terça-feira, outubro 11, 2022

Terça, 11.

A verdade é esta: a campanha de Costa/Medina, isto é, do pároco e do sacristão, foi bem orquestrada e o OE parece ter convencido meio mundo de ignorantes na matéria. Mas é significativo que não tenha convencido toda a oposição - nem um único partido se mostra satisfeito. As juras de observância do projecto por parte do sacristão, não são para levar a sério como sempre aconteceu com este governo. É minha convicção que os maços de notas para este e para aquele, este sector e aquele, esta instituição e aquela ficar-se-ão pelas promessas. E o blá blá costumeiro. 

         - A retaliação não se fez esperar: Putin ordenou ataques terroristas a Kiev e a mais 16 cidades. A força bárbara não teve nenhum critério, só a morte e a destruição sem limites imperou. Tudo por uma ponte! 

         - Grandes inundações em Lisboa: ruas a transbordar, carros a flutuar, prejuízos de monta. 

         - Recebi o check-up geral: nada a assinalar, tudo em ordem, podes continuar jeune homme

         - Estou a ler com imenso interesse as Cartas de Amor de Virginia Woolf e Vita Sackville-West. Tudo o que diz respeito à autora de Orlando a mim me diz respeito igualmente. 

         - A propósito de leituras. Acabei um ensaio extremamente curioso sobre técnicas colectivas de escrita no séc. XVII da autoria de Béatrise Didier. O romance de Madame de La Fayette, La princesse de Clèves, por exemplo, foi escrito na sequência de várias reuniões onde os intervenientes participaram na sua concepção. A história desta célebre obra, passa-se na corte Henri II, corte de contos de fadas, e tem por personagens principais Madame de Clèves e M. de Nemours, ambos amorosos de uma paixão impossível. Por ele passa a monstruosa teia de intrigas, traições, desvelos, onde a parte psicológica vai de par com a narrativa de uma corte que, finalmente, se assemelha a tantas outras sobretudo à de Louis XIV. Não sei se o autor é de facto Madame de La Fayette, porque as circunstâncias da publicação não são muito claras, diz a ensaísta. O que se sabe ao certo é que em 18 de Dezembro de 1671 o editor Barbin registou um original com o título Le Prince de Clèves. Seja como for, este clássico da literatura mundial, traça em certo sentido a modernidade psicológica que atravessa a dialética do caché et du dévoilé. Dou a palavra a Nemours: “Tout c´est que je puis vous apprendre, Madame, c´est que j´ai souhaité ardemment que vous n´eussiez pas avoué à M. de Clèves ce que vous me cachiez et que vous lui eussiez caché ce que vous m´eussiez laissé voir.” Notável como resumo, não é?