Terça,
9.
A
grande notícia do dia foi o abandono de Mário Centeno do Governo. Os analistas
(ai estes seres dançantes com horóscopos diários, a Maya que se cuide!) dizem
que o momento não é o melhor para o país e que o Mágico sai reforçado para o
balanço (“difícil”) que aí vem. Talvez tenham razão porque o afirmam da cátedra
TV... Todavia, quem sai por cima é ele, Mário Centeno, por muitas razões que a
História já anotou para memória futura. António Costa ficará, talvez, como
aquele que criou a “geringonça”, Marcelo como o homem das selfis, Mário Centeno como o técnico eficiente que endireitou as
Finanças.
- Por aqui me quedei todo o dia.
Várias horas de leitura, nenhuma escrita, mas uma paz interior que derramava um
sentimento etéreo estranho, onde cabia o vazio assim como o abarrotar do mundo
disperso concentrado em redor de mim. Mesmo assim, pude dar a primeira demão de
verniz à mesa do lounge, reguei, e no
fim da tarde, seráfico, fiz esta tarte de perdiz. A cozinha requer paciência
franciscana e deve ser por isso que os conventos foram lugares de plácidos cozinheiros
que aboliram o pecado da gula.
- Entre as leituras, esteve o
excelente e meritório artigo de Filipe Luís (catorze páginas), na Visão,
consagrado a António Ferro. Dito de outro modo, eis que alguém se ocupa do Secretário
do SPN de Salazar. O autor traça o percurso com inteligência, minuciosidade, e partidarismo
q.b. de uma personalidade ímpar do Estado Novo. É uma leitura que aconselho aos
meus leitores para que se acerquem dos valores que estão intactos na sociedade
actual, porque foram projectados por um homem visionário e de personalidade
complexa para o regime que o preservou por muitos anos. Gostava que o mesmo
jornalista se ocupasse da mulher, a poetisa Fernanda de Castro. Eu vislumbrei-a
uma vez quando acompanhei o meu saudoso amigo Alexandre Ribeirinho a casa da
poetisa, na Calçada dos Caetanos, no prédio onde vivia o poeta comunista que eu
entrevistei nas traseiras do proscénio do Tivoli, José Gomes Ferreira.
Alexandre era visita frequente, quer para estar com Fernanda a sós, quer nas
tertúlias que se prolongavam por tardes e noites. Depois do 25 de Abril, o Delraux,
chegava a Portugal na perseguição de um grande amor. Fundou pouco depois a Edições
Roger Delraux e pediu-me ajuda. Delraux reeditou obras de António Ferro e
deixou uma edição fabulosa de Arte de Ser
Português de Teixeira de Pascoaes que ele consultou, na casa do ilustre escritor,
onde passou tempo suficiente para estudar o original.