quinta-feira, junho 18, 2020

Quinta, 18.
Será possível que sejamos tão idiotas que não vejamos o que nos entra casa a dentro? Se a política é hoje uma fantasia, um exercício de interesses, de propaganda, uma aposta no passageiro, um palanque de galos cantando ao desafio - contudo em uníssono para parecer afinado -, se não nos apercebemos disso, então, meus senhores, somos criaturas manipuladas, alheias ao que nos cerca, distraídas do que em nosso nome se vai a pouco e pouco instalando à revelia da moral, da liberdade e da nossa aprovação. A imensa capa do futebol que tudo gere, ocupa espaços informativos, faz a discussão única, aliena e submete e é quem nos governa e, sobretudo, orienta uma ampla área de pessoas que vai dos políticos ao ignorante jogador de futebol. Ainda o corona não nos deixou, já os governantes do Chefe de Estado ao primeiro-ministro, abrem portas com orgulho dito nacional, à entrada dos fanáticos adoradores da bola. Nas tintas para a progressiva inundação da Covid-19 que todos os dias alastra, mas no entender desses senhores o campeonato X é uma honra para os profissionais de saúde (Marcelo dixit), portanto, uma vénia à “segurança” que Lisboa oferece. Eu sou franco, corto-lhe o pio assim que o papagaio começa a palrar, porque ter que o gramar com aquele seu jeito hipócrita todos os dias, é tarefa que os meus ombros e o meu cérebro não aguentam.    

         - Felizmente, os portugueses estão a ser mais sensatos que os que os conduzem. Fui à Baixa esta manhã e daqui até Sete Rios poucos viajantes, no metro idem, por todo o lado não se vê quase ninguém. Os lisboetas têm medo. E em vez de confiarem no primeiro-ministro como antes, acham que ele se rendeu à economia, ao poder alarve do futebol, ao turismo de massas e assim. Ele está-se nas tintas igualmente para o Planeta, o buraco do ozono, porque de contrário saberia que aviões e barcos que trazem aos magotes povos desvairados de sol e boa comida, se possível gastando pouco, são mais perigosos que os automobilistas que depois irão pagar o desvario climático que esses caracóis ambulantes deixam. O Mágico e todos os outros feiticeiros, carregam sobre os fracos e deixam de fora os fortes – indústria, multinacionais, produção sem controlo, etc. 


         - Escrevi página e meia, ontem. Nada mau, atendendo à complexidade do argumento e à estrutura narrativa. Não quero acelerar, desejo ir desbravando à medida que a história se me vá impondo e a silhueta das personagens mostrando. Claro, escrevo para mim. Hoje a arte está em stand by e por todo o lado. Dou razão àqueles leitores que me dizem que com o espírito critico que é o meu (eu chamo liberdade), é muito difícil encontrar alguém que me queira publicar. Eu sei. Sei em que país vivo. Mas todos não imaginam a alegria, a disponibilidade, a independência, a força que a liberdade me dá. Como não espero nada de ninguém, posso trabalhar solto, lúcido, íntegro e sem ter que bajular medíocres – e isso é uma bênção do céu que se calhar não mereço. Bastam-me os leitores (cada vez em número maior) destas páginas (fui espreitar 47.218)!