Segunda, 20.
De
Bruxelas não vêm os sacos carregados de euros. Sempre foi filosofia dos ricos, aferrolhar
o mais possível e ir dando a pouco e pouco uma esmola para que Deus Nosso
Senhor os deixe passar pelo buraco da agulha celestial. Há quatro dias que estão
27 almas e contar patacos, a esgrimir contas, a abespinhar-se porque na Europa
do dinheiro que eles construíram não cabem os povos que são um estorvo e os
obrigam a abrir os cordões à bolsa. Sobretudo os miseráveis do Sul, gastadores
e ainda por cima onde impera um ou outro partido comunista. De modo que, tomem
lá menos 100 mil milhões seus pedinchões e gastem com frugalidade. Ficaremos de
olho no nosso querido dinheiro.
- Estive à conversa com o Carlos
Soares e a Teresa Magalhães na Brasileira. Dois artistas diferentes em tudo até
na forma de estar na vida e na arte. Um sobrevive com as recordações do
passado; outro com a glória incerta do futuro. Ambos são portugueses e não têm
a noção do país onde vivem.
- No metro esta manhã entram duas
africanas. Vêm de mascara e viseira e abancam no lado oposto onde eu vou
sentado. Uma delas saca da mala um frasco grande e pôs-se a limpar o seu lugar
com o esmero das criadas de antigamente não cuidando de igual modo o da
companheira.
- O calor abrandou um pouco. Agradeço
aos leitores, nomeadamente, ao Virgílio Domingues, espécie de rainha de Inglaterra,
que não telefona aos seus súbditos e pela primeira vez me telefonou a mim, inquieto
como os demais com o meu estado de saúde. A par do meu obrigado, que foi um
desabafo próprio de diarista – de contrário isto não seria um diário, mas uma
criação literária simples –, terei de futuro cuidado em não anotar casos
semelhantes para não causar preocupação a ninguém. Adianto, contudo, que ontem, à
primeira toma de corticoides que fiz acompanhar de um Ben-u-ron, meia hora
depois as dores desapareceram, o caroço que não me deixava vergar a perna que
os rapazes garbosos e homens de meia-idade se curvam de inveja ou em comparação
com as suas que não atingem a força muscular e a magnitude desta que se suporta
a si e mais à outra que só o olhar das moçoilas entrevê através dos sentimentos
maternais e concomitantemente sensuais, implodiu e o joelho voltou ao seu
estado normal. Não foi magia, é o resultado de eu não tomar absolutamente
nenhum medicamento.