sexta-feira, junho 26, 2015

Sexta, 26.

Com a verdadeira canícula que aí está e mais a que nos anunciam para o fim-de-semana a chegar aos 40 graus, só trabalho bem na semi-escuridão em casa ou melhor ainda no ar condicionado de um centro comercial. Antes, lembro-me, em dias como estes quando ainda não haviam os famigerados centros comerciais, nós refugiávamo-nos no cinema. O mais perto de minha casa era o S. Jorge que na altura possuía o melhor ar climatizado de Lisboa. Depois apareceu o chamado dragstore do outro lado da Avenida da Liberdade que também tinha uma climatização de truz. Para lá íamos todos arrastar a asa, em passos de dama chique no Passeio Público, porque os corredores da loja eram estreitos e labirínticos e a multidão curiosa demasiada. Isso era a Lisboa de outros tempos, embora o sol seja o mesmo. Alguns anos após, abriu portas o Imaviz, mas os tempos já eram diferentes. Eu encontrava-me em plena e bela adolescência com o desassossego instalado no corpo e a insatisfação a roer-me da cabeça aos pés. O Imaviz era o meu refúgio nocturno, meu e de um punhado de gente irreverente e insaciável, de todos os estratos sociais, que derretia horas e as solas dos sapatos em busca de paz no rebuliço sensual que corria nos três andares do estabelecimento. Ainda por cima, na enfiada no sentido do Saldanha, existia o Convés, o Montecarlo, o Monumental – tudo catedrais ajaezadas para encontrarmos aquilo que porventura nos escapou no Imaviz. Nunca se deixava  a zona sem o corpo apaziguado... Se tenho saudades? Não. Cada tempo é o meu tempo e todo o tempo oferece o deslumbre que comporta a vida na sua plenitude.