Quinta,
2.
O
autocrata Putin acaba de receber por artes que nós conhecemos do tempo de
Salazar, a concordância para se manter no poder até 2036! Nesse ano terá 83
anos e será o dirigente que mais tempo governou com rédeas apertadas o país. Josef
Estaline ficou-se pelos 26 anos.
- Regressar a mim, trancar-me na
concha de intimidade que redimensiona e reinventa o equilíbrio, o desejo
absoluto de silêncio, de escutar a voz que nos segreda o que não ousamos pedir
aos deuses e prosseguir, hirto, como se não houvesse obstáculos e os dias se
abrissem à tona dos céus inacessíveis. É pedir muito? É. Então, cala-te. Embrulha-te
em ti próprio e deixa o tempo incendiar de luz a memória das horas adornadas no
logro do passado.
- Andou aí um técnico a manhã inteira
a subir e a descer ao telhado. Veio de Santarém de propósito e custou-me mais
barato que os “técnicos” que por aqui proliferam. Da parabólica saiu um fio
pelo interior da parede directamente para o lixo e entrou outro para seu lugar.
Acertados os parâmetros de captação de imagem e som, eis que volto a ver os
telejornais que duram apenas meia hora e me dão o essencial dos horrores do
mundo, sem ter que gramar aquele que me pisca o olho não me conhecendo de lado
nenhum nem eu gostar de homens de avanços acessíveis; aquele outro que,
emproado, vomita as notícias untadas de sangue; ou ainda aquela outra
ensandecida pela juventude que derrama do cálice a idade disfarçada.
- Nunca nada está duradouro por muito
tempo. Nos tempos modernos, cada um à sua maneira, vive atormentado por
pequenas-grandes coisas, a maioria insignificâncias que nos chagam a paciência.
Se o acesso ao mundo rasgado nas páginas do ecrã ficou resolvido, logo se
instalou outra preocupação na forma líquida. Há uma semana que tenho em
formação diária o lençol de espuma que a foto documenta. A água está
claríssima, mas não posso nadar sem o perigo de apanhar alguma bactéria. Levei
a foto ao “técnico” com loja aberta há anos mas, como era de prever sendo
português, ele respondeu-me que nunca tinha visto nada assim e ia saber a razão
junto de alguém que soubesse mais do que ele. Bref.
- Ouço o vento que varre o silêncio e
a tarde reconstitui-se-me em esperança. Silêncio abraça-me nesta hora do teu
reino. Preciso tanto do teu amplexo...
- Terminei o livro do Tordo. Mas hoje
não estou com paciência para o analisar. Preciso de espaço até porque não
desejo melindrar o autor se por hipótese ele deitar uma breve espreitadela a
esta página – não desejo nem ele merece.