espectáculo degradante de cabotinismo e jactância.