terça-feira, junho 30, 2020

Terça, 30.
A França foi a votos para as municipais e ganharam com grande vantagem os ecologistas. Chou Chou sai em pedaços onde só conseguiu vencer no Havre e mesmo assim com o seu primeiro-ministro que nem ao partido do Presidente pertence. Ironias do destino. A abstenção foi abissal: praticamente 60 por cento dos franceses não foram às urnas! Chou Chou foi incompetente a dirigir o país durante a pandemia. Muita propaganda, bons discursos, mas o povo conhece de ginjeira a retórica e não vai em cantigas. Em França como em Espanha, a derrota dos seus dirigentes prepara-se, esmagadora. Sánchez e Macron, governam com patuá.

         - Dá-me ideia que a equipa da saúde – primeiro-ministro, ministra da Saúde e directora da DGS – está de candeias às avessas. Ao barulho acaba de juntar-se o bebé Nestlé a quem não se lhe reconhece algo de útil feito na autarquia de Lisboa. O coronavírus adora estas disputas porque encontra forma de se instalar mais facilmente. Nas últimas semanas, uma média de 400 pessoas foram infectadas diariamente em Lisboa e arredores. Ontem havia ao todo 41.646 contaminados e 1564 mortos no país. 10 milhões no mundo.

         - Fui à Brasileira encontrar-me com os do costume: Brito, Paulo Santos, Carlos Soares, Tereza Magalhães e Castilho. No início da semana, andei às voltas na Baixa com o Gordilho e acabámos comendo no Celeiro. O criador de arte, não cabia em si de contentamento. Devido à doença, parecia um médico equipado para o bloco operatório. As poucas pessoas que se cruzavam connosco, olhavam surpreendidas.  Aconselhei-o a deixar-se fotografar para pôr no seu museu, em Moura, a recordação deste tempo.


         - Regas. Cortei o cabelo engalanado com a máscara. A água está limpa, mas cria algodão branco de algas à superfície. Há qualquer coisa que me ronda de incerteza - um certo pisar do tempo apoiado ao vazio. Tenho o pressentimento que o Black morreu deixando aqui a Blacka com apenas um filhote – o outro desapareceu. Há três dias que não aparece.

domingo, junho 28, 2020

Domingo, 28.
Azeredo Lopes, ex-ministro de Portugal, perdão, do Partido Socialista, tem todas as possibilidades de ser condenado no affaire de Tancos. Segundo o nosso juiz Carlos Alexandre (quem haveria de ser!) ele está metido no delito até à raiz dos cabelos que não são muitos. Eu sempre achei que a história estava mal contada e muita coisa permanecia na escuridão. É, portanto, de toda a justiça e para bem da democracia, que saibamos quem são os culpados de um crime tão misterioso como hediondo. Assim como não acredito que Costa seja virgem no conhecimento do caso.

         - Mais uma vez o bastonário da Ordem dos Médicos, Sr. Miguel Guimarães, veio elucidar-nos sobre o que se passa com a crescente bola da Covid-19 vs equipa governamental. "No início ouvia-se muita gente e tentava-se envolver as pessoas todas, nomeadamente, os profissionais e, sobretudo, os médicos. Isso aconteceu e foi extremamente positivo, o envolvimento das pessoas, ouvir a opinião delas e levá-la em linha de conta. Agora não, deixámos praticamente de ser ouvidos.” E adiantou que não fazia mal nenhum a António Costa ser mais humilde. Um socialista humilde... não conheço.

         - Vi à frente da casa qualquer coisa que me parecia um corvo morto. Aproximei-me. De repente, dois gatinhos do tamanho de novelos de lã preta, puseram-se em fuga. Seriam filhos do Black e da Blacka? Seja como for, eram lindíssimos com aqueles olhos a desafiar a vida. A minha interrogação, advém do facto de há uns anos andar aí uma gata apaixonada pelo macho que eu abrigo, escura como ele, mas com o desenho de um elmo no focinho. Essa é mais tímida que a que chegou há pouco tempo e se afoita, desenrascada.

         - Regas pela manhã. Mergulhei apesar de alguns flocos de algas. Todos os anos é à medida que o tempo passa que consigo equilibrar o Ph e o cloro. Fui às compras. Dormi a sesta. Li o tio Schopenhauer. Assisti a um concerto pela Arte transmitido de Buenos Aires com a soprano Aida Garifullina. Recortei jornais e li uma história que me servirá para a construção da personagem Semyon. Não falei com ninguém nem ninguém falou comigo. Silêncio absoluto. Bendito e sagrado silêncio! Dezoito horas e 33 minutos.

sábado, junho 27, 2020

Sábado, 27.
É manifesto que o Mágico perdeu o controlo e agora quer-se impor pela ordem como fazem os fracos. Ou dito de outro modo: desde que Costa deixou de ser António Costa e passou a fazer política, a ser o político, o país entrou em derrapagem. Façam ou não testes – eu entendo que devem fazer – o vírus não desaparece. Não são os testes que matam o corona, é o desleixo das pessoas como aquelas que eu vi ontem no Fertagus a descer a máscara para espirrar ou a usá-la apenas na boca “porque custa a respirar”. 

         - De resto, por todo o lado, o número de infectados não pára de crescer. Só no país governado pelo especulador imobiliário, ontem, mais 40 mil novos doentes, 47 milhões de desempregados e um milhão de mortos. O Brasil, idem, idem. Mas também a Inglaterra, Suécia e assim. É assustador! O Texas, a Florida e a Califórnia desceram os taipais e não deixam ninguém sair de casa.  
  
         - Li 100 páginas das duzentas do último trabalho de João Tordo enquanto ia juntando de meia em meia hora cloro na água da piscina. O facto de as estações se terem ausentado do calendário, trouxe um motivo mais de preocupação no tratamento diário da água. Continuando. Não tendo chegado ao fim do livro, embora já com uma ideia estabelecida, posso concluir para já da razão que levou o escritor a não responder ao meu e-mail: não quer ser incomodado. Eu sou mais um daqueles chatos que desviam o génio da sua obra (“já perdi a conta à quantidade de vezes que não atendi um telefone a tocar, ou ignorei uma voz a chamar-me, ou me irritei com o carteiro a tocar à campainha...”) e não, como me diz o amigo comum que me passou o seu endereço electrónico, “pois... estrelas”.


         - Acordei a pensar em avançar com o Matricida que não despega dos meus neurónios. Mas viver numa quinta é abraçar o prazer do silêncio e mergulhar na chatice dos afazeres que nunca afrouxam. Assim, o dia saldou-se apenas na companhia de Tordo e do Público. Pouca coisa? Talvez não, no final de verá. 15, 45. No dia couberam sem se afirmarem as quatro estações do ano. Alinho estes caracteres no terraço, debaixo do grande guarda-sol, o Black deitado a meu lado, a passarada tagarela a dialogar ao largo.

sexta-feira, junho 26, 2020

Sexta, 26.

Nota-se uma certa atarantação do Governo na gestão da pandemia. Querendo agradar a gregos e troianos, ficou entalado com o aumento desmensurado de casos em Lisboa e arredores. Talvez não se trate ainda de vaga, mas o que se apresenta é perigoso porque nesta leva arrasta velhos e novos. A pressão do mundo empresarial, desportivo e artístico é muita e o Mágico já não consegue fazer a magia que lhe permita sair incólume do remoinho. A coisa foi manifestamente mal gerida. Quem não se lembra dos camaradas, Marcelo e Costa, separados ou juntos a mostrarem-se nas televisões a desafiar os portugueses a sair de casa para almoços e jantaradas, espectáculos e banhos de mar. E ainda a final daquela coisa com sete jogos em Portugal não aconteceu. Depois veremos se os profissionais do SNS ganharam o prédio do esgotamento físico e mental com os hospitais a abarrotar como se de uma guerra se tratasse...  

quinta-feira, junho 25, 2020

Quinta, 25.
Os nobres esforços, tímidos, começados no séc. XVI para que todos tenhamos acesso à instrução e ao conhecimento, foram defraudados com a presença outro dia no programa de Fernando Mendes daqueles que são o paradigma da sua continuação – os professores. A esse propósito, não êxito em transcrever o que escreveu no Público António Carlos Cortês: “Se Castoriadis não erra – nem Camões –, é caso para dizer que a participação dos professores naquele programa indigente é sinal inequívoco da máquina totalitária que, como um rolo compressor, esmaga quaisquer valores que deveríamos ter por perenes, padronizando as massas, transformadas em consumidores acríticos de conteúdos de grau zero. Movida pela dinâmica neoliberal de trocas, uma educação que escolha o caminho fácil do imediatismo online mais não será que a reprodução da sociedade civil hoje desvitalizada, sem memória e sem história.” Assino de cruz. Os meus leitores sabem o que penso sobre o assunto, pois já aqui inúmeras vezes me referi ao vómito que é o programa. Para muita gente, aquilo é cultura popular. Talvez seja, na medida em que reflecte o padrão civilizacional de Portugal na fasquia da sargeta. Mendes como Herman e outras aves raras da TV, nunca leram um livro. A sua cultura é o trolaró quotidiano, a imagem oportunista da vida tocada a fanfarronice.


          - Decidi adoptar a Blacka namorada do Black que tanta dedicação lhe tem. Parecem gémeos, ambos muito pretos e de olhos maravilhosos de um verde-esmeralda. Ela é mais afoita na aproximação que ele foi há anos quando levei meses a aliciá-lo. Fui buscá-lo ao fundo da quinta, esta andou sempre por aqui a rondar o macho latino.