Sexta, 5.
Entre nós acordamos com o futebol, almoçamos com
ele, deitamo-nos a ouvir falar dele. Um país assim é o que? Eu como toda a
gente sou apanhado nesta histeria colectiva e pasmo com o que leio e ouço. Um
tipo que mal soletra duas letras, vai ganhar a partir de amanhã, 500 mil euros
por mês mais uns trocos de milhões em publicidade e prémios. Esta afronta à
pobreza que cerca há três anos os portugueses, parece não surpreender ninguém. Está
tudo anestesiado e os políticos que deviam andar atentos, acham normal e não se
interrogam de onde vem tanto dinheiro para um só homem. Pelo contrário. Uns
senhores deputados até aceitam jantar sob a batuta do mestre de cerimónias
desportivo que por si só e pelo aspecto visual mais perece um homem das
cavernas. Isto anda à vez: ora está na mó de cima os programas delirantes dos
partidos, ora a fantasia alienante dos clubes desportivos. Esta miséria moral,
esta razia de ideias e sentimentos, honestidade e verticalidade, impõe-se como
elemento aglutinador de uma sociedade que perdeu completamente o rumo e navega
à bolina da sua identidade. O Estado divorciou-se da sua tarefa, entregou os
cidadãos a um punhado de compulsivos adoradores de dinheiro, perdeu o norte, e
hoje está prisioneiro de uns quantos idiotas analfabetos e grosseiros, que
controlam tudo até cada ministro, secretário de Estado, gestor público,
presidente de câmara, de junta de freguesia e dessa abstracção que é a colónia
de analistas e comentadores televisivos.