Segunda, 1 de Junho (oh, como o tempo
passa!).
Ontem apesar dos muitos afazeres, ainda
arranjei umas horas para me postar diante da TV. Depois do almoço a ver o
programa de Stephane Bern, Secrets
d´Histoire consagrado ao general De Gaulle. O apresentador que os franceses
estimam e gozam com a célebre frase muito utilizada nos seus programas (suivez-moi), tem para eles um duplo
sentido dada a assumida homossexualidade do comunicador, deixou-me nos limites
do encantamento. Sobretudo, porque a personalidade e o carisma do libertador da
França, foi com delicadeza exposta sem deixar de tocar no essencial que radica
numa certa ideia pessoalíssima do país que De Gaulle tinha. Por outro lado, a
sua grandeza e honestidade, a sua visão e pragmatismo, sem por um momento
deixar que a França fosse diminuída ou ridicularizada, impondo-a a um mundo que
praticamente a seguir a Segunda Guerra ficou circunscrito à América e à Rússia,
sem deixar de estender a mão aos seus invasores e ter marcado a sua estratégia
a um ponto tal que convida, inclusive, Konrad Adenauer para ficar em Colombey
des deux Eglises, é talvez a marca mais forte da sua liderança. O alemão foi o
único chefe de Estado a quem De Gaulle abriu as portas da sua casa de campo. Na
emissão é realçada – e essa necessidade só se impõe tendo em conta as
personagens medíocres e gananciosas que hoje governam o mundo – que ele foi
escrupulosamente servidor e não aproveitador do poder. Exemplos foram dados.
Um: quando convidava a família para almoçar ou jantar no Eliseu, informava-os
de que eram seus convidados e não do Estado, deixando claro que era ele quem
pagava as despesas. Dois: nos departamentos reservados para si e sua mulher
Ivone, mandou instalar um contador de luz de forma a pagar as despesas da
mesma. De facto, Charles De Gaulle foi uma referência que persiste no tempo e,
infelizmente, poucos seguidores tem. Ele marcou o século XX como francês,
Adenauer como alemão e Churchill, embora com pecadilhos, como inglês. A partir
daí uma razia de líderes todos tão pequeninos, tão mesquinhos, tão rentes à
terra de que a Europa sofre os estigmas.
- À noite vi o filme Violette. Trata
da ascensão (a queda será num segundo episódio) de Violette Leduc, a escritora
que amou Simone de Beauvoir e que esta ajudou pagando-lhe, inclusivamente, uma
mensalidade até à consagração e lhe escreveu o prefácio ao romance La bâtarde
julgo que a sua última obra. Tenho-o aqui ao meu lado e sublinhei quando o li
em 1972, estas palavras do Castor que atestam a temática da obra e grosso modo
a vida de Leduc: L´absence (amorosa,
sexual) est un supplice: l´attente
angoissée d´une présence; la présence
est un intermède entre deux absences: un martyre. O filme começa com o seu
primeiro livro (L´asphyxie), o
encontro das duas escritoras, e por ele passam Jean Genet, Camus, todos debaixo
do tecto de uma época efervescente onde brotaram os nomes consagrados que
resistem ao tempo e às modas. A actriz que faz de Beauvoir, é segura e os
traços, o tom de voz parecem-se com a consagrada escritora quando a contactei em
Paris para uma entrevista e ela me despachou com a mesma rispidez e ligeireza: “J´ai
beaucoup de travail. Excusez-moi monsieur.”