quinta-feira, janeiro 07, 2016

Quinta, 7.
Não sai da agenda diária o drama dos doentes falecidos por abandono no hospital de São José e ainda bem. Constato que o ministro da Saúde certifica tudo o que venho dizendo aqui ao afirmar que “este caso em concreto (referia-se ao de David Duarte) e outros casos que estão ligados à infelicidade de pessoas não pode ser centrado no debate político”. Isto é, Adalberto Campos Fernandes, não confunde as situações e não arrasta para a lama o seu anterior colega que, repito uma vez mais, foi dos melhores governantes do executivo de Passos Coelho. Aliás, se ele não se atirar para os braços demagógicos do seu primeiro e mantiver a lucidez com que nos tem brindado, ele e Pedro Marques, são dois nomes a reter como políticos que talvez possamos acreditar virem a pertencer à futura geração de honrados homens.

         - Os médicos são as pessoas mais conservadoras do mundo. Quando aprendem uma coisa, não querem aprender outra. Palavras de Sanjin Kaul, director de medicina cardiovascular da Universidade de Saúde e Ciências do Oragon, Estados Unidos.


         - Almocei com o Filipe no Amoreiras. Filipe foi meu criativo e é um ser original, um bom rapaz que eu sempre estimei. Larguei-o logo depois porque ele tem horários a cumprir na agência de publicidade onde hoje trabalha com vencimento de escravo. Estando ali, deambulei pelo centro comercial onde não entrava há um largo tempo. Anos e anos, vivendo a dois passos, era lá que fazia as minhas compras, tomava café e lia os jornais, passeava e descansava. Não mudou muito. À parte o primeiro andar dedicado à restauração que mais parece uma vasta cantina de operariado, algazarra, comida a granel, fru-fru e salsa a gosto, tudo o resto conserva o aspecto que sempre lhe conheci, com algumas lojas seniores e sem rugas a rivalizarem com as recentes na corrida ao cliente distraído e baldas que aceita sem discutir o que lhe enfiam pelos olhos ou pela boca. A condicional diferença relativamente a outros centros comerciais como o Colombo ou Vasco da Gama, reside no facto de o metro ali não chegar e, portanto, não trazer a favela das redondezas. A multidão que vi comer no primeiro andar, é toda ela assalariados e empregados modestos que na zona trabalham. Nada a ver contudo, em aspecto e número, com aquela outra que há uns anos via. Lisboa modificou-se tanto e para pior, que dou graças a Deus ter optado por viver perto dela e ainda assim longe para não suportar o peso da sua fealdade e deplorável qualidade de vida. Como costumo dizer hoje só vou à terra onde nasci buscar o resto de bom que por lá se esconde fugindo espavorido a seguir.