Sexta, 1 de Janeiro.
Um Ano Novo ou um Novo ano? É a mesma situação do
optimista que vê o copo meio cheio ou meio vazio. Já deixei de juntar as doze
passas da praxe e em cada badalada pedir um sonho ou estabelecer uma promessa.
A vida tornou-se tão banal, tão pouco interessante, tão vulgar em todos os
aspectos que mesmo as tradições estão transformadas numa mentira que a
convicção não admite. Só Deus nunca nos abandona. Tudo o resto está
transfigurando numa litania de cinismo e hipocrisia, mau-gosto e trivialidade. O
reino de toda a sorte de massificação e repetição que muitos tomam por moderno,
não passa de uma fraude à escala planetária. O que resta então? A Arte, a
Poesia, a Música que antigamente foram usadas como arma para denunciar os ditadores
e os opressores, tem ainda a suprema incumbência de desencriptar o que se
esconde sob os discursos tergivesadores.