Sábado,
11.
Discutia-se
a política de António Costa sendo eu muito crítico. Às tantas, sem argumentos
que contrapusessem os meus juízos, diziam que ele é muito simpático. Respondi
que não era isso que estava em causa, não é com simpatia que se governa, mas
com acção e eficácia. Porque um político – sobretudo estes da nova geração –
são acima de tudo 15% de autenticidade; 55% de mentira e 30% de hipocrisia. Não
governam para o povo, mas para o partido, isto é, os seus interesses.
- Sempre tive dificuldade em entender que
a democracia ponha nas mãos de um só homem plenos poderes como no caso das democracias
presidenciais, ou até do primeiro-ministro. Quando o sistema é parlamentar,
vá-que-não-vá; mas se ele é presidencial como se sai quando na presidência está
uma abécula? Deixo de lado os EUA e concentro-me no Brasil. Bolsonaro, em
período de expansão da Covid-19, acaba de vetar uma lei do Congresso em favor
dos chamados indígenas. Nesse documento ficou lavrado que o Governo Federal
devia fornecer água potável, camas hospitalares, higiene e tudo o que obstasse
a propagação da pandemia. Sendo um povo vulnerável, devia merecer maior atenção
da parte do Estado. O pateta presidente (com minúscula), argumentou que o
projecto legislativo ia contra o “interesse público por criar despesa
obrigatória sem demonstrar o seu impacto orçamentário e financeiro”. É
revoltante! Sobretudo quando a taxa de mortalidade por coronavírus no povo
abandonado é de 9,6, quando no Brasil todo é de 5,6%. Sem falar nos últimos e
alarmantes números: 70 mil mortos; 1 milhão e 800 mil infectados.
- Sempre que encontro um volume da
vasta obra de Aquilino Ribeiro, compro-o. Sobretudo se for daqueles do seu
tempo, com o sinete do autor, forma de não ser roubado pelo editor... Pasmo,
rebolo-me de prazer a lê-lo! Dizia-se no seu tempo que nenhum romance do
criador de O Malhadinhas, devia ser
lido sem o dicionário ao lado. E hoje? Os candidatos a escritores, e mesmo os
que em bicos de pés aspiram ao Nobel, serão eles capazes de perceber este naco
de prosa? “Pela estrada, passavam romeiros de outras terras, misto de pé e de
cavalo, raparigas de xaile dobrado à cabeça, e empoleiradas por cima do xaile
as soquinhas, homens de lódão na mão e registo no chapéu, os ricos e pacatos de
escancha-perna, no seu asno, tep-tep, imagem do João Ratão na facécia dum humorista.
Passavam por golfadas, e as suas vozes na tarde serena repercutiam com um
timbre tão cristalino que nem reflectindo a própria claridade celeste, sem
fimbria de nuvem que a marcasse.” (Volfrâmio, pág. 30, ed. Bertrand).
- A propósito de Aquilino. Outro dia,
estando sem parabólica, liguei a televisão no canal 1. João Soares a quem devo
carradas de generosidade (ele quis editar-me e eu, estúpido, impus exigências
talvez demasiadas. O registo desses tempos está aí algures neste Diário),
estava como comentador no jornal presidido pelo Nobel escritor dos Santos. Falavam
de autores. A dada altura diz o ex-ministro da Cultura: para mim Aquilino foi o
maior escritor do século XX e no século XXI você. Não estou certo se foram
exactamente estas as palavras, mas o sentido é este, nem se o fez por ironia,
não me pareceu. O certo é que aquele que escreve a granel, até ali interpelava-o, agressivo, muda e exibe um ar contente da silva e amocha transformando-se
num boneco de peluche com a cabeça grande dourada. Pobre João Soares que já deu
provas da sua grande capacidade e inteligência, ter-se prestado àquele ridículo!
O enorme escritor nem precisa daquele salamaleque, tendo em conta que usufrui, indevidamente, e sem pagar um tosto da publicidade que o lugar lhe oferece sendo
os espectadores, gostem ou não, vejam ou não aquele olhinho maroto a piscar no
fecho da emissão. Em qualquer país culturalmente evoluído, não são permitidos
aqueles avanços provocadores. Se ao menos o homem nos dissesse ao que vem...
- Calor abrasador. À parte uma ida ao
super, fiquei todo o santo dia resguardado em casa onde o trabalho nunca rareia Pelas quatro e meia natação. Cumprida, de
resto, durante toda a semana, à excepção dos dias que dei um salto a Lisboa. Foi
uma semana em cheio, depois do começo recheado de problemas com a água. Exibo já
uma pele tisnada do campo que faz parar o trânsito onde ele não existe. A perna
que as raparigas modernas ajoelham em adoração, agradece.