Sexta, 26.
Com a verdadeira canícula que aí está e
mais a que nos anunciam para o fim-de-semana a chegar aos 40 graus, só trabalho
bem na semi-escuridão em casa ou melhor ainda no ar condicionado de um centro
comercial. Antes, lembro-me, em dias como estes quando ainda não haviam os
famigerados centros comerciais, nós refugiávamo-nos no cinema. O mais perto de
minha casa era o S. Jorge que na altura possuía o melhor ar climatizado de
Lisboa. Depois apareceu o chamado dragstore do outro lado da Avenida da
Liberdade que também tinha uma climatização de truz. Para lá íamos todos
arrastar a asa, em passos de dama chique no Passeio Público, porque os
corredores da loja eram estreitos e labirínticos e a multidão curiosa
demasiada. Isso era a Lisboa de outros tempos, embora o sol seja o mesmo. Alguns
anos após, abriu portas o Imaviz, mas os tempos já eram diferentes. Eu
encontrava-me em plena e bela adolescência com o desassossego instalado no
corpo e a insatisfação a roer-me da cabeça aos pés. O Imaviz era o meu refúgio
nocturno, meu e de um punhado de gente irreverente e insaciável, de todos os estratos
sociais, que derretia horas e as solas dos sapatos em busca de paz no rebuliço sensual
que corria nos três andares do estabelecimento. Ainda por cima, na enfiada no
sentido do Saldanha, existia o Convés, o Montecarlo, o Monumental – tudo
catedrais ajaezadas para encontrarmos aquilo que porventura nos escapou no
Imaviz. Nunca se deixava a zona sem o corpo apaziguado... Se tenho saudades? Não. Cada tempo é o meu tempo e todo o
tempo oferece o deslumbre que comporta a vida na sua plenitude.