Sábado, 13.
Andreas Lubitz, o homem que se suicidou
com mais um avião inteiro de viajantes, sabemos hoje, andava há anos com uma
depressão de tal modo profunda, que o levou a percorrer o calvário dos
consultórios de psiquiatras, psicólogos, oftalmologistas, ao todo 41 médicos,
em busca do sossego que a sua mente perturbada carecia. Eu na altura disse que
não acreditava que a companhia não soube do estado de saúde do seu piloto.
Reforço agora a convicção de que a Lufthansa não só sabia como na sua ganância e
irresponsabilidade fingiu desconhecer.
- Ontem e hoje descanso merecido devido à ajuda da (pouca) chuva que
caiu. Por dois dias não tive o suplício de arrastar mangueiras, gastar água e
energia. As árvores e as plantas estão felizes e eu também.
- Aqui
há tempos, indo eu atravessar o Rossio, reparei que ao meu lado estava um
sujeito cuja figura não me era de todo desconhecida. O homem dava-me pelo
ombro, ia de camisa aberta soltando um peito piloso de meter medo. Tinha todavia
qualquer coisa de simpático e um imperceptível sorriso estampado no rosto. Ambos
ficámos um bom bocado à espera que o semáforo nos permitisse atravessar a rua.
Foi quando olhei melhor e reconheci o ministro do Ambiente, Ordenamento do Território
e Energia. Soltaram-se-me de imediato os gazes figadais e estive para lhe
perguntar quando perdia o medo e investia como era seu dever contra os
excessivos lucros da eléctrica chinesa. Pressentindo o meu pensamento, ele
olhou-me, quer dizer, olhámo-nos e eu recuei porque ele me pareceu por encanto uma
criança querida e sage e eu sou
incapaz de investir sobre as crianças... No íntimo, porém, não deixei de pensar
no amigo Álvaro. Não porque fosse mais alto – não costumo medir as pessoas pela
altura e nem admito que isso seja factor de cálculo -, mas porque o seu
antecessor era mais corajoso e menos apegado às bavardages partidárias.