Quinta, 7.
Não sai da agenda diária o drama dos
doentes falecidos por abandono no hospital de São José e ainda bem. Constato
que o ministro da Saúde certifica tudo o que venho dizendo aqui ao afirmar que
“este caso em concreto (referia-se ao de David Duarte) e outros casos que estão
ligados à infelicidade de pessoas não pode ser centrado no debate político”. Isto
é, Adalberto Campos Fernandes, não confunde as situações e não arrasta para a
lama o seu anterior colega que, repito uma vez mais, foi dos melhores governantes
do executivo de Passos Coelho. Aliás, se ele não se atirar para os braços
demagógicos do seu primeiro e mantiver a lucidez com que nos tem brindado, ele
e Pedro Marques, são dois nomes a reter como políticos que talvez possamos acreditar
virem a pertencer à futura geração de honrados homens.
- Os médicos são as pessoas mais
conservadoras do mundo. Quando aprendem uma coisa, não querem aprender outra. Palavras
de Sanjin Kaul, director de medicina cardiovascular da Universidade de Saúde e
Ciências do Oragon, Estados Unidos.
- Almocei com o Filipe no Amoreiras. Filipe foi meu criativo e é um ser
original, um bom rapaz que eu sempre estimei. Larguei-o logo depois porque ele
tem horários a cumprir na agência de publicidade onde hoje trabalha com vencimento
de escravo. Estando ali, deambulei pelo centro comercial onde não entrava há um
largo tempo. Anos e anos, vivendo a dois passos, era lá que fazia as minhas
compras, tomava café e lia os jornais, passeava e descansava. Não mudou muito.
À parte o primeiro andar dedicado à restauração que mais parece uma vasta
cantina de operariado, algazarra, comida a granel, fru-fru e salsa a gosto, tudo
o resto conserva o aspecto que sempre lhe conheci, com algumas lojas seniores e
sem rugas a rivalizarem com as recentes na corrida ao cliente distraído e
baldas que aceita sem discutir o que lhe enfiam pelos olhos ou pela boca. A
condicional diferença relativamente a outros centros comerciais como o Colombo
ou Vasco da Gama, reside no facto de o metro ali não chegar e, portanto, não
trazer a favela das redondezas. A multidão que vi comer no primeiro andar, é
toda ela assalariados e empregados modestos que na zona trabalham. Nada a ver
contudo, em aspecto e número, com aquela outra que há uns anos via. Lisboa
modificou-se tanto e para pior, que dou graças a Deus ter optado por viver
perto dela e ainda assim longe para não suportar o peso da sua fealdade e deplorável
qualidade de vida. Como costumo dizer hoje só vou à terra onde nasci buscar o
resto de bom que por lá se esconde fugindo espavorido a seguir.