sábado, outubro 08, 2022

Sábado, 8.

Com o recuo na compra dos bólides que o senhor da esquerda socialista, qual corredor de fórmula um (a arrogante criatura parece que nasceu para esse desporto de gente endinheirada e vulgar) para a TAP, foi a democracia no seu melhor a funcionar. Pode-se dizer que os contribuintes se opuseram à loucura do ministro que, definitivamente, mostra a sua natureza e o desprezo que tem para com os contribuintes. 

          - De resto, aquele partido, parece ser um antro de gente completamente arredada da realidade. Veja-se esta da senhorita, de seu nome Francisca Van Dunen, ex-ministra da Justiça: “Um ministro não ganha para o que faz.” A pergunta que ocorre a qualquer português honrado e trabalhador é esta: “E eu?” Aufiro um ordenado digno como operário, trabalhador rural, médico, professor, artista, cientista, enfermeiro, reformado, etc.? Ou a nata política, toda ela de uma mediocridade confrangedora, mal preparada e pré-analfabeta, arroga-se o direito de ser remunerada mais e melhor, enquanto os restantes portugueses, ao longo de 50 anos de democracia, foram empobrecendo alargando assim a mancha negra dos dois milhões e meio de pobres. Saberá a senhora o antro entre o vencimento de ministro e o dos milhões que vivem do salário mínimo? Estes produzem aquilo que sua excelência come; ao invés, ninguém se alimenta com o chorrilho de asneiras que a senhora produz.  

         - Ontem entrei no Instituto onde me aguardava o Dr. Gambeta pelas 10,30 e de lá saí às 19 horas. Hora e meia foi passada na operação dos implantes; o resto do tempo consumido a aguardar pela produção da prótese e vigilância no tocante a reacções sensíveis do organismo. Foi difícil? Foi. Aquilo não é para qualquer um e não me refiro ao preço. Porque quanto a este, sempre digo que é melhor deixar este mundo com um largo e belo sorriso, não vá dar-se o caso de me cruzar com o socialista (mais um) François Holland e ele me atire. “Irra! Até aqui apanho com pobres desdentados!” O operador, um homem jovem, rosto simpático, de físico trabalhado no ginásio, braços sólidos, peludos, uma barriga já a condizer com o sucesso clínico, eficiente que me tratou por Helder enquanto se aplicava a extrair-me o friso de dentes, sem, contudo, por assim dizer me provocasse dor se comparado com o trabalho do outro colega quando da intervenção ao maxilar superior. No intervalo, no seu agradável consultório, Dr. Gambeta e eu, falámos duas horas sem descanso, trazendo ao nosso convívio amigos comuns, tempos idos, personagens de romance, o meu entusiasmo era tal e tanto, que me esqueci das dores que entretanto se tinham instalado a anestesia ausentando-se. Saímos juntos pedicus cum jambis. A tarde despedia-se  na Av. Columbano Bordalo Pinheiro, as árvores que ladeiam aquela artéria refulgiam, um ligeiro assomo de Outono descia, junto à estação dos comboios, em Sete Rios, despedimo-nos como se nunca nos houvéssemos perdido. 

         - Todavia. Cheguei com a mochila carregada de trabalho: croché romanesco, leitura filosófica, jornais, este registo. Nada pude fazer, hipnotizado pelas palavras e ideias que fui trocando com uns e outros, enquanto me serviam gelados Haagen-Dazs – o meu almoço. Cheguei já noite a casa, com a parte inferior da cara ainda sob o efeito da anestesia, mas sem dores nenhumas. Quando pensava que iria passar a noite em claro, eis que a varro com a velocidade de um sono ávido sete curtas horas. Neste instante (13,59), depois de um almoço ligeiro e frio, vou aceitando indeciso estes dentes hollywoodescos do Dr. Cambeta.