sábado, outubro 29, 2022

Sábado, 29.

Durante muitas décadas não soube como o Outono se alojava aqui. Passava do clima ameno bruscamente para o Inverno rigoroso de Paris e deixava para trás as laranjeiras cobertas de fruto, o medronheiro enfeitado de bolas vermelhas, as romãs a querer abrir, os marmelos quase prontos para se comerem, a chuva e o sol que se hospedavam por estas paragens sem que eu tivesse a mínima noção de como caía uma e outro brilhava. É por isso enternecedor poder todos os dias apanhar uma taça de medronhos, recolher as romãs e os marmelos e saborear nesta altura as primeiras tangerinas. Glória ao Criador! E já agora ao destino que me permitiu conhecer o anterior proprietário deste espaço, que me ensinou uma boa parte do sei hoje sobre o campo de mil encantos, onde se encobre o silêncio divino que só a poucos se dá a conhecer.  

         - O Governo decidiu aumentar a contribuição do Estado aos partidos em mais 8% de forma a que estes não sofram com a inflação, situando agora o montante global em 17 milhões de euros. É vergonhoso, mas é normal: os partidos estão acima do Estado, das famílias, e não contam para a miséria que invadiu 50% dos portugueses - estes que lixem. 

         - António Barreto na sua habitual crónica de sábado no Público, diz que António Costa é um político inteligente, para de seguida desferir uma machadada que o abre de cima a baixo. Eu penso que ele é antes aquilo a que se chama um chico-esperto. Portugal não evoluiu nada ao fim de sete anos sob a sua batuta. Pelo contrário, está mais pobre, o SNS desmantelado, o desenvolvimento parado, a Justiça não serve os pobres, o coro de corrupção na classe política é assustador, o índice de pobreza cresceu desgraçadamente, a desigualdade também, o caudal de emigração nem se fala, a propaganda foi a única coisa que soube habilmente fazer, a par da mentira, do exercício governativo montado no efémero, no imediato, nas urgências do curto prazo, tudo sem plano, sem estruturação, lançado para encher o olho e atenuar a miséria que se contenta com dez reis de mel coado. 

         - Príncipe telefonou-me a perguntar se tinha visto o programa consagrado a Viagem a Portugal de Saramago. Como não sou adepto das nossas tristes televisões, fui deitar o olho e uns minutos depois suspirei: “Que horror! Pobre Saramago, transformado num pateta que ele nunca foi!” Não quero exagerar, mas raramente me entusiasmo com a vulgaridade brasileira , o seu trolaró que tanto atrai o espectador português. 

         - Tempo cinzento, tempo de recordações enterradas em terra de ninguém.