Sábado, 27.
O transtorno do mundo começa a ser
inquietante. Uma série de atentados aconteceram ontem demonstrando o trabalho
coordenado dos grupos jihadistas da Daech ou da al-Qaeda. Em Sousse a cidade
aonde fui feliz e onde me curei da depressão no dia em que me esqueci de tomar
a talega de antidepressivos que o Dr. Chiapa me receitou, um tipo irrompe na
praia onde estão grupos de estrangeiros, e desata a disparar
indiscriminadamente. Acaba morto pela polícia seguindo o destino de mais 37
infelizes que gozavam o sol da Tunísia. A sueste da França, um solitário
decapitou o patrão de uma empresa, fez vários feridos e tenta pegar fogo à
fábrica. É apanhado, andava a ser vigiado há pelo menos dois anos. No Koweit
uma mesquita é assaltada à bomba e uma trintena de fiéis mortos. Estamos numa
guerra onde o ódio pode mais que o armamento bélico mais sofisticado. Os
ataques acontecem a qualquer hora, em qualquer lugar, criando instabilidade e
temores, vítimas e estupefacção. No espaço de dez anos, o mundo conheceu um
volte-face tremendo com origem na política agressiva e destituída de razão dos
americanos, que por sua vez arrastaram a Europa temerosa e subserviente. Se
olharmos os focos frágeis neste momento instalados no mundo, apercebemo-nos de que
qualquer coisa de terrível pode estoirar de um dia para o outro.
- Quando o temor vinha das duas únicas superpotências – Estados Unidos e
Rússia – podíamos de certo modo precaver-nos. Hoje a ganância explodiu na
Europa desde que o euro mal estudado e mal pensado enquanto moeda única para
países tão diferentes económica e socialmente, de braço dado com a globalização,
foi imposto por uma oligarquia dirigida por sociedades secretas que ditam os
modos de exploração de batalhões de seres reduzidos ao estádio vizinho da
subsistência. Ainda por cima sem independência, sujeitos a regras e tratados
obscuros, feitos à troche-moche, e enquanto mais fracos coagidos sob pena da
escravidão total a aceitar políticas ruinosas, que os sentenciam por várias
gerações ao suplício do pagamento da dívida dos juros que engordam essas
sociedades secretas e o derrame de milhões destas directamente para aqueles que
se conformam, calam, movimentam a teia de interesses que a todos liga. A quem
ousar enfrentá-los, cai-lhes a espada de Dâmocles. Foi o caso da Grécia que por
referendo vai dizer se aceita ser escrava por quatro gerações dos homens que os
arruinaram e não desistem de lhes sorver a última gota do sangue da sua liberdade.
Espero sinceramente que os gregos saiam da consulta popular reforçados na sua
dignidade e compreendam o modo diferente de fazer política que o Syriza
introduziu na máquina rançosa e cúmplice, corrupta e arrogante, que hoje impera
na União Europeia. Mais ou menos o que se passa é isto: a dívida propriamente
dita é de 40 por cento, o resto, 60 por cento, são juros ou seja o lucro dos credores. Quem pode aceitar um
roubo destes? A senhora Merkel sabia o que estava por trás desta desgraça,
quando emprestou dinheiro aos gregos para que estes pagassem as dívidas aos
bancos alemães e franceses. O dinheiro entrou, mas saiu na hora seguinte,
deixando um rasto de terror na forma de mais dívida.