terça-feira, junho 09, 2020

Terça, 9.
A grande notícia do dia foi o abandono de Mário Centeno do Governo. Os analistas (ai estes seres dançantes com horóscopos diários, a Maya que se cuide!) dizem que o momento não é o melhor para o país e que o Mágico sai reforçado para o balanço (“difícil”) que aí vem. Talvez tenham razão porque o afirmam da cátedra TV... Todavia, quem sai por cima é ele, Mário Centeno, por muitas razões que a História já anotou para memória futura. António Costa ficará, talvez, como aquele que criou a “geringonça”, Marcelo como o homem das selfis, Mário Centeno como o técnico eficiente que endireitou as Finanças.

         - Por aqui me quedei todo o dia. Várias horas de leitura, nenhuma escrita, mas uma paz interior que derramava um sentimento etéreo estranho, onde cabia o vazio assim como o abarrotar do mundo disperso concentrado em redor de mim. Mesmo assim, pude dar a primeira demão de verniz à mesa do lounge, reguei, e no fim da tarde, seráfico, fiz esta tarte de perdiz. A cozinha requer paciência franciscana e deve ser por isso que os conventos foram lugares de plácidos cozinheiros que aboliram o pecado da gula.

 

         - Entre as leituras, esteve o excelente e meritório artigo de Filipe Luís (catorze páginas),  na Visão, consagrado a António Ferro. Dito de outro modo, eis que alguém se ocupa do Secretário do SPN de Salazar. O autor traça o percurso com inteligência, minuciosidade, e partidarismo q.b. de uma personalidade ímpar do Estado Novo. É uma leitura que aconselho aos meus leitores para que se acerquem dos valores que estão intactos na sociedade actual, porque foram projectados por um homem visionário e de personalidade complexa para o regime que o preservou por muitos anos. Gostava que o mesmo jornalista se ocupasse da mulher, a poetisa Fernanda de Castro. Eu vislumbrei-a uma vez quando acompanhei o meu saudoso amigo Alexandre Ribeirinho a casa da poetisa, na Calçada dos Caetanos, no prédio onde vivia o poeta comunista que eu entrevistei nas traseiras do proscénio do Tivoli, José Gomes Ferreira. Alexandre era visita frequente, quer para estar com Fernanda a sós, quer nas tertúlias que se prolongavam por tardes e noites. Depois do 25 de Abril, o Delraux, chegava a Portugal na perseguição de um grande amor. Fundou pouco depois a Edições Roger Delraux e pediu-me ajuda. Delraux reeditou obras de António Ferro e deixou uma edição fabulosa de Arte de Ser Português de Teixeira de Pascoaes que ele consultou, na casa do ilustre escritor, onde passou tempo suficiente para estudar o original.