quarta-feira, junho 03, 2015

Quarta, 3.
Almocei com o Zé V. Pereira numa braserie francesa perto da sua casa. Desci em Entrecampos e fui Avenida da República a pé até ao Saldanha e depois ao Corte Inglês no final do repasto (quase uma sanduiche com bocados de galinha e ervas para grilos) completar a refeição. Esta moda dos restaurantes de comida minimalista, caríssimos, impera por todo o lado. Os lisboetas saloios, vindos da província profunda onde nada acontece, encontram nestes lugares a passadeira que repõe a grandeza que nunca tiveram. Eu que como muito pouco, mas gosto da boa e saudável cozinha portuguesa, saio sempre a salivar não de prazer, mas de fome e carteira vazia pelo assalto de gatunos modernos. O Éclair que dá o nome ao restaurante, custa 4 euros e tem o formato exacto para entrar num dente cariado. Estão dispostos como soldados de chumbo no balcão frigorífico, mas àquele preço terminam o dia no contentor do lixo. É um facto que se fala francês, se ouve Charles Aznavour, mas a clientela é campónia e tanto gosta daquilo como de qualquer outra porcaria que a moda ditar. O sumo que acompanhou o mísero manjar, tinha não sei quantos frutos e ervas aromáticas. Fiz notar ao empregado vindo de França o exagero de sabores e ele respondeu-me que os clientes gostavam assim. Estupidez a minha. Pois que outra coisa deviam eles apreciar!

         - Sobra a conversa agradável com o meu amigo de longa data onde na desordem dos temas imperaram os livros. ZVP desabafou que anda pouco dado a leituras, ele que foi não só jornalista, crítico e tradutor, mas ainda um leitor compulsivo. Andará ali uma ligeira depressão própria da idade, embora a sua pessoa surgisse apessoada num casaco azul claro e calças cinzentas. Falando de política, ele tem este desabafo: “Não me parece que isto lá vá com o PS. É o mesmo programa apresentado por António Costa.”

         - Voltei no comboio da Fertagus apinhado de passageiros. Trouxe comigo o jantar e mais uns quantos produtos comprados no super do CI. À noite telefonou a Annie que está na sua casa da praia, em Kiberon. Se bem antevi pela conversa, desistiu de cá vir este ano. Tristeza. Falou também a Alice a insistir que vá eu a Caldas vê-la. Já prometi não sei quantas vezes que ia, mas o muito trabalho interpõe-se e a data vai sendo sucessivamente adiada. Talvez na próxima semana ficando eu na sua companhia apenas um dia devido às regas. E para finalizar o Príncipe a desafiar-me para irmos juntos à Feira do Livro.


         - Para a Europa com regozijo, para a África com pesar, o senhor todo poderoso do futebol mundial, Joseph Blatter, renunciou ao posto depois de ter sido reeleito há quatro dias contra ventos e marés e processos americanos oportunos na véspera da eleição. Os interesses movimentam-se para o suceder, os ratos serpenteiam para chegar céleres ao queijo francês. O octogenário não é melhor nem pior que os demais. Todos sabem como meter a mão no saco sem fundo do futebol.