terça-feira, julho 28, 2020

Terça, 28.
É a praga estival, a altura em que Portugal inunda com catastróficas imagens as televisões internacionais – os incêndios. Idanha-a-Nova está em brasa, como já estiveram outros milhares de hectares de serra. Um ou outro bombeiro morreu em acidente de trabalho, a maioria parece ter sido fogo posto – o habitual.

         - As mulheres de Zuckerberg quando acordei pelas sete da manhã e abri a janela do quarto, já estavam debruçadas sobre a vinha, no tric-tric facebookiano. Nunca ouve um minuto de silêncio até ao meio-dia, altura em que abalaram atarantadas de calor. Nem elas se calaram um segundo, nem o capataz que falava pelos cotovelos. Estas cegarregas tecem com seu canto as invejas que correm à desgarrada nas ditas redes sociais.  

         - Quando cheguei ao cimo da estação Metro-Chiado, passada a portinhola, antes de subir as intermináveis escalas rolantes, deparo com um rabinho bem feito assomando dos calções leves, que não pude identificar a quem pertencia, estando a personagem de costas a tomar café ao balcão do stand que ali existe. Parei, hipnotizado e a pensar no amor entre sebes, campos de milho, dunas e todos esses sítios solitários que o vento varre de epopeias em consagração das delícias que o corpo em tempo de pandemia sem olvidar aparta. Depois, para sossegar os sentidos em rebuliço, disse: “Que interessa a tentação se não podemos pecar.”  


         - Que bem se esteve hoje na esplanada da Brasileira! Apareceu o Guilherme entre outros com quem estive à conversa até tarde. Ele convidou-me para ir almoçar ao Aqui Há Peixe, perto do Teatro da Trindade. Recusei porque é caro e sempre que lá vou esbarro com ex-ministros e aquelas adendas dos secretários de Estado. É uma clientela barrenta, oleosa de importância, que ele corteja porque vende mais facilmente a sua pintura. Percebo e até aceito, mas não me unto daquela relevância.