segunda-feira, outubro 31, 2022

Segunda, 31.

Dizem os jornais que há milionários que se instaram neste oásis de desordem fiscal, e auferiram a tal esmola de 125 euros! Parece que nenhum recusou. 

         - Em compensação a vergonha de haver portugueses que por necessidade assaltam os camiões de distribuição de alimentos, porque o que ganham não chega para saciar a fome. No tempo da troika e da austeridade, nunca isto aconteceu. 

         - Prossegue o folhetim dos contratos feitos por certos autarcas que deram a ganhar milhares aos apaniguados e guardaram outro tanto. Chamemos-lhes contratos. Na realidade aquilo são autênticos saques ao erário público. Continuem com a ideia da regionalização e verão onde isto vai parar. 

         - Pesei-me: 64,7 contra os 63,1 habituais. Vou ter que me ocupar deste desastre. 

         - Ontem, depois da missa em Setúbal, regressado a casa, meti as mãos na massa e confeccionei para arquivo um prato de frango (perdão, os ricos dizem poulet), com batatinhas pequenas, chalotas e pedaços de marmelo. Uma delicia! Aconselho. Recolhi o resto das romãs. Como são tantas, como-as todos os dias em salada e sumo. Não é bela a vida?

         - Embora os dias passem à velocidade lenta da memória, o meu cérebro vive em permanente transumância. Penso muito em Virginia Woolf que se suicidou por não poder enfrentar os demónios que lhe obstruíam a mente. Na minha cabeça, sem descanso, atravessam-se factos, histórias (reais ou inventadas), cenas, episódios recriados que me isolam mesmo no meio das pessoas ou quando estou com amigos, ou como ontem durante a missa, me ausentei para recriar casos que no meu espírito vão acontecer e merecem antecipadamente ser estratificados. Quando acordo, tenho bem presente na minha mente uma qualquer história que decerto surgiu durante o sono e transitou de imediato para o momento em que abro os olhos e fico naquele átrio antes de a penumbra se abrir em luz e o dia banhar a realidade O curioso é que toda esta actividade mental, nada tem a ver com o romance porque esse constrói-se sentado á minha mesa de trabalho empurrado pelas personagens que se vão sucedendo. No Fertagus dou comigo a despir meio mundo. Quando vejo certos corpos, feios ou bonitos, imagino-os na cama a copular, a fazer coisas indecentes que apesar de para mim serem inconcebíveis, merecem ser recriadas. Toda esta actividade esgota-me, desmoraliza-me, e nem para passatempo serve. Porque não me fixo em nenhuma delas, voando por cima das imagens, acreditando que passei um bom ou mau bocado a encher os espaços da massa cinzenta da minha triste cachimónia. Uma estafadela. 


sábado, outubro 29, 2022

Sábado, 29.

Durante muitas décadas não soube como o Outono se alojava aqui. Passava do clima ameno bruscamente para o Inverno rigoroso de Paris e deixava para trás as laranjeiras cobertas de fruto, o medronheiro enfeitado de bolas vermelhas, as romãs a querer abrir, os marmelos quase prontos para se comerem, a chuva e o sol que se hospedavam por estas paragens sem que eu tivesse a mínima noção de como caía uma e outro brilhava. É por isso enternecedor poder todos os dias apanhar uma taça de medronhos, recolher as romãs e os marmelos e saborear nesta altura as primeiras tangerinas. Glória ao Criador! E já agora ao destino que me permitiu conhecer o anterior proprietário deste espaço, que me ensinou uma boa parte do sei hoje sobre o campo de mil encantos, onde se encobre o silêncio divino que só a poucos se dá a conhecer.  

         - O Governo decidiu aumentar a contribuição do Estado aos partidos em mais 8% de forma a que estes não sofram com a inflação, situando agora o montante global em 17 milhões de euros. É vergonhoso, mas é normal: os partidos estão acima do Estado, das famílias, e não contam para a miséria que invadiu 50% dos portugueses - estes que lixem. 

         - António Barreto na sua habitual crónica de sábado no Público, diz que António Costa é um político inteligente, para de seguida desferir uma machadada que o abre de cima a baixo. Eu penso que ele é antes aquilo a que se chama um chico-esperto. Portugal não evoluiu nada ao fim de sete anos sob a sua batuta. Pelo contrário, está mais pobre, o SNS desmantelado, o desenvolvimento parado, a Justiça não serve os pobres, o coro de corrupção na classe política é assustador, o índice de pobreza cresceu desgraçadamente, a desigualdade também, o caudal de emigração nem se fala, a propaganda foi a única coisa que soube habilmente fazer, a par da mentira, do exercício governativo montado no efémero, no imediato, nas urgências do curto prazo, tudo sem plano, sem estruturação, lançado para encher o olho e atenuar a miséria que se contenta com dez reis de mel coado. 

         - Príncipe telefonou-me a perguntar se tinha visto o programa consagrado a Viagem a Portugal de Saramago. Como não sou adepto das nossas tristes televisões, fui deitar o olho e uns minutos depois suspirei: “Que horror! Pobre Saramago, transformado num pateta que ele nunca foi!” Não quero exagerar, mas raramente me entusiasmo com a vulgaridade brasileira , o seu trolaró que tanto atrai o espectador português. 

         - Tempo cinzento, tempo de recordações enterradas em terra de ninguém. 


sexta-feira, outubro 28, 2022

Sexta, 28.

Enxotei o Verão do terraço há duas semanas e ainda não acomodei o Outono. Tenho este e o Inverno protegidos por abundante quantidade de lenha e duas botijas de gás em reserva. Ainda bem que pensei antecipadamente no meu conforto, porque consta-me estão a vender a tonelada de lenha a 200 euros, quando o ano passado estava a 120 e há sete anos eu a comprava a 90 euros. A  ganância é apanágio do português.  

         - A moda dos idiotas que lutam pelo Planeta atacando as obras de arte expostas nos museus, devia ser condenada por criminosa.  

         - A Polícia Judiciária trouxe mais uma resma de socialistas e aquele que já esteve preso e dirige a Câmara de Oeiras, e ainda uns quantos autarcas dos municípios de Mafra e Odivelas e deputados para a ribalta da nossa descrença na classe política. O João Corregedor não gosta que eu trivialize “a classe política”, mas eu replico que as excepções são tão poucas que, quando referidas, merecem revelo e consideração e engrandecimento. Neste país quase não há ladrões à moda antiga – vieram para ficar e dar trabalho aos tribunais a leva de corruptos que nos governam. 

O pároco ouve em confissão o sacristão. 


quinta-feira, outubro 27, 2022

Quinta, 27.

Aqui nem “uma agulha bulia na quieta melancolia dos pinheiros do caminho”. Estranhamente, como a apalpar terreno incerto, entrei no romance. Não propriamente para avançar, mas para terminar as correcções até à página 40. Regozijei. Eu que há tanto tempo ando de costas voltadas à impregnação do meu viver, desviado dele por múltiplas razões apartadas da única realidade que me sustem e confere equidade ao meu existir.

         - Todavia, felizmente, o amor à leitura não esmorece, a curiosidade está intacta e a entrega ao trabalho no silêncio das tardes e das noites é actividade diária. A ela consagro pelo menos ao todo umas três horas. Sem o mergulho na filosofia, na teologia e agora no quotidiano amoroso de Virginia e Vita, cujas cartas leio deliciado não tanto pela troca de sensações lésbicas, mas pela avalanche de sentimentos que duas escritoras notáveis transportam de um coração para o outro. Não vem à tona os momentos íntimos, não estamos ainda na vulgaridade literária dos nossos dias, que autores os usam como roleta mágica de encher o olho aos leitores, a propósito e, sobretudo, a despropósito; pelo contrário, entre elas, difunde-se um certo resguardo, uma pudícia nos interstícios dos desejos reservados aos momentos íntimos e aos sopros que à distância enfunam e dão consistência à relação. Por vezes, dou comigo a pensar em Julien Green, em Paris, nos anos desvairados entre as duas grandes guerras. Que diferença na vivência do corpo! Green era sexual, carnal, possessivo, utilizava e abusava das suas vítimas; Virginia é sentimental, cerebral, submissa, terna ante aquela máquina devoradora que é Vita Sackville-West ou antes Orlando. Pouco se sabe do pensam os respectivos maridos. Raramente são mencionados e, no caso de Vita, os filhos espreitam pela nesga da página e desaparecem. Como se antes de tudo e de todos, a liberdade ganhasse os corações e fosse o grão que dá alento ao consentimento da felicidade que em certas pessoas não se confina a padrões sociais e religiosos. Porque não é só o corpo que a reclama, é a imanência do ser enquanto construção inacabada do todo.  

         - Trouxe aqui outro dia uma missiva de Vita, dou a conhecer agora uma de Virginia numa altura em que a relação entre ambas rasgou os espaços sociais para se estabelecer na fragilidade amorosa que norteia o casal, este ou qualquer outro. Dou, contudo, primeiro a palavra a Vita:

Ia para Sevenoaks, para ir buscar os rapazes (os filhos), quando vi a bicicleta encarnada do carteiro encostada à caixa do correio da aldeia, perguntei: “Há cartas para Long Barn?” Havia. Entre elas um envelope escrito à máquina que continha uma carta tua. Senti-me enrubescer de raiva ao lê-la. Não estou a exagerar. Desconhecia que era tão ciosa de ti. Quem é o teu maldito homem de nariz aquilino? Ouve bem, eu importo-me mesmo. Mas, se é esse o caso, tenho na minha mesa uma carta do mesmo género – à qual ainda não respondi. O tipo de resposta que darei depende de ti. Olha que não estou a brincar. Se não fores prudente, envolves-me numa relação que me aborrecerá terrivelmente. Por outro lado, se te portares bem, mando às urtigas quem me escreveu. Mas não permito que façam pouco de mim. Falo a sério.”

A resposta à ciumenta, vem mais tarde na escrita telegráfica de Virginia:

Posso ir no sábado passar a noite contigo? – parece-me ser a única possibilidade. Responde-me... Dirias que gostas de mim, se eu te telefonasse a perguntar?

Se nos víssemos, beijavas-me? Se eu estivesse na cama, tu ...

Esta noite estou muito excitada com Orlando: tenho estado junto à lareira a escrever o último capítulo. (Romance baseado na relação entre as duas.) 

         - Não devia conspurcar estas páginas com o anúncio e prisão de mais um honesto socialista pela PJ Sr. Orlando Costa, presidente da Câmara de Montalegre. Ele e mais outros capangas estão indiciados pela prática de crimes de associação criminosa, recebimento indevido de vantagem, falsificação de documentos, abuso de poder e participação económica em negócio (ufa! Até me doem os dedos! O homem esgotou o dicionário dos crimes!). E ainda a missa vai no adro. O que nos esperará quando os senhores do partido que o povo deu a maioria, deixarem o poder! 


quarta-feira, outubro 26, 2022

Quarta, 26.

Costa dixit: "Este é um orçamento que garante mais rendimentos e menos impostos sobre as famílias." Mentira.

Costa fixa objectivos até 2026: crescer acima da média da UE e dívida abaixo de 100%. Intrujice. 

         - A solidão é mais forte que nós e mais purificadora. 


terça-feira, outubro 25, 2022

Terça, 25.

A Ucrânia já tinha problemas de sobra e não necessitava de mais este: o governador do banco central está a ser procurado por suspeita de desvio de mais de 200 milhões de hryvnias cerca de 5,51 milhões de euros. O país sempre foi afeito à grande corrupção, mas um tal montante deve ser único. 

         - Forma de falar de António Costa que, de resto, é campeão no uso e abuso do português de bidonville. Esta é a mais recente. Falando de um adversário: ele “diz não importa o quê”. O seu ex-camarada José Sócrates que, depois de ter deixado o poder foi para Paris aprender francês e a tocar piano, não chegou a tanto. Apetece-me acrescentar: n´importe quoi

         - Ontem, pelas dez da manhã, encontrei-me no pequeno café da livraria Bertrand com o João, Virgílio e Luísa. O motivo da reunião, prendeu-se com o interesse que o João e eu temos em adquirir um trabalho do nosso consagrado artista. O enredo é complicado e envolve várias personagens entre elas um brocante dos arredores de Sintra onde contou ir com os meus amigos de hoje a oito dias. Ali estivemos em amena e confortável cavaqueira até à chegada, como sempre galopante, da fome que ataca o nosso camarada impreterivelmente ao meio-dia. Na urgência que se aloja, debandámos. Desci o Chiado na companhia do Corregedor para tomarmos o metro directo para o Vitta Roma onde amesendámos na esplanada. Engolida a refeição, trocámos vivências até às quatro e meia da tarde sobre as inúmeras viagens que ele fez enquanto deputado e eu solitário ou em companhia por este mundo fora. Sem a política que nos divide e o diminui, João é um simpático e agradável interlocutor. 

         - Quando descíamos a Rua Garret, eu dirigi-me a um sacerdote muito jovem (nem 30 anos teria) que subia vestido com o hábito escuro e o clérgima com o quadrado impecável. Disse-lhe que era a primeira vez que via um padre vestido a rigor distinguindo-se assim dos demais. Ele respondeu que os sacerdotes modernos optaram por voltar a usar a veste da ordem ou congregação a que pertencem. Elogiei a opção e disse-lhe que em Roma e Assis vi centenas de seminaristas, padres e frades menores assim trajados pelas ruas e praças. E adiantei que esse péssimo hábito de os clérigos se quererem misturar disfarçados na multidão, era um gesto hediondo contra os princípios e a opção de vida que fizeram, “é distintos em tudo e até na forma de se apresentarem que fazem a diferença e melhor são vistos pelos autênticos cristãos“, afirmei. Deu-me razão e à despedida abençoou-se. (O agnóstico João assistia mudo à conversa.)  

         - Boris Johnson, apesar de ter uma boa parte dos parlamentares do seu lado, decidiu não se candidatar de novo ao cargo de primeiro-ministro. Fez bem. Para o seu lugar, foi indigitado o multimilionário e seu ex-ministro das Finanças, Rish Sunak. A ver vamos o que vai fazer o ricaço (dizem que o casal é mais rico do que o rei) de bom para os pobres. Tenho muitas dúvidas. Para ele ter a fortuna que possui, milhares de pobres à sua volta vivem sem dignidade. 


domingo, outubro 23, 2022

Domingo, 23.

A miséria socialista que transformou o país em 50 por cento de pobres, é bem visível na quantidade de gente que se dedica por necessidade ao pequeno roubo. Famílias inteiras abastecem-se nos supermercados furtando latas de atum, cereais, bolachas e assim. O chefe de Estado, que tem estado calado a ver aumentar a pobreza, decidiu falar e chamar o Governo à responsabilidade. Não serve de nada, mas todos acomodam as suas delirantes consciências ao sabor da palavra vadia. 

         - Outro retrato da governação António Costa e imagem do país que somos. Em Coimbra, ainda no tempo que por lá andei, lembro-me de um edifício vetusto, feio de fachada, metido nos espaços estreitos da cidade, conhecido por Palácio dos Grilos. É ali que vai ser instalada a unidade dita de Entidade da Transparência, criada pelo Governo em 2019. Entretanto, os anos foram passado, e nada surgiu que se visse do empenho de primeiro-ministro em submeter os seus ministros e homens do partido à Justiça. A começar por uns quantos que, servindo-se da sociedade de advogados Linklaters do seu ex-ministro de Estado e Economia, Pedro Siza Vieira, a utilizaram para se defenderem das suspeitas de envolvimento em vários contratos de prestação de serviços por ajuste directo. Assim, o primeiro ajuste directo feito pela autarquia de Lisboa ainda no tempo de António Costa presidente da câmara, foi de 86.100 euros; seguiu-se outro contrato através da Linklaters no valor de 147.600 euros; veio depois outro negócio no montante de 86 mil euros contratado pela autarquia para representação num tribunal arbitral relacionado com o Parque Mayer, este já com Medina; ao todo foram seis ajustes directos que custaram em honorários de advogados 500 mil euros. No total, a Câmara de Lisboa (oito contratos) e a EPUL (dois contratos) gastaram entre Maio de 2013 e fim de 2016, 880 mil euros em serviços da dita agência de advogados. Fernando Medina, diz que está de consciência tranquila. Como sempre, beatifico sacristão.    

         - Até onde chega o fanatismo. Soube-se agora que o escritor Salman Rushdie atacado barbaramente em Agosto no estado de Nova Iorque quando se preparava para falar sobre a liberdade artística, perdeu um olho e não pode usar uma das mãos! 

         - Ontem passei horas na cozinha. Eu explico. Tinha apanhado ao longo da semana duas grandes tigelas de medronhos para fazer compota ou confiture como diz a Annie. Desejando evitar os pequenos grãos que são desagradáveis aos dentes e aos implantes que são dentes hollywoodescos, cozi o quilo e meio do fruto e passei-o pela rede do crivo. Excedi uma hora nesta operação. No final confrontei-me com o fundo do tacho de cobre vazio e a malga cheia de grainha. Disse para mim mesmo que não podia perder aquela parte do fruto e encontrei uma saída: passá-lo pelo centrifugador seguindo o princípio que aqui nada se perde tudo se transforma. O resultado foi satisfatório e encheu três frascos. 


sábado, outubro 22, 2022

Sábado, 22.

Ontem voltei ao Dr. Cambeta (e não Gambeta como todos os seus pacientes o tratam vá-se-lá-saber-porquê). Eu só agora soube o seu verdadeiro nome, pese embora o facto de há trinta anos o tratar indevidamente sem que ele me corrigisse. Bom. No seu consultório estava também o operador, Dr. Diogo, e ambos observaram a obra de arte que produziram; os pontos foram cortados e tudo ficou pronto para receber nova prótese que me assenta muito bem. Não é ainda a definitiva; esta só lá para daqui a seis meses.  

         - A senhora Truss apresentou a demissão e foi prontamente posta na prateleira por incompetente. Eu previ isso (ver segunda-feira, 17) não porque seja conhecedor ou comentador político, mas porque observo, leio, sou curioso e independente. Também prevejo há semanas o regresso de Boris Johnson. Isso sou eu na minha pequenez. Os nossos inteligentíssimos jornalistas, que agem segundo a cabeça do patrão, dos interesses de classe, partidários e outros, preferem pensar em manada, dá menos trabalho e é popular. Ser crítico é enfrentar a realidade – e eles têm medo disso. A propósito também espero vir a ter razão no que afirmo sobre Putin (ver quinta-feira, 20). Seja como for, o bloco ideológico já está a malhar no ex-primeiro-ministro britânico. São uns pobres coitados que preferem aprender no Google a queimar as pestanas no estudo atento da realidade, melhor dizendo das realidades. 

         - Passar na Fnac é entrar no mundo inquietante das tentações. Acontece que nesta altura saiu uma caterva de livros que me interessam muito. Se bem os contei, são para cima de uma dúzia, num valor aproximado de 200 euros. Trava aí. Este mês e o próximo estão consignados à avidez do Estado. Qualquer português devia saber que os dois últimos meses do ano são de trabalho forçado não pago.    

         - Chove sem interrupção. Prometem-nos chuva abundante durante toda a próxima semana. Mas já há quem reclame, julgo que são os citadinos tontos e egoístas. Eles estão-se nas tintas para as barragens secas, os cursos de água inexistentes, as terras gretadas da falta dela, as árvores como seres sofredores. 


quinta-feira, outubro 20, 2022

Quinta, 20.

Putin entrou numa fase desesperada, sente que o falhanço da vitória em poucas semanas é uma miragem e um pesadelo. Daí que se multiplique em invectivas de pouco ou nenhum resultado como, por exemplo, a imposição da lei marcial nos territórios que açambarcou à Ucrânia; para além da restrição de liberdade de circulação em várias regiões paredes-meias com o país invadido. Não deve tardar muito que algum amigalhaço o assassine. Todas as suas táticas de guerra, estão por terra e nem o Inverno o salvará porque a União Europeia tem à frente uma mulher d´armas. 

         - É significativo. O contentamento do pároco e do sacristão com o bodo de 125 euros distribuído democraticamente pelo bom povo português. Esse gesto não apaga a miséria, a humilhação, a pelintrice em que Portugal vive há 50 anos e nenhum partido conseguiu dignificar, levantar dos escombros da ditadura, e levá-lo a equiparar-se, pelo menos, à vizinha Espanha. Este aceno propagandista que traz o Governo na ribalta medíocre das televisões, é um insulto à honorabilidade de um povo que sempre lutou unicamente pela sobrevivência. O povo, infelizmente, contenta-se com pouco porque do pouco faz muito. 

         - O magnífico guardião da nossa língua que é o jornalista Nuno Pacheco, saiu-se hoje no Público com esta fatia de prosa de um refinado e incisivo humor: “Pode parecer estranho, mas a Associação de Professores de Português resolveu acordar para um magno problema: o das variedades da língua e o seu impacto nas escolas. Seria mais adequado chamar-lhes variantes, embora neste caso a palavra variedades se ajuste melhor aos indecorosos espectáculos a que temos sido forçados a assistir, em nome do idioma. “ Toma e embrulha. Recordo que noutra altura ele veio a terreiro explicar aos ignorantes que se pavoneiam pelos canais de televisão, a diferença entre resiliência e resistência.  

         - O desplante do Banco de Fomento, todo contente com o lucro de 23 milhões, como se fosse um banco comercial à moda dos outros, quando empresários, cientistas, exportadores e a actividade industrial em geral espera e desespera pelos apoios anunciados que não há meio de saírem do papel. Este é mais um retrato do país que somos e como somos governados. 


quarta-feira, outubro 19, 2022

Quarta, 19.

Os chineses posicionam-se, a ganância económica ajeita-se. Assim Pequim namora pilotos da Royal Air Force britânica assediando-os com propostas tentadoras como no passado fizeram à França com o TGV, de forma a obter segredos técnicos e saber científico que eles não possuem, a que acresce no caso do Reino Unido informação confidencial da RAF. Entretanto, foram recrutados 30 pilotos para dar formação a pilotos da República Popular(?) da China. O Reino Unido diz que esta manobra é uma “ameaça aos interesses do país e do Ocidente”. A seguir.   

         - Assim se vai desmoronando o baralho de cartas da mentira e da propaganda barata do Governo. Anunciaram com pompa e circunstância o OE, mas, paulatinamente, vamos sabendo que os dinheiros ficam capturados, a burocracia fabricada expressamente para adiar os programas financeiros, as famílias aflitas, as empresas a fechar, o quadro geral de depressão a acomodar-se. Não tem muitos dias que o pároco e o sacristão apregoavam que dinheiro não faltava nos cofres do Estado; agora o discurso virou e a massa leiloada é afinal uns trocos que confirma o velho ditado: “Onde não há pão...”  

         - Depois de um para mim longo interregno, esta semana voltei ao romance. Estou a acabar de rever as primeiras 100 páginas e nelas encontrou de tudo um pouco: muita palha inútil, desarrumação gramatical, palavras repetidas, períodos demasiado extensos, algum desconexo e por fim, felizmente, muitos excertos impregnados de luz, criação e beleza. 

         - Tenho hesitado em expor aqui a carta de Vita endereçada a Virginia numa altura em que as duas ainda não tinham ido para a cama e a paixão entre elas crescia desordenada. Na década Vinte do século passado, na Inglaterra ainda mergulhada na herança puritana da rainha Vitória (que, por sinal, foi um pouco libertina, mas xiu!), quando, por exemplo, em França a liberdade sexual conhecia já uma dinâmica exponencial, que o diga Julien Green e Gide e Cocteau e Montherland e Lacretelle e Jouhandeau e Gertrude Stein e tantos outros, a relação entre as duas escritoras era, como direi, romântica, suave, a apalpar terreno, feita de pequenos avanços seguidos de recuos, longos estados de alma que deslizavam em apuros sentimentais, desejos carnais, ensaios doces que a literatura aconchegava, à sombra dos respectivos maridos. Decorria o mês de Janeiro do ano 1926 e a 21 desse mês, a aristocrata Vita Sackville-West está em Trieste numa das suas numerosas viagens, as saudades da escritora apertando:

Estou reduzida a uma coisa que deseja Virginia. Compus uma linda carta para ti nas nocturnas horas insones, de pesadelo, e desapareceu por completo: acontece que sinto a tua falta de maneira muito simples, humana, desesperada. Tu, com todas as tuas cartas não-mudas, nunca escreverias uma frase tão elementar como esta; talvez nem sequer o sentisses. No entanto, creio que serás sensível a um pequeno vazio. Mas revesti-lo-ias com uma frase tão refinada que ele perderia um pouco da sua realidade. Ao passo que comigo é perfeitamente claro: sinto a tua falta ainda mais do que podia crer; e estava preparada para que fosse muito. Por isso esta carta é simplesmente um verdadeiro grito de dor. É incrível como te tornaste tão essencial para mim. Suponho que estejas habituada a que as pessoas digam estas coisas. Maldita sejas, criatura mimada; não conseguirei fazer com que me ames mais expondo os meus sentimentos deste modo... Mas, oh, minha querida, eu não sou capaz de ser inteligente e reservada contigo: amo-te demasiado para isso. Com demasiada realidade. Não fazes ideia de como eu consigo ser reservada com as pessoas que não amo. Fiz disso uma arte refinada. Mas tu derrubastes as minhas defesas. E eu não levo isso a mal. Porém não te vou maçar com mais nada. A escritora vai de viagem e no final daquele dia e daquela carta, remata: Vamos partir de novo. Terei de esperar até Trieste, amanhã de manhã. Por favor, perdoa-me por escrever uma carta tão lastimosa. Ante isto: silêncio. Que o perfume do ar purifique as palavras e dê sentido ao amor. 

         - Chove. Choveu todo o dia chuva tangida pelas sombras da noite.  


terça-feira, outubro 18, 2022

Terça, 18.

Portugal vive à boleia de todos os desastres. O último que os políticos estão prontos a cavalgar é a semana de quatro dias de trabalho. Os partidos que disserem hoje que concordam, podem ter a certeza que obtêm votos imerecidos que os colocarão no topo da sorte grande do poder. Os sindicatos mais afoitos e conhecendo melhor o que a casa gasta, já disseram que aceitam os quatro dias de barriga ao sol e até os louvam, mas com a condição de não haver redução de salários. Aqui têm o quadro do país que somos. Sirvo-me de Beaudelaire: “L´épouvantable inutilité d´expliquer quoi que ce soit à qui que ce soit.”

         - Noites seguidas de delírios sexuais. Eu pensava que estava, enfim, afastado de tais confrontos, eis que uma enfiada de sonhos trouxeram-me o desassossego dos meus vinte anos. À mon age cruel destin!

         - Continuo com a leitura das cartas de Virginia Woolf e Vita Sackville-West, mas no que penso e gostaria de continuar a cogitar, é porque razão a filosofia de Aristóteles é ao mesmo tempo uma filosofia da imanência e da transcendência. Tenho pensado muito sobre o assunto, mas preciso de construir as bases que me levem à descoberta. E quanto mais sei, mais concordo com Sócrates quando afirma: “Eu só sei que nada sei.” 

         - Vou a Lisboa mostrar a pilha de exames anuais à minha médica de família (é assim que se diz?). Até onde os meus conhecimentos chegam, diria que são os resultados de um miúdo virgem sem vícios nem tentações. Só tenho uma única pergunta a fazer à Dra. Lúcia Martins: por que razão fecho o olho direito quando escrevo no computador? 


segunda-feira, outubro 17, 2022

Segunda, 17.

Pobres e medíocres políticos que julgam possuir o poder e nem se dão conta que são marionetas nas nãos dos mercados, quero dizer, do grande capital. Que o diga o Reino Unido. A senhorita Liz Truss, com dias no posto de Boris Johnson, não tarda vai à vida. Demitiu o ministro das Finanças e este que pegou no posto de Jeremy Hunt, acaba de fazer o oposto do colega: desfez a redução de impostos e reduziu de 45% para 40% o imposto sobre as grandes fortunas - o mercado financeiro reagiu e a libra cresceu uns pontos. Até quando têm os pobres de suportar estas fantasias e ganâncias? 

         - Os pobres aumentaram nos últimos anos com os socialistas no poder. Os dados da Pordata acabados de sair (hoje, dizem eles, é o Dia Internacional da Pobreza), dão conta que durante o reinado das esquerdas unidas e nestes últimos dois anos de governação socialista, o fosso alargou e não só por causa da covid-19 e da guerra, mas porque nenhum partido se interessou por reduzir este cancro nacional que os devia envergonhar. O número de pessoas em risco de pobreza ou de exclusão social aumentou 12,5% em 2020 comparativamente a 2019. Os ricos estão mais ricos e os pobres mais pobres. Somos o segundo país da UE com mais pessoas a viver em más condições. "Portugal desviou-se da trajetória de redução da pobreza que vinha a fazer desde 2014”, diz o relatório. E acrescenta: “Sem os apoios sociais, 4,4 milhões são pobres ou têm rendimentos abaixo do limiar da pobreza [554 euros mensais], o que passa para 1,9 milhões após as transferências sociais." Este é o retrato de Marcelo/Costa, esta é desfeita à propaganda que tem inundado o país e as consciências dos incrédulos. 

         - O Irão está a ferro e fogo. Desde que mataram uma jovem por não usar o véu como eles acham que deve ser usado, a juventude não pára a revolta que está já descontrolada e é de louvar. Gritam pela liberdade, enfrentam a ditadura por ela e por eles. Pelo seu futuro e pelo da sua pátria. Os mortos chegam a perto de 200. O que se passa não vem da clique despótica que detém o poder, vem dos americanos, dizem. 

         - Recuso-me a falar das eleições no Brasil. Repito: entre um e outro o diabo que escolha. Nem um nem outro têm qualidades humanas e intelectuais, seriedade e rigor – só lhes interessa o poder pelo poder. Comungo dos jovens brasileiros que dizem querer deixar o país descrentes dos políticos: 76% segundo uma sondagem do instituto Datafolha. 


domingo, outubro 16, 2022

Domingo, 16.

Belo e agradável e inopinado dia o de ontem. Fui ao encontro do João Corregedor no intuito de ver umas esculturas do nosso amigo Virgílio Domingues que tanto ele como eu gostaríamos de adquirir. Para tanto João veio ao meu encontro à saída do fertagus e da Av. de Roma seguimos até Telheiras onde o homem nos esperava. Estando nós a dar uma volta pela feira (julgo) mensal de velharias no jardim principal, eis que um telefonema nos informa que o antiquário não pode vir ao nosso encontro devido a doença súbita da mulher. Com o dia soalheiro e mesmo quente, prosseguimos o passeio emaranhado de bancas e estendal de velharias, a maioria de interesse nenhum. O filho do João mora no bairro e convidou-nos para o um café na esplanada de um dos muitos estabelecimentos perto de sua casa. O tempo passou e acabámos por almoçar lá, envolvidos em discussão entusiasta que se prolongou por quatro boas horas. O Tiago é arquitecto e parece que bom profissional, seguindo as peugadas da mãe, a minha queridíssima Marília, de tal modo que a sua obra se estende por vários domínios entre os quais, nesta altura, o anexo do liceu Charles Pierre. Viveu com a mulher Leonor em Paris dez anos e esse facto contribuiu para juntarmos os nossos conhecimentos mútuos da França e dos franceses. Todavia, como não podia deixar de ser, foi a política que ocupou a maior parte do tempo, comigo sempre de acordo com o casal e em desacordo com o João para quem a política é mais um exercício, uma guerra ideológica que não tem aplicação prática no ser humano à qual se destina. Quando pelas quatro e meia nos despedimos à porta de sua casa, João, encolhido, disparou: “Foram três contra um.” 

         - Assisti à missa pela televisão. A cerimónia aconteceu na igreja da Fajã de Baixo, nos Açores, e o celebrante, um homem um pouco fora do baralho religioso, a dada altura, fazendo uso de um português bizarro, pergunta: “O que é que é a oração?” 

         - Para os lados da China, houve entronização do ditador Xi Jinping ping ping. É um proforma, porque ele já estabeleceu, em 2018, por emenda constitucional que ficará no poder por tempo ilimitado (como Putin). Espero que o mundo e, sobretudo, o Ocidente e particularmente António Costa, não se deixem enredar nos interesses económicos como fizeram com Putin. A história não lhes perdoará e os povos muito menos. Parece que o tirano assenta este próximo mandato na anexação definitiva de Taiwan à China. Não vai acontecer. Os chineses ainda vão ter que trabalhar muitas décadas para chegar ao PIB desta ilha com 4,6 biliões de habitantes e os mais avançados em tecnologias de ponta.  

         - Uma explosão em mina de carvão na Turquia, fez 41 mortos e 11 feridos. Não se sabe o que provou uma tal tragédia, mas Erdogan disse que iria apurar as causas, adiantando: “Não queremos ver deficiências ou riscos desnecessários.” 

         - Não tarda chove. Tarde de uma enorme tristeza que só os livros animam e arte reconforta.


sexta-feira, outubro 14, 2022

Sexta, 14.

Ontem, quando saí do consultório do Dr. Gambeta mais confiante na beleza a utilidade dos implantes, disparei para a Confeitaria Nacional saudoso de um bom almoço mastigado com os dentes hollywoodescos do meu estimado estomatologista. A tarde parecia de verão, com a Praça da Figueira inundada dos habituais feirantes, estrangeiros em calções perdidos nas esplanadas a fritar ao sol quente e um não quê provinciano de que a capital nunca se libertou. Dentro do restaurante, quase só estrangeiros. Na mesa ao lado da minha, abancava um casal nacional e, a dada altura, curioso como sou e gostando de escutar o que se diz por perto, oiço ele dizer para ela: “Eles não descontam tanto, mas no fim não recebas nada.” Costa ouve o teu povo, ele é mais astuto que a tua esperteza de chico esperto. 

         - Marcelo Rebelo de Sousa, ante a vaia de tudo e mais alguma coisa, veio a terreiro pedir desculpa pelo que disse sobre a pouca vergonha dos padres pedófilos e homos. Não tinha outro remédio e provou que é capaz de descer da fragilidade do cargo. Cavaco nunca o teria feito. Indirectamente, quem acabou por ficar exposto foi António Costa, quando quis defender o indefensável –  habitual do carácter espertalhão e cínico da personagem.  

         - Analisando à distância, é evidente que o confronto nuclear entre Putin e a NATO está em marcha. De um lado e outro, todos sabem o que se segue ao primeiro disparo, mas nenhum parece saber a sua verdadeira dimensão. Uma coisa é certa: ninguém sai a cantar vitória. É por isso que enquanto europeus, devemos continuar unidos como estivemos contra Hitler. Um ditador não pode vencer contra a democracia.  Aquele e os outros que pertencem e se entendem entre si: Xi Xinping ping ping, Kim Jong-un, Ali Khamenei e outros mais pelas Américas e Médio Oriente. 

         - No Fertagus e por todo o lado, o tchim, tchim e a tosse ouvem-se com frequência. Pouca ou nenhuma gente acredita que os vírus de muita sorte estão a invadir-nos. Perto de mim, já mais umas quantas conhecidas e conhecidos contraíram SARS-CoV 2, dois deles com gravidade. 


quarta-feira, outubro 12, 2022

Quarta, 12.

A pouco e pouco, um dia depois da apresentação do OE, as folhas vão tombando da euforia propagandista. As contas que os nossos economistas estão fazendo dão razão àqueles que não acreditam na sabedoria de mercearia do sacristão Medina. Soube-se agora que o homem, seguindo os conselhos do pároco desta aldeia, ordenou que entre 75% e 90% das reformas fossem entregues pelos velhotes aos lares onde esperam (imagino ansiosamente) a morte. Também o adiantamento da meia pensão anunciada como aumento, fica nos lares. É uma vergonha revoltante. Para não falar nas célebres cativações socialistas, tudo serve a esta gente para enganar o papalvo: anunciam aumentos fantásticos e vão por trás e surripiam metade. Sempre assim foi com a governação dita socialista. Para fechar a grande festa da mentira, veio o FMI avisar que o “optimismo” do chefe do Governo coadjuvado pelo papa Marcelo II, é uma charlatanice e que o cenário de abrandamento na economia portuguesa, em 2023, acompanha com a inflação que será de 4,7%. E para a economia mundial, adverte “o pior ainda está para vir”. 

         - Marcelo, por papaguear demais, cai em contradições de lesa majestade. Foi o que aconteceu com os 400 casos de abusos sexuais da Igreja que ele diz, feitas as contas, “não ser elevado” face à “provável triste realidade”, se tivermos em conta os milhões de fiéis com que conta a Igreja Católica. Mal comparado, esta constatação, é em tudo idêntica àquela da secretária de Estado quando afirmou que a área ardida foi inferior ao esperado. São parlapatices de quem governa com palavras e põe a acção de lado. Costa, qual bom ajudante, veio em auxílio do seu papa condenando a “interpretação inaceitável” de alguns. 

         - Sobra do farrabodó que nunca deixou a ribalta desde que o PS teve a maioria, os casos das chamadas incompatibilidades dos governantes que, sem surpresa, galvanizam a opinião pública e deixam atarantados os nossos políticos. Como a lei não foi aplicada por António Costa embora tenha sido aprovada por maioria na Assembleia, vai daí, ante tantos camaradas anafadinhos com o querido dinheirinho pessoal ou familiar, reforçado com a quantidade de negócios com o Estado por ajuste directo (pois), vai daí, dizia, altera-se a lei de modo a que premeie quem com tanto esforço e desinteresse e dedicação e sofrimento e cansaço abraçou a causa pública. Não se amofinem, senhores ministros e deputados, presidentes de câmara e secretários de Estado, nós no Partido Socialista nunca abandonamos os nossos camaradas à sua sorte. Prometo que, depois da chatice da governação, deixar-vos melhor que quando chegaram ao poder. Caramba: somos ou não somos uma democracia! 

         - A dupla senhor Feliz e senhor Contente defende-se um ao outro e ambos defendem-nos a nós. Hummm, estamos lixados! 

         - Alinho estas palavras no Vitta Roma onde estou a almoçar. Estava marcada uma consulta para que o Dr. Gambeta analisasse as minhas queixas, mas ele decidiu antecipadamente mandar fazer nova prótese para amanhã aplicar. Desde o tempo em que o Tó por aqui vinha e olhava pela minha saúde, que não me sinto tão apoiado. A atenção do Dr. Gambeta sensibiliza-me, assim como o telefonema do operador segunda-feira a saber como me sinto. Comovente. 


terça-feira, outubro 11, 2022

Terça, 11.

A verdade é esta: a campanha de Costa/Medina, isto é, do pároco e do sacristão, foi bem orquestrada e o OE parece ter convencido meio mundo de ignorantes na matéria. Mas é significativo que não tenha convencido toda a oposição - nem um único partido se mostra satisfeito. As juras de observância do projecto por parte do sacristão, não são para levar a sério como sempre aconteceu com este governo. É minha convicção que os maços de notas para este e para aquele, este sector e aquele, esta instituição e aquela ficar-se-ão pelas promessas. E o blá blá costumeiro. 

         - A retaliação não se fez esperar: Putin ordenou ataques terroristas a Kiev e a mais 16 cidades. A força bárbara não teve nenhum critério, só a morte e a destruição sem limites imperou. Tudo por uma ponte! 

         - Grandes inundações em Lisboa: ruas a transbordar, carros a flutuar, prejuízos de monta. 

         - Recebi o check-up geral: nada a assinalar, tudo em ordem, podes continuar jeune homme

         - Estou a ler com imenso interesse as Cartas de Amor de Virginia Woolf e Vita Sackville-West. Tudo o que diz respeito à autora de Orlando a mim me diz respeito igualmente. 

         - A propósito de leituras. Acabei um ensaio extremamente curioso sobre técnicas colectivas de escrita no séc. XVII da autoria de Béatrise Didier. O romance de Madame de La Fayette, La princesse de Clèves, por exemplo, foi escrito na sequência de várias reuniões onde os intervenientes participaram na sua concepção. A história desta célebre obra, passa-se na corte Henri II, corte de contos de fadas, e tem por personagens principais Madame de Clèves e M. de Nemours, ambos amorosos de uma paixão impossível. Por ele passa a monstruosa teia de intrigas, traições, desvelos, onde a parte psicológica vai de par com a narrativa de uma corte que, finalmente, se assemelha a tantas outras sobretudo à de Louis XIV. Não sei se o autor é de facto Madame de La Fayette, porque as circunstâncias da publicação não são muito claras, diz a ensaísta. O que se sabe ao certo é que em 18 de Dezembro de 1671 o editor Barbin registou um original com o título Le Prince de Clèves. Seja como for, este clássico da literatura mundial, traça em certo sentido a modernidade psicológica que atravessa a dialética do caché et du dévoilé. Dou a palavra a Nemours: “Tout c´est que je puis vous apprendre, Madame, c´est que j´ai souhaité ardemment que vous n´eussiez pas avoué à M. de Clèves ce que vous me cachiez et que vous lui eussiez caché ce que vous m´eussiez laissé voir.” Notável como resumo, não é?  


segunda-feira, outubro 10, 2022

Segunda, 10.

Tenho muita pena, mas não acredito minimamente nas propostas económico-financeiras da dupla Costa/Medina para 2023. Foi mais um exercício de descarada propaganda que arrastou empresários e alguns sindicalistas (salvo a UGT), naquela de que é melhor qualquer coisa que coisa nenhuma. Como é que ao fim de seis anos de governação socialista, esta gente ainda acredita num homem que mostrou dizer uma coisa hoje e o seu contrário no dia seguinte, faz leis que ele próprio não cumpre, dá por um lado e retira por outro e assim sucessivamente. Exemplos não faltam situando-me eu apenas nos mais recentes: a lei das incompatibilidades que passou no Parlamento com maioria e não cumprida pelo primeiro-ministro; o cálculo das pensões prontamente desfeito com prejuízos para os reformados e contraditos de Costa como se os velhos estivessem decrépitos ou tivessem desaprendido a somar, dividir e multiplicar. Mais: enquanto toda a Europa apresenta um quadro de preocupação quanto ao futuro, António Costa, qual líder a distinguir-se da mediocridade dos seus pares europeus, aposta em 1,3 por cento de crescimento, um défice de 0,8%, inflação a rondar os 4 por cento e quanto a recessão Portugal por artes mágicas e varinha de condão, não vai ficar imune de tal bicho. Os governos entre nós sempre foram gastadores e os do PS ainda mais. Por isso, quando se verificar os “benefícios” e “bónus” vamos verificar que fica tudo na mesma: os portugueses continuam a ser campeões de impostos, reformas baixas, salários de miséria, nível de vida rasteira e o Estado de olho neles a ver quanto ainda pode sacar mais.  

         - A resposta de Putin à implosão de um camião na ponte Kerch sábado passado que matou três pessoas, não se fez esperar. Ainda não se sabe quem levou a cabo a operação, mas Kiev acordou hoje com vários mísseis a caírem-lhe em cima. O dirigente da Federação Russa está reunido no Kremlin com as principais figuras do Exército e dirigentes políticos com a guerra relacionados. 

         - Depois de um mês de revolta nas universidades e nas ruas à noite que fizeram 180 mortos no Irão dos Khomeinis, estes parece não terem compreendido que nada voltará a ser como antes – a liberdade vai imperar porque o medo é seu irmão. 

         - Ontem, na sua homília dominical, o cardeal da SIC disse que Pedro Nuno dos Santos é um homem sério “porque o conheço há muito tempo”. Não duvido. Porém, todos os outros que o digno prelado não conhece pressupõem-se que não sejam tão honestos assim. Aliás, é bom lembrar, que sua eminência não devia conhecer pessoalmente José Sócrates como outros mais, de contrário teria afirmado que o “manda-me aquilo que tu sabes gosto muito” era por direito de cargo e inscrição no partido, um “menino de ouro”.  

         - Fui a Lisboa debaixo de chuva. Arrumados os assuntos que lá me levaram, sentei-me num café da Av. de Roma a ver os fios de água abundante a cair no asfalto. Pouca gente nas esplanadas, alguma de guarda-chuvas abertos atravessava as ruas num passo apressado. O Fertargus quase vazio. O céu, lá no alto, estendia o seu lençol pardacento. Uma nuvem de inverno varria a atmosfera. Era cavada a voz dos vivos e dos mortos. 


domingo, outubro 09, 2022

Domingo, 9.

Dia esplendoroso. Verdadeiro dia de hino à vida, a Deus que nos concedeu a graça de podermos conhecer esta Terra, esta manhã clara, aberta ao fausto imenso do céu limpo, do cântico dos pássaros, do brilho faiscante de luz que desce das alturas, abraça o silêncio murmurante das horas, e toma-nos num amplexo e nos fecha no horizonte-limite do universo. Tomo por uma graça divina poder olhar as árvores, beber do seu perfume, estender a vista até à linha de verdura densa, passado o mar de vinhedo, onde o campo dorme na pacatez dos dias abastecidos da beleza única da natureza. Iniciei a manhã com alguma rega e a apanha de um cabaz de marmelos.  

         - Falar de política numa atmosfera como esta é crime bem sei e, também, um desabafo que não me deixa apartado do que me rodeia e me enche de revolta e inconformismo. Todavia, vivendo isolado, de costas voltadas para o que parece entreter os meus concidadãos, indiferente-activo ao que me passa debaixo das minhas janelas, e é sinistro e imiscui-se e tolda as horas deste mar de solidão benfazeja; nem por isso renuncio ao direito a gritar contra todas as injustiças e políticas aldrabadas e facciosas, o poder a todo o custo. 

         Assim, o pobre homem da esquerda do Partido Socialista (pressupondo que existe uma direita, a ideia não é minha, mas dos seus camaradas), deixa-me incrédulo quanto à distância que se interpõe entre ele, ministro, e os negócios de calçado do pai, “grande empresário” no dizer da camarada também a contas com as incompatibilidades, a simpática e janota senhorita Ana Abrunhosa. O facto é que, para pôr em funcionamento qualquer corrupção ou interesse, o ser inconstitucional ou não, não vem ao caso. Os números e factos falam por si: em catorze anos, a firma do senhor dos sapatos, assinou 22 contratos com o Estado, 16 dos quais por ajuste directo e os restantes seis por concurso púbico, num total de 1.109.740,50 (a precisão é do jornal Público) euros! Nada mau. Mas... já o filhinho querido era ministro das Infra, etc. o paizinho, por ajuste directo, encaixou mais 19.110 euros, segundo o Observador. O Governo, bem entendido, diz que não existe qualquer ilegalidade. Portanto, foi tudo coincidências, talento do empresário que, sendo um expert, logo não precisa do filho para nada, invejas da concorrência. Apetece dizer: morde aqui a ver se eu deixo. Porque com os socialistas tudo pode acontecer. Eu costumo dizer que não conheço ninguém que mais goste de dinheiro que eles. Muitos dos meus amigos, estrangeiros e nacionais, dizem-se socialistas embora vivam com o mesmo à vontade dos ricos empresários americanos, russos ou chineses: caviar e champanhe todas as noites. E, francamente, isso até pouco importava se a ética, a seriedade, a honra, idiossincrasia dos processos governativos, estivesse na antítese do que acontece e não houvesse a procissão negra de socialistas a entupirem os tribunais... Mais uma vez: a ver vamos como vai terminar a governação de António Costa.  

         - Apetece-me transcrever a passagem do artigo do amigo António Guerreiro “Tão adoradas que são as famílias”. Escreve ele a dada altura: “É fácil encontrar uma razão, e essa razão já não tem um fundamento social, moral e religioso, mas é puramente económica: a referência às “famílias” e aos seus rendimentos é uma maneira de diminuir despesas orçamentais e de iludir as contas com que se confrontam os indivíduos (e já não as famílias) no seu dia-a-dia. Os indivíduos singulares, em número cada vez maior, que não são vistos nem achados nesta economia das famílias têm muitas vezes vontade de entoar aquele grito (mas agora com um sentido diferente) que André Gide lançou em Nourritures terrestres. “Familles, je vous hais!” Mas o ódio tem agora uma diferente motivação.” Juro que foi o notável jornalista do Público que explanou este sentimento e não eu...  

         - A joia da coroa do presidente da Rússia, a mais vigiada obra de construção do género, apareceu bombardeada e inoperante: a ponte Vladimir Vladimirovitch Putin, perdão, Kerch. Ligava a Crimeia à Rússia e nenhum dos lados ainda divulgou quem ousou tal proeza, sendo certo que os ucranianos cresceram de júbilo quando o facto ocorreu. Seja como for, foi mais uma vitória retumbante sobre as ambições do ditador. A resposta não deve tardar e vai ser de arromba.  

         - Prossigo com o lado esquerdo do maxilar transformado numa palha seca, sem acção e sentimento de pertença ao todo. Tenho evitado alimentos quentes e duros, mas, embora sem dores, a sensação que qualquer coisa não está bem, é nítida. A língua desse lado, é ferida com frequência. Vamos ver o que me diz o Dr. Gambeta quarta-feira, ele que teve a amabilidade de me telefonar a saber como se encontrava a obra d´arte do seu operador. 


sábado, outubro 08, 2022

Sábado, 8.

Com o recuo na compra dos bólides que o senhor da esquerda socialista, qual corredor de fórmula um (a arrogante criatura parece que nasceu para esse desporto de gente endinheirada e vulgar) para a TAP, foi a democracia no seu melhor a funcionar. Pode-se dizer que os contribuintes se opuseram à loucura do ministro que, definitivamente, mostra a sua natureza e o desprezo que tem para com os contribuintes. 

          - De resto, aquele partido, parece ser um antro de gente completamente arredada da realidade. Veja-se esta da senhorita, de seu nome Francisca Van Dunen, ex-ministra da Justiça: “Um ministro não ganha para o que faz.” A pergunta que ocorre a qualquer português honrado e trabalhador é esta: “E eu?” Aufiro um ordenado digno como operário, trabalhador rural, médico, professor, artista, cientista, enfermeiro, reformado, etc.? Ou a nata política, toda ela de uma mediocridade confrangedora, mal preparada e pré-analfabeta, arroga-se o direito de ser remunerada mais e melhor, enquanto os restantes portugueses, ao longo de 50 anos de democracia, foram empobrecendo alargando assim a mancha negra dos dois milhões e meio de pobres. Saberá a senhora o antro entre o vencimento de ministro e o dos milhões que vivem do salário mínimo? Estes produzem aquilo que sua excelência come; ao invés, ninguém se alimenta com o chorrilho de asneiras que a senhora produz.  

         - Ontem entrei no Instituto onde me aguardava o Dr. Gambeta pelas 10,30 e de lá saí às 19 horas. Hora e meia foi passada na operação dos implantes; o resto do tempo consumido a aguardar pela produção da prótese e vigilância no tocante a reacções sensíveis do organismo. Foi difícil? Foi. Aquilo não é para qualquer um e não me refiro ao preço. Porque quanto a este, sempre digo que é melhor deixar este mundo com um largo e belo sorriso, não vá dar-se o caso de me cruzar com o socialista (mais um) François Holland e ele me atire. “Irra! Até aqui apanho com pobres desdentados!” O operador, um homem jovem, rosto simpático, de físico trabalhado no ginásio, braços sólidos, peludos, uma barriga já a condizer com o sucesso clínico, eficiente que me tratou por Helder enquanto se aplicava a extrair-me o friso de dentes, sem, contudo, por assim dizer me provocasse dor se comparado com o trabalho do outro colega quando da intervenção ao maxilar superior. No intervalo, no seu agradável consultório, Dr. Gambeta e eu, falámos duas horas sem descanso, trazendo ao nosso convívio amigos comuns, tempos idos, personagens de romance, o meu entusiasmo era tal e tanto, que me esqueci das dores que entretanto se tinham instalado a anestesia ausentando-se. Saímos juntos pedicus cum jambis. A tarde despedia-se  na Av. Columbano Bordalo Pinheiro, as árvores que ladeiam aquela artéria refulgiam, um ligeiro assomo de Outono descia, junto à estação dos comboios, em Sete Rios, despedimo-nos como se nunca nos houvéssemos perdido. 

         - Todavia. Cheguei com a mochila carregada de trabalho: croché romanesco, leitura filosófica, jornais, este registo. Nada pude fazer, hipnotizado pelas palavras e ideias que fui trocando com uns e outros, enquanto me serviam gelados Haagen-Dazs – o meu almoço. Cheguei já noite a casa, com a parte inferior da cara ainda sob o efeito da anestesia, mas sem dores nenhumas. Quando pensava que iria passar a noite em claro, eis que a varro com a velocidade de um sono ávido sete curtas horas. Neste instante (13,59), depois de um almoço ligeiro e frio, vou aceitando indeciso estes dentes hollywoodescos do Dr. Cambeta. 


quinta-feira, outubro 06, 2022

Quinta, 6.

Não morro da doença, morro da cura. Dá-se o caso de amanhã ir fazer os implantes do rés-do-chão (o primeiro andar foram realizados a meio deste ano) e, para que tudo corra bem, tenho uma carga de medicamentos para tomar que me deixou furioso com o Dr. Gambeta. Uma caixa com 50 comprimidos de que vou necessitar apenas de dois! O resto vai para o lixo pondo-me revoltado contra a indústria farmacêutica que, naturalmente, pouco ou nada se interessa pelo Planeta. Não só esta indústria, como todas as outras. Os governos investem sobre as populações privando-as de tudo em nome da sustentabilidade do mundo, enquanto a Indústria prossegue na fúria dos lucros a qualquer preço. Dito isto, no espaço de uma semana, vou engolir porcarias que não consumi em toda a vida. 

         - Enquanto os combates prosseguem, 700 mil já deixaram a Rússia. 

         - Na Tailândia um ex-polícia ligado ao universo da droga, matou 38 pessoas muitas das quais crianças. Depois, foi a casa e liquidou a mulher e o filho e de seguida pôs termo à vida. Estes horrores cada vez mais frequentes, dizem muito do estado mental dos povos, das sociedades que se foram desenvolvendo pegadas a valores sem valor absolutamente nenhum.  

         - A leviandade do homem da esquerda socialista, à frente da “bandeira nacional”, vivendo à grande e à francesa dos nossos impostos da cor do sangue derramado na luta quotidiana pela sobrevivência, não teve pejo nem respeito e, de uma assentada, comprou 50 veículos da marca BMW, o carro que os pacóvios conduzem, e custa entre 50 e 65 mil cada (aqui perto montaram umas barracas pré-fabricadas e todos os seus proprietários têm à porta um lustroso BMW) para renovar a frota da pobretanas TAP. Este novo-riquismo, muito ao jeito dos socialistas que adoram a cagança e julgam que se distinguem pelos carros que conduzem, numa altura em que milhares de portugueses sobrevivem com imensas dificuldades, diz sem necessitar de palavras da desgraça que é a maioria que lhes deram. Eu, desde o camarada José Sócrates e do provinciano Cavaco Silva, que venho dizendo que maiorias só na revolta contra tudo isto. Todavia, ainda a procissão vai no adro. Quando estes deixarem o poder, temo um susto do tamanho daquele que nos provocou o camarada a banhos eternos na Ericeira. “Não te esqueças – dizia ele ao amigo de Leiria – de me mandares aquilo que tu sabes eu gosto tanto!”  

         - Como se previa, a Saúde não arranca e o CEO ( eles dizem ci i au) passado quase um mês ainda não se sentou para trabalhar. Entretanto, as férias terminaram, mas as urgências de obstetrícia continuam a carecer de médicos e a desarrumação em todo o SNS transformou-o numa tragédia nacional. Neste ponto como em todos os outros, é manifesto que António Costa anda aos bonés. Marcelo já não sabe como amparar a calamidade, resta-lhe apregoar que somos os melhores do mundo. Trágico, muito trágico. 


quarta-feira, outubro 05, 2022

Quarta, 5.

A esquerda anda muito activa com a chegada da extrema-direita ao poder em Itália, Áustria, Hungria, mas melhor fora que se ocupasse, com urgência, do fascismo russo. A democracia vigiará os outros. Que eu saiba nas democracias não há nenhum ditador. Como pode um só homem usar carne para canhão nas pessoas de milhares de jovens, arrasar vilas e cidades, provocar a deslocação de milhões de pessoas, prejudicar múltiplos países condenando-os à quebra do seu nível de vida, apenas para satisfazer interesses pessoais, económicos, e megalomania. 

         - Estive com a motosserra a cortar um moutedo de mimosa que brotou da árvore derrubada há anos. Alguns troncos tinham já a grossura de um pulso e todo o trabalho não ficou concluído porque a área infestada é de monta. Fazia pelas dez horas da manhã, calor. Este Outono continua escondido atrás do Verão e assim as temperaturas aqui chegaram aos 33 graus. Seja como for, o trabalho nunca acaba e para fazer jus a Ernst Junger que dizia que devemos mexer-nos mesmo no Inverno eis que não páro. 

         - Se fosse um ano deitado no dorso de quase uma vida, eu estaria com o pé no estribo para deixar Portugal a caminho de Paris. Isso me recordou ontem, em lágrimas, a Annie. Estive perto de ceder e retomar a via de imensos outros Outubros. Mas resisti embora não possa ver ninguém chorar. Continuo à espera que a TAP me devolva a passagem (ida e volta) para Budapeste que não pude efectuar no ano da covid. Era à Hungria que me apetecia ir, mais a mais porque a esquerda portuguesa me impele a fazê-lo. Decerto irei encontrar um país organizado, mais rico que o nosso, sem pobres nas ruas e uma vida feliz e simples como aquela que descobri na Polónia que eles dizem ser igualmente fascista. Tomáramos nós estar tão bem como aqueles dois países recém-chegados à UE que já nos ultrapassaram em riqueza e bem-estar. 


terça-feira, outubro 04, 2022

Terça, 4.

As coisas parecem sincronizadas e serão certamente. Não é por acaso que aquela coisa que governa a Coreia do Norte, se atreveu a lançar um míssil balístico de Pyongyang sobre o Japão para cair no Oceano Pacifico. Ele e Putin andam a testar até onde vão as capacidades de resposta dos EUA. O conselheiro para a Segurança de Biden, Jack Sullivan, reuniu-se com os homólogos da Coreia do Sul e do Japão e prometem “resposta apropriada e robusta”. Dia para dia estamos mais próximos de um desfecho aterrador. 

         - A ganância dos homens do futebol, cambada de primários, é igual grosso modo, à dos juízes, dos empresários, do homem comum, dos políticos – todos são insaciáveis. Fernando Santos que, não obstante dizer-se piedoso e crente, é tão obstinado pelo dinheiro que não hesita em utilizar estratagemas para fugir aos impostos. O fisco reclamava do seleccionador 4,5 milhões em IRS e para os receber teve que ir a tribunal que lhe deu razão – um “expediente abusivo” nos contratos com a Federação Portuguesa de Futebol foi a causa. Eles já ganham somas transgressoras quando comparadas com os ganhos de trabalho duro de 90 por cento da população, mesmo assim ainda tentam fugir a pagar impostos correspondentes. Chiça! Para que quer esta gente tanto dinheiro se se contentam com um prato de camarão e um litro de cerveja e acabam na decadência desportiva em que se encontra o “maior jogador do mundo”, cujo ego é extrato esférico.  


segunda-feira, outubro 03, 2022

Segunda, 3.

Passa largamente da centena o número de mortos e quase duzentos feridos nas escaramuças que se seguiram à final de um jogo de futebol na Indonésia. Os confrontos entre adeptos transformou-se numa autêntica batalha campal, onde entrou de tudo: carros incendiados, violência física, lutas corpo a corpo com a polícia, fãs esmagados, muitos sofreram lesões cerebrais. Esta selvajaria é típica dos alienados do futebol e ocorre por todo o lado e não há quem ponha cobro a isto. O poder do futebol é mais forte que as leis dos países e corre em paralelo com os princípios constitucionais. Enquanto não houver coragem para separar as águas, vão morrer inutilmente muitos cidadãos que amam genuinamente o desporto enquanto atividade lúdica e diversão colectiva. 

         - O opróbrio que vem de Putin, não me surpreende. Desde que o ditador chegou ao poder foi paulatinamente afastando a oposição e todos os adversários, empurrando-os para o exílio, matando-os, prendendo-os. Este Hitler do século XXI, encarna no seu expoente mais horroroso, o desprezo pela vida humana. Desde 2002 quando conseguiu por processos diabólicos a reeleição para a Duma. Nesse ano, “pela primeira vez desde a queda da URSS – diz no seu livro Anna Politkovskaya - a Rússia favoreceu especialmente os nacionalistas extremistas que prometeram aos eleitores enforcar todos os inimigos da Rússia”. Nessa altura o país tinha 40% da população a viver abaixo do limiar oficial da pobreza e hoje anda mais ou menos pelo mesmo número. Chegado ao Parlamento, informou que este não era o local de debate de ideias, mas para pôr a legislação em ordem. Começa então a transformação do homem, impelindo todos os partidos rivais, sacudindo e ameaçando os líderes mais influentes, os oligarcas que não estavam do seu lado. De seguida, chega a sangrenta Segunda Guerra na Chechénia, que a União das Forças de Direita, legitimou. “A Duma - cito a autora de Um Diário Russo – era, puramente decorativa, um fórum cuja função era sancionar as decisões de Putin.” A criatura cresce, desenvolve a autoridade suprema, reduz tudo à sua volta a bicharia miúda que pode esmagar com um dedo, o seu olhar de coruja amplia-se, o coração empedernido anquilosa, o poder abrasa-o, apenas uma ou outra mulher o entretém nas horas pardacentas, a solidão ronda-o. Passa a rodear-se de assassinos, marginais, tipos que ambicionam a proximidade do poder, autênticos gangsters prontos a executar ordens que dele imanem. As muitas guerras e consequentes anexações, deram a dimensão desumana, monstruosa, capaz de tudo até de aniquilara vida humana sobre a terra.           

         - Quem se tem revelado à altura do momento histórico, é Volodymyr Zelensky. Foi oportuno na resposta à execração do discurso de anexação dos oblats, quando horas depois assinou o pedido de adesão à NATO e no dia seguinte conquistou a cidade de Lyman na região de Donetsk. Falam a televisão e os jornais, que expulsou cerca de 5000 soldados russos. Uma tal vitória é de molde a desmoralizar qualquer guerreiro, mas jamais um ditador. Portanto, não se pode cantar vitória. Essa só acontecerá quando a Ucrânia tiver de volta o território soberano. 

         - O furacão Ian varreu a costa sudoeste da Flórida, com ventos de 210 quilómetros/hora, deixando à sua passagem um quadro de desolação e morte. As imagens que nos mostram as televisões, são impressionantes, sobretudo para nós portugueses que não temos, felizmente, estes fenómenos naturais. 2,5 milhões de pessoas receberam ordens para abandonar os seus lares e um vasto território ficou sem electricidade. Um barco com migrantes naufragou e morreram os seus ocupantes, carros ficaram submersos, casas e árvores caíram como baralhos de cartas, um cenário dantesco que mete respeito e diminui na nossa arrogância. 

         - António Costa teve o desplante de achar natural que o Estado perca 3 mil milhões nos negócios de priva/despriva da TAP. O líder do PSD disse tratar-se de um acto criminoso. Com efeito!  

         - A história da sustentabilidade do Planeta anda a ser mal contada. O dinheirão que milhares de chicos-espertos têm ganhado com o buraco de ozono, ainda um dia se fará a soma. Não há menina ou menino, muito produzido, falando do alto dos seus sábios conhecimentos, que são muitos e aterradores e bem fundamentados, não venha à televisão propor economias de tudo e mais alguma coisa. Outro dia, uma donzela de  cátedra, dizia que cada português gasta por mês dois rolos de papel higiénico! De duas uma: ou andam sempre de diarreia ou não se lavam com frequência e, portanto, o fedor deve ser nauseabundo por todo o país ou a menina terá de nos dizer que meios frequenta. Eu é que vou passar a fugir de subir escadas, sentar-me onde outros rabos abancaram e assim. Propõe a douta senhorita, a utilização do bidé que parece ter desaparecido das casas de banho nacionais. Que não aconselhe a família real inglesa; a rainha defunta, quando visitou Portugal, proibiu que as casas de banho dos palácios onde se hospedou tivessem esse objecto asqueroso, o que obrigou ao típico desenrascanço nacional a cobri-los de um enorme bouquet de flores. Quando contei esta história ao Corregedor, ele respondeu: “Grande porca!” Que Deus a tenha! 

         - Eu sou o que há de mais despistado. Vivendo isolado, devia ter atenção redobrada e não deixar as chaves de casa no portão. Oh! mas se tenho o meu exército de ratazanas, cobras, formigas, abelhas, pássaros, cães do vizinho, comandos pelo Black para me defenderem! 

         - Esta manhã fui ao Auchan fazer compras. Na padaria perguntei que tipo de farinha continha o pão que queria comprar, responde a empregada: “Tem farinha! Mas que tipo? É farinha.” 

         - Sentei-me no mesmo supermercado e solicitei um café cheio. Serviram-me meia chávena. Pedi se podia encher, responde a empregada: “Quer mais, é?” Ai o “nosso povo” que é tão educado, um amor de gente quando o frequentamos só às segundas-feiras! 


sábado, outubro 01, 2022

Sábado, 1 de Outubro (já!).

Ao todo até agora e segundo a Amnistia Internacional, morreram 52 pessoas nos confrontos no Irão e Curdistão iraniano. Apesar disso, a revolta não pára e as noites são chamas acesas de esperança. 

         - Como se previa, Putin anexou os territórios de Donetsk, Lugansk, Zaporijjia e Kherson. A farsa foi tal que para anunciar a vitória, pagou ou obrigou milhares de moscovitas a comparecerem na grande Praça Vermelha, frente ao Kremlin. Aí debitou um discurso ao jeito de Estaline, todo ele eivado de ódio e ameaças ao Ocidente, Estados Unidos e NATO, tratando-os de imperialistas, sociedades perversas que apoiam a homossexualidade, imorais, etc.. Embora se trate da “maior anexação forçada de território europeu desde a Segunda Grande Guerra no dizer de Shashank Joshi ao The Economist, Vladimir Putin não pode cantar vitória quando à sua volta tudo se vai desmoronando e o isolamento internacional o fecha como louco no manicómio do Kremlin. Mais: se nada alcançou dos seus planos quando em Fevereiro invadiu a Ucrânia, vê agora imediatamente após o seu discurso desvairado, Zelensky assinar o pedido de adesão à NATO – coisa que o líder ucraniano tinha mostrado renunciar. 

         - Mas os crimes não se ficam por aqui. Outra manobra que tem a marca do Kremlin (estão a decorrer investigações), é a explosão ocorrida há dias em quatro pontos dos gasodutos Nord Streem (1 e 2). Tal sabotagem só à Rússia convém e penso como muitos outros observadores, que foi igualmente um aviso à Europa e até aos EUA para a possibilidade de ataque a outras infra-estruturas capitais no Ocidente. Este tipo de crimes, tem sido ao longo do seu mandato, o pão de cada dia. Casos da Chechénia, Mordóvia, as províncias de etnia muçulmana, Crimeia e passo são a prática utilizada por Estaline e Hitler. 

         - A propósito. O terror de perder a hegemonia que tem imperado por todo o lado, o PCP e o BE e mais uns quantos socialistas ditos da ala esquerda, insurgem-se contra o voto popular que deu o triunfo à senhora Meloni. Apregoam que temos o fascismo de volta, que a UE vai sofrer um abalo, que não compreendem por que raio o povo elege um partido da direita e até da extrema-direita. Nunca apontam o dedo para si próprios, o mal é sempre dos que os rodeiam entre muros ou lá longe nos Estados Unidos que para a vitória da direita não dormem a arquitectar esquemas. Assim, convoco uma vez mais aquele que os comunistas detestam, António Barreto: “ Era tão bom que os democratas, os centristas, os liberais (eu fujo deles), os sociais-democratas e outros europeístas percebessem as suas responsabilidades nesse processo de ascensão das direitas antieuropeístas, radicais ou não democráticas! Era bom, mas é provavelmente inútil ou tarde de mais.” É inútil, ilustre cidadão. Tratando-se de extremistas, dali não brota senão ódio, tratados, números, épocas, História contada à sua maneira. 

         - A partir de hoje, é certo e sabido, que vamos começar a ser de novo atacados pelo SARS-COV-2. O Governo levantou todas as normas que permitiram que o vírus não se disseminasse com rapidez. Aos infectados, não será dado baixa e se o fizerem ficam por sua conta e risco, pois não têm direito ao subsídio por doença. Por mim, faço tábua rasa das suas ordens e recomendações: vou continuar a usar máscara, evitar aglomerações, utilizar gel e lavar as mãos várias vezes ao dia – foi deste modo que não fui contaminado. Para não falar no estado em que se encontra o SNS. 

         - No estado em que se encontra a governação de Portugal, uma bandalheira decrépita, onde todos os dias algo se passa para arruinar a imagem de um país já de si miserável e abandonado à sua sorte, leva-me a temer o pior do pior. A corrupção é uma realidade rasteira, que se estende a todas as áreas: governo, autarquias, instituições públicas e privadas e me leva a dar razão a Cavaco Silva, eu que nunca gostei de tal personagem. Para cúmulo, esta semana, a Polícia Judiciária efectuou buscas na sede da Presidência do Conselho de Ministros entre outros locais, por suspeita de crime de corrupção, violação das regras de contratação pública a empresas privadas de bens e serviços. Na mira está um tal David Xavier, secretário-geral, que parece orquestrar acções com empresas cujos donos se dizem socialistas. Uma vergonha. Eu, enquanto português, sinto-me vexado governado por uma seita de bispos e sacristãos que comungam todos os dias dos acordos subterrâneos onde o dinheiro abunda e não lhes pertence.   

         - Dinheiro puxa dinheiro. Deu-se o caso de ontem ter dado entrada por saída no C.I. para trazer o jantar. Ao passar na ourivesaria, a negrinha maravilhosa, deu por mim e perguntou-me “É hoje que leva o relógio”. Voltei a olhá-lo como quem admira um corpo sensual que não se deixa tocar, e constato que o preço foi alterado. “Não, – diz-me ela – Sempre esteve ao mesmo preço, 10.499 euros.” Portanto, eu tinha visto mal. “Ainda bem porque assim é que compro com certeza.” Gargalhada em uníssono. 

         - Apanhei esta tarde todas as maçãs reineta, quero dizer um pequeno cesto. Não servem para nada se não para compota.