Domingo,
14.
A
selva de políticos putrefactos que nos governaram ou governam, é praga que a
democracia tem de engolir e os povos gramar. A justiça que acompanha esta
pandemia de gananciosos, favorece-os e fá-los crescer como cogumelos. Vejamos.
Os senhores Arlindo de Carvalho e José Neto pagaram 22 milhões de euros ao fisco
para não serem encarcerados. Estão acusados de burla qualificada e fraude
fiscal no processo do BPM. A pergunta que eu faço e venho fazendo há anos é
esta: será assim que se faz justiça ou quem tem dinheiro pode continuar
impunemente a roubar porque o que furta dá para pagar multas e ainda sobra
muito para refazer outro acto de corrupção? Um pobre que furte dez reis mel coado
vai parar com os costados na cadeira; o político que rapina o erário público, compra
a liberdade com o que se apropriou. Bela justiça, hei! E nem falo naquele atoleiro de gatunagem dos
PS e PSDs no caso EDP chinesa.
- É por estas e por muitas outras razões
que as nações governadas por idiotas, gatunos e oportunistas posicionaram o
mundo próximo do fim de uma era que serviu de algum modo a humanidade, mas
cavou sobretudo o fosso entre ricos e pobres, informados e analfabetos, grandes
massas homogéneas e ilhas onde o humanismo insiste em imperar. O que vemos hoje
passar-se nos EUA, França, Reino Unido, Brasil e noutros países, com as ruas
invadidas por turbamulta de gente desvairada, em nome de valores que nem conhecem
o seu significado, arrastados por gritos de revolta inscritos no caixote do
lixo que é o Facebook e outros dejectos electrónicos, faz pensar. Porque em
último caso o que tudo isto diz é que há uma desconfiança, um mal-estar social,
uma revolta contra os valores presentes que assusta e dá que pensar. À sombra do
beneplácito regime democrático, um qualquer ditador de esquerda ou direita,
espreita para pôr ordem onde a desordem abana a pacatez madraça das sociedades
democráticas e substituí-lo pela pata fascista ou social fascista. Este arraial
de gente não sabe nada de nada. Actua sob o domínio de palavras de rodem postas
nas redes sociais. E em vez de se informarem, entram no arrastão populista onde
dois valores se disputam há décadas, a direita e a esquerda, explorando essa
zona árida onde abancaram ódios racistas de muita espécie, aversões ao que é diferente, àqueles e àquelas que se alhearam das lutas extremistas em favor da liberdade
individual e colectiva. Fazendo tábua rasa do passado, derrubam símbolos que
fizeram história para os substituir pelo vazio de ideias, a aridez do
pensamento presente, que não assenta na história, no aglomerado de experiências
e lutas do passado, no sofrimento e alegrias, conquistado um e outra no ritmo
próprio de cada época que somado traduz a nossa existência de hoje. Nada
seríamos sem golfadas de homens e mulheres que abriram horizontes até à nossa
chegada. Devemos quem somos a eles, aos nossos antepassados, ilustres ou
simplesmente gente que viveu, trabalhou e fez avançar o mundo das ideias, da
igualdade e da liberdade. Nesta fase “democrática” não cabe nenhuma divisa,
massificados e na ilusão que cada um pode exercer o seu poder, vamos
alegremente caminhando amadurecidos, doentes e decadentes, para a aceitação de
um qualquer ditador de esquerda ou direita. Quando os valores sociais e
religiosos europeus forem estilhaçados, e Cristo condenado nas ruas, nesse
momento a civilização que conhecemos e na qual vivemos, estará definitivamente
morta e enterrada. Os acontecimentos destes dias aceleram o seu fim. Entramos no mundo das trevas e do obscurantismo.
- Empurrado pelo ensaio de T. S.
Eliot, tive o impulso de reler O Rei
Lear. Tenho várias edições das obras de Shakespeare, assim como traduções. Mas
deu-me para ler a de Álvaro Cunhal e devo dizer que me surpreende a cada passo
pelo conhecimento da língua e dos factos que rodeiam a versão de William
Shakespeare. Talvez lhe falte, como direi, a atmosfera poética que Shakespeare
construiu com originalidade e genialidade. Seja como for, fui correndo o texto
e de uma assentada li (ou reli) cinquenta páginas. É empolgante!
- Almocei em casa dos meus vizinhos
franceses. Acontece que na vivenda ao lado, mora um casal de chineses. A partir
da expansão do coronavírus, eles deixaram de lhes falar e até os mal tratam. A
mulher é mais radical que o marido. Tentei, por isso, concentrar-me nela
explicando-lhe que os pobres vizinhos não são culpados do ditador Xinping ping
ping e que, talvez, eles tenham deixado o seu país para fugir à dominação de
militares e da nomenclatura que o apoia. Foi um almoço doutrinário, portanto...
- Por este andar o calor tórrido que
os técnicos do clima nos prometem para este Verão, vai ser uma miragem. Estou
para despertar a água da piscina desde o princípio do mês, mas vou adiando
porque não quero alimentar o empregado dos chineses, senhor Mexia, sem qualquer
proveito para a perna que as damas das camélias labem com o olhar interior e misericordioso
do seu terno e excitante êxtase. Voltei a pôr um cobertor na cama. Montei e
desmontei o terraço por duas vezes já.