segunda-feira, junho 01, 2015

Segunda, 1 de Junho (oh, como o tempo passa!).
Ontem apesar dos muitos afazeres, ainda arranjei umas horas para me postar diante da TV. Depois do almoço a ver o programa de Stephane Bern, Secrets d´Histoire consagrado ao general De Gaulle. O apresentador que os franceses estimam e gozam com a célebre frase muito utilizada nos seus programas (suivez-moi), tem para eles um duplo sentido dada a assumida homossexualidade do comunicador, deixou-me nos limites do encantamento. Sobretudo, porque a personalidade e o carisma do libertador da França, foi com delicadeza exposta sem deixar de tocar no essencial que radica numa certa ideia pessoalíssima do país que De Gaulle tinha. Por outro lado, a sua grandeza e honestidade, a sua visão e pragmatismo, sem por um momento deixar que a França fosse diminuída ou ridicularizada, impondo-a a um mundo que praticamente a seguir a Segunda Guerra ficou circunscrito à América e à Rússia, sem deixar de estender a mão aos seus invasores e ter marcado a sua estratégia a um ponto tal que convida, inclusive, Konrad Adenauer para ficar em Colombey des deux Eglises, é talvez a marca mais forte da sua liderança. O alemão foi o único chefe de Estado a quem De Gaulle abriu as portas da sua casa de campo. Na emissão é realçada – e essa necessidade só se impõe tendo em conta as personagens medíocres e gananciosas que hoje governam o mundo – que ele foi escrupulosamente servidor e não aproveitador do poder. Exemplos foram dados. Um: quando convidava a família para almoçar ou jantar no Eliseu, informava-os de que eram seus convidados e não do Estado, deixando claro que era ele quem pagava as despesas. Dois: nos departamentos reservados para si e sua mulher Ivone, mandou instalar um contador de luz de forma a pagar as despesas da mesma. De facto, Charles De Gaulle foi uma referência que persiste no tempo e, infelizmente, poucos seguidores tem. Ele marcou o século XX como francês, Adenauer como alemão e Churchill, embora com pecadilhos, como inglês. A partir daí uma razia de líderes todos tão pequeninos, tão mesquinhos, tão rentes à terra de que a Europa sofre os estigmas.


         - À noite vi o filme Violette. Trata da ascensão (a queda será num segundo episódio) de Violette Leduc, a escritora que amou Simone de Beauvoir e que esta ajudou pagando-lhe, inclusivamente, uma mensalidade até à consagração e lhe escreveu o prefácio ao romance La bâtarde julgo que a sua última obra. Tenho-o aqui ao meu lado e sublinhei quando o li em 1972, estas palavras do Castor que atestam a temática da obra e grosso modo a vida de Leduc: L´absence (amorosa, sexual) est un supplice: l´attente angoissée  d´une présence; la présence est un intermède entre deux absences: un martyre. O filme começa com o seu primeiro livro (L´asphyxie), o encontro das duas escritoras, e por ele passam Jean Genet, Camus, todos debaixo do tecto de uma época efervescente onde brotaram os nomes consagrados que resistem ao tempo e às modas. A actriz que faz de Beauvoir, é segura e os traços, o tom de voz parecem-se com a consagrada escritora quando a contactei em Paris para uma entrevista e ela me despachou com a mesma rispidez e ligeireza: “J´ai beaucoup de travail. Excusez-moi monsieur.”