Terça, 30.
Domingo passado na igreja de S. Julião
onde entrei para assistir à missa, esbarrei com o diabo à solta. O
desassossego, o ar festivaleiro, o entra e sai, as corridas das crianças na
nave central, o ruído das conversas como se estivéssemos na praça du Bocage, os
portáteis que não paravam de tocar... era tal que interroguei-me se me havia enganado
e entrado num desses templos brasileiros que capinam por aí. A missa (Vaticano
II) na realidade, começou com um certo atraso. Só então percebi a razão daquele
folguedo: uma qualquer cerimónia iniciática para escuteiros que estavam, de
resto, em grande número no interior. Começado o ofício, logo ribombou o
cu-cu-ru-cu-cu da moderna música gregoriana (a outra, a verdadeira, foi transferida
para os teatros) onde não faltaram as guitarradas e os ritmos de praia. Fugi
espavorido a meio. Eu interiorizei que o silêncio é o elemento por excelência
do diálogo com Deus. A Igreja, hoje, pensando atrair a juventude com a
algraviada pseudo-moderna da patetice e da ignorância, rendeu-se ao efémero com
os olhos postos neste rebanho mais interessado na desbunda que no recolhimento
espiritual ou na vida proposta pelo Evangelho muito difícil de seguir. Já aqui
disse e reafirmo: este não é o caminho, pelo simples facto que o caminho a
seguir está algures dentro de nós e isso os sacerdotes não ensinam.
- “Esta fome doutro (o itálico
é do autor) corpo que nos leva a apalpá-lo, a agarrá-lo, a cheirá-lo, a
mordê-lo, a lambê-lo, a penetrá-lo... Isto com uma espécie de furor misterioso
em que o amor e o rancor se fundem... isto com verdadeira exigência de
absoluto.” José Régio, Diário, pag, 281. O objecto amoroso não é citado, mas
está obsessivamente presente.
- O sinistro presidente do Eurogrupo não me convence. Os seus pares
contabilistas também não. Todos, não obstante as palavras cínicas, querem
deixar cair a Grécia. Arrogantes, chupistas, intolerantes e ditadores, só vêem
números e cifrões. Entretanto, as bolsas especulativas caíram a fundo: Portugal
5,22%, Paris 3,74% e por aí fora. Em paralelo há muita gente a ganhar milhões
com a desgraça dos helénicos. Por cá, o contabilista senhor Cavaco (Silva para
a Madeira), por nosso azar presidente da República “deste país”, diz com a
maior leviandade que “se a Grécia sair ainda ficam 18 membros”. Os jornalistas
e comentadores de serviço, gritam que a Grécia já recebeu ao todo 200 mil
milhões, mas não dizem que a maior parte foi para encher a boca aos banqueiros.
Como também não nos informam quanto desse montante foi para pagar juros aos
agiotas. Que sociedade! Que mundo! É de fugir!
- De súbito, de um dia para o outro, a água da piscina exibe uma cor esverdeada
- cor da desesperança.