quarta-feira, junho 10, 2015

Quarta, 10.
Já tivemos o “menino d´ouro”, o filósofo, o escritor, o engenheiro de diploma passado ao domingo, o arquitecto dos barracões da Guarda, o primeiro-ministro mais arrogante, manipulador, egocêntrico e oligarca de todos os que passaram por S. Bento; temos agora o santo mártir José Sócrates. A trágico-comédia ainda vai no adro.

         - O que é a escrita? Um ronrom permanente.

         - Ontem andei perdido por Lisboa na companhia da Conceição. Começámos por almoçar (muito bem) no CI, de seguida fomos à Gulbenkian ver a exposição D. Quixote, dali despachámo-nos para a Feira do Livro e só tornei a casa depois das nove da noite. Tudo feito a pé, sob um sufocante calor que nos obrigou a bebericar por todo o lado e sempre de bom humor. A joy for ever!

         - Não se pode falar de uma exposição D. Quixote. Em verdade é uma simples língua de espaço no velho museu, com um curto filme de 20 minutos e meia dúzia de exemplares de edições, com especial encanto para as gravuras de Gustave Doré que tanto mexeram com Juan Green. Unamuno dizia que Cervantes era medíocre de gostos, de lugares comuns, e não compreendia como um homem assim logrou criar personagens tão ricas como D. Quixote. Seja como for, o facto é que a sua grande obra chegou intacta ao século XXI e com cada vez mais admiradores do seu género inventivo e profundamente humano. Eu ando tentado a lançar-me este Verão de novo a ler a obra-prima que marcou não só a Espanha como o mundo inteiro, desta feita na versão de Miguel Serras Pereira.

         - Embora já tenha reservado as férias (Julho, Agosto, Setembro) para ler alguns dos livros que ontem comprei: O Sofista de Platão e o ensaio imprescindível de José Trindade Santos, os Textos Filosóficos de Marco Túlio Cícero (vol. I), a Ilíada de Homero na tradução de Frederico Lourenço. Tarefa ambiciosa tendo em vista que no total serão 2.239 páginas!


         - Tive prazer ontem em voltar atrás para passar a pedido da minha amiga no stand da Fundação Gulbenkian para que ela, cedendo ao meu entusiasmo, adquirisse o primeiro volume de A Cidade de Deus de Santo Agostinho. Se ela levar a bom porto o total dos três volumes, terá lido qualquer coisa como 2.538 páginas – tantas quantas eu devorei, anotei, sublinhei e meditei e a elas volto de quando em vez, sempre com o mesmo deleite e avidez de conhecimento.