Quarta, 3.
Almocei com o Zé V. Pereira numa braserie
francesa perto da sua casa. Desci em Entrecampos e fui Avenida da República a
pé até ao Saldanha e depois ao Corte Inglês no final do repasto (quase uma
sanduiche com bocados de galinha e ervas para grilos) completar a refeição. Esta
moda dos restaurantes de comida minimalista, caríssimos, impera por todo o
lado. Os lisboetas saloios, vindos da província profunda onde nada acontece,
encontram nestes lugares a passadeira que repõe a grandeza que nunca tiveram.
Eu que como muito pouco, mas gosto da boa e saudável cozinha portuguesa, saio
sempre a salivar não de prazer, mas de fome e carteira vazia pelo assalto de gatunos
modernos. O Éclair que dá o nome ao
restaurante, custa 4 euros e tem o formato exacto para entrar num dente
cariado. Estão dispostos como soldados de chumbo no balcão frigorífico, mas àquele
preço terminam o dia no contentor do lixo. É um facto que se fala francês, se
ouve Charles Aznavour, mas a clientela é campónia e tanto gosta daquilo como de
qualquer outra porcaria que a moda ditar. O sumo que acompanhou o mísero
manjar, tinha não sei quantos frutos e ervas aromáticas. Fiz notar ao empregado
vindo de França o exagero de sabores e ele respondeu-me que os clientes
gostavam assim. Estupidez a minha. Pois que outra coisa deviam eles apreciar!
- Sobra a conversa agradável com o meu amigo de longa data onde na desordem
dos temas imperaram os livros. ZVP desabafou que anda pouco dado a leituras,
ele que foi não só jornalista, crítico e tradutor, mas ainda um leitor
compulsivo. Andará ali uma ligeira depressão própria da idade, embora a sua
pessoa surgisse apessoada num casaco azul claro e calças cinzentas. Falando de
política, ele tem este desabafo: “Não me parece que isto lá vá com o PS. É o
mesmo programa apresentado por António Costa.”
- Voltei no comboio da Fertagus apinhado de passageiros. Trouxe comigo o
jantar e mais uns quantos produtos comprados no super do CI. À noite telefonou
a Annie que está na sua casa da praia, em Kiberon. Se bem antevi pela conversa,
desistiu de cá vir este ano. Tristeza. Falou também a Alice a insistir que vá
eu a Caldas vê-la. Já prometi não sei quantas vezes que ia, mas o muito trabalho
interpõe-se e a data vai sendo sucessivamente adiada. Talvez na próxima semana
ficando eu na sua companhia apenas um dia devido às regas. E para finalizar o
Príncipe a desafiar-me para irmos juntos à Feira do Livro.
- Para a Europa com regozijo, para a África com pesar, o senhor todo
poderoso do futebol mundial, Joseph Blatter, renunciou ao posto depois de ter
sido reeleito há quatro dias contra ventos e marés e processos americanos
oportunos na véspera da eleição. Os interesses movimentam-se para o suceder, os
ratos serpenteiam para chegar céleres ao queijo francês. O octogenário não é melhor
nem pior que os demais. Todos sabem como meter a mão no saco sem fundo do
futebol.