segunda-feira, julho 20, 2020

Segunda, 20.
De Bruxelas não vêm os sacos carregados de euros. Sempre foi filosofia dos ricos, aferrolhar o mais possível e ir dando a pouco e pouco uma esmola para que Deus Nosso Senhor os deixe passar pelo buraco da agulha celestial. Há quatro dias que estão 27 almas e contar patacos, a esgrimir contas, a abespinhar-se porque na Europa do dinheiro que eles construíram não cabem os povos que são um estorvo e os obrigam a abrir os cordões à bolsa. Sobretudo os miseráveis do Sul, gastadores e ainda por cima onde impera um ou outro partido comunista. De modo que, tomem lá menos 100 mil milhões seus pedinchões e gastem com frugalidade. Ficaremos de olho no nosso querido dinheiro.

         - Estive à conversa com o Carlos Soares e a Teresa Magalhães na Brasileira. Dois artistas diferentes em tudo até na forma de estar na vida e na arte. Um sobrevive com as recordações do passado; outro com a glória incerta do futuro. Ambos são portugueses e não têm a noção do país onde vivem.

          - No metro esta manhã entram duas africanas. Vêm de mascara e viseira e abancam no lado oposto onde eu vou sentado. Uma delas saca da mala um frasco grande e pôs-se a limpar o seu lugar com o esmero das criadas de antigamente não cuidando de igual modo o da companheira.


         - O calor abrandou um pouco. Agradeço aos leitores, nomeadamente, ao Virgílio Domingues, espécie de rainha de Inglaterra, que não telefona aos seus súbditos e pela primeira vez me telefonou a mim, inquieto como os demais com o meu estado de saúde. A par do meu obrigado, que foi um desabafo próprio de diarista – de contrário isto não seria um diário, mas uma criação literária simples –, terei de futuro cuidado em não anotar casos semelhantes para não causar preocupação a ninguém. Adianto, contudo, que ontem, à primeira toma de corticoides que fiz acompanhar de um Ben-u-ron, meia hora depois as dores desapareceram, o caroço que não me deixava vergar a perna que os rapazes garbosos e homens de meia-idade se curvam de inveja ou em comparação com as suas que não atingem a força muscular e a magnitude desta que se suporta a si e mais à outra que só o olhar das moçoilas entrevê através dos sentimentos maternais e concomitantemente sensuais, implodiu e o joelho voltou ao seu estado normal. Não foi magia, é o resultado de eu não tomar absolutamente nenhum medicamento.