Sexta,
31.
A
história divulgada no Público pelo jornalista Paulo Pena (chapeau, excelente) sobre a venda pelo Novo Banco de 13 mil imóveis ao preço da chuva, a um
fundo nas Ilhas Caimão, sem que as instituições – Banco de Portugal, Regulador,
Governo e deputados – autorizassem ou conhecessem o negócio, é mais um daqueles
enigmas que querem que embuchemos! É evidente que a operação é legal, embora
seja imoral tendo em conta o que nós já pusemos dos nossos impostos na
instituição bancária. Todos sabem isso, mas para se armarem em sérios e
conquistarem votos, dramatizam, fingem desconhecer, inventam cabalas, quando a
operação foi comunicada e aceite pela CMVM. Que mundo este! Que política esta!
- A desgraça bate-nos à porta. Os
números não mentem nem ajudam a enfeitar a “confiança” dos governantes. Em
Portugal, no segundo trimestre deste ano, o PIB derrapou 14%. Mas não estamos
sós. Os EUA andarão por -33%, a França 16,8%, a Espanha 16,9%, a Itália 15,8% e
passo. Há muitos portugueses a passar fome, os gastos com o coronavírus
descarrilaram e sabe-se lá quanta corrupção não houve à conta da aflição de
António Costa para travar a pandemia. É da ambição dos homens: numa guerra há
sempre uns quantos que fazem fortuna.
- Andava danado com o facto de não
conseguir pôr o corta-relva a funcionar, mais a mais depois do arranjo e
afinação que paguei. Até que esta manhã recebi a visita do Raul. Logo o levei
para junto da máquina e pedi-lhe explicações. Ele, à primeira, fez ouvir o
motor e de seguida uma fumarada saiu do impulsor. “Isto tem óleo? Acho que
sim.” Raul espreita a certificar-se e conclui que na vinheta está no fundo. Toca
de enfiar pela goela abaixo do truc o
líquido. De novo posta em marcha, a fulana desfalece e cala-se. “Isto tem
gasolina 95? Suponho que sim.” Desenrosca a tampa do depósito e exclama: “Mas
isto não tem uma gota! Como assim!”, disparo eu, boquiaberto. Embebeda-se a
sujeita e com ela bem inchada, Raul puxa a corda e a máquina voa das suas mãos para
de uma assentada cortar metade do espaço junto à piscina. “Agora quero eu
experimentar!” Milagre, milagre, o corta-relva desliza ao fim de meses de
birras e num instante terminei a outra parte do relvado. Como é isto possível,
Santo Deus! Dá para perceber? Não dá. Aselha, débil mental, despassarado, e não
te alcunho de nomes piores porque estou a falar de ti, meu grande burro... Como
é possível que vivas isolado, num espaço maravilhoso é certo, sem criadagem nem
recursos, e consigas dizer que és feliz? Mistério.
- Este diário não é só reflexo do seu
autor, é também a radiografia de um tempo, de um povo, de um mundo. Derramadas
nos seus milhares de páginas, estão as alegrias e tristezas dos homens que fizeram
as memórias dos acontecimentos, as narrativas singulares da palpitação dos dias,
com toda a carga vivencial que a loucura humana carrega.
- Custa-me anotar nesta altura
desumana, quando tanta gente sofre ou passa necessidades, mas em nome da
verdade e pensando nela, daria de muito bom grado um pouco do dia feliz que me
coube hoje desfrutar.