domingo, junho 14, 2020

Domingo, 14.
A selva de políticos putrefactos que nos governaram ou governam, é praga que a democracia tem de engolir e os povos gramar. A justiça que acompanha esta pandemia de gananciosos, favorece-os e fá-los crescer como cogumelos. Vejamos. Os senhores Arlindo de Carvalho e José Neto pagaram 22 milhões de euros ao fisco para não serem encarcerados. Estão acusados de burla qualificada e fraude fiscal no processo do BPM. A pergunta que eu faço e venho fazendo há anos é esta: será assim que se faz justiça ou quem tem dinheiro pode continuar impunemente a roubar porque o que furta dá para pagar multas e ainda sobra muito para refazer outro acto de corrupção? Um pobre que furte dez reis mel coado vai parar com os costados na cadeira; o político que rapina o erário público, compra a liberdade com o que se apropriou. Bela justiça, hei!  E nem falo naquele atoleiro de gatunagem dos PS e PSDs no caso EDP chinesa.

         - É por estas e por muitas outras razões que as nações governadas por idiotas, gatunos e oportunistas posicionaram o mundo próximo do fim de uma era que serviu de algum modo a humanidade, mas cavou sobretudo o fosso entre ricos e pobres, informados e analfabetos, grandes massas homogéneas e ilhas onde o humanismo insiste em imperar. O que vemos hoje passar-se nos EUA, França, Reino Unido, Brasil e noutros países, com as ruas invadidas por turbamulta de gente desvairada, em nome de valores que nem conhecem o seu significado, arrastados por gritos de revolta inscritos no caixote do lixo que é o Facebook e outros dejectos electrónicos, faz pensar. Porque em último caso o que tudo isto diz é que há uma desconfiança, um mal-estar social, uma revolta contra os valores presentes que assusta e dá que pensar. À sombra do beneplácito regime democrático, um qualquer ditador de esquerda ou direita, espreita para pôr ordem onde a desordem abana a pacatez madraça das sociedades democráticas e substituí-lo pela pata fascista ou social fascista. Este arraial de gente não sabe nada de nada. Actua sob o domínio de palavras de rodem postas nas redes sociais. E em vez de se informarem, entram no arrastão populista onde dois valores se disputam há décadas, a direita e a esquerda, explorando essa zona árida onde abancaram ódios racistas de muita espécie, aversões ao que é diferente, àqueles e àquelas que se alhearam das lutas extremistas em favor da liberdade individual e colectiva. Fazendo tábua rasa do passado, derrubam símbolos que fizeram história para os substituir pelo vazio de ideias, a aridez do pensamento presente, que não assenta na história, no aglomerado de experiências e lutas do passado, no sofrimento e alegrias, conquistado um e outra no ritmo próprio de cada época que somado traduz a nossa existência de hoje. Nada seríamos sem golfadas de homens e mulheres que abriram horizontes até à nossa chegada. Devemos quem somos a eles, aos nossos antepassados, ilustres ou simplesmente gente que viveu, trabalhou e fez avançar o mundo das ideias, da igualdade e da liberdade. Nesta fase “democrática” não cabe nenhuma divisa, massificados e na ilusão que cada um pode exercer o seu poder, vamos alegremente caminhando amadurecidos, doentes e decadentes, para a aceitação de um qualquer ditador de esquerda ou direita. Quando os valores sociais e religiosos europeus forem estilhaçados, e Cristo condenado nas ruas, nesse momento a civilização que conhecemos e na qual vivemos, estará definitivamente morta e enterrada. Os acontecimentos destes dias aceleram o seu fim. Entramos no mundo das trevas e do obscurantismo. 

         - Empurrado pelo ensaio de T. S. Eliot, tive o impulso de reler O Rei Lear. Tenho várias edições das obras de Shakespeare, assim como traduções. Mas deu-me para ler a de Álvaro Cunhal e devo dizer que me surpreende a cada passo pelo conhecimento da língua e dos factos que rodeiam a versão de William Shakespeare. Talvez lhe falte, como direi, a atmosfera poética que Shakespeare construiu com originalidade e genialidade. Seja como for, fui correndo o texto e de uma assentada li (ou reli) cinquenta páginas.  É empolgante!   

         - Almocei em casa dos meus vizinhos franceses. Acontece que na vivenda ao lado, mora um casal de chineses. A partir da expansão do coronavírus, eles deixaram de lhes falar e até os mal tratam. A mulher é mais radical que o marido. Tentei, por isso, concentrar-me nela explicando-lhe que os pobres vizinhos não são culpados do ditador Xinping ping ping e que, talvez, eles tenham deixado o seu país para fugir à dominação de militares e da nomenclatura que o apoia. Foi um almoço doutrinário, portanto...   


         - Por este andar o calor tórrido que os técnicos do clima nos prometem para este Verão, vai ser uma miragem. Estou para despertar a água da piscina desde o princípio do mês, mas vou adiando porque não quero alimentar o empregado dos chineses, senhor Mexia, sem qualquer proveito para a perna que as damas das camélias labem com o olhar interior e misericordioso do seu terno e excitante êxtase. Voltei a pôr um cobertor na cama. Montei e desmontei o terraço por duas vezes já.