sábado, junho 13, 2015

Sábado, 13.
Andreas Lubitz, o homem que se suicidou com mais um avião inteiro de viajantes, sabemos hoje, andava há anos com uma depressão de tal modo profunda, que o levou a percorrer o calvário dos consultórios de psiquiatras, psicólogos, oftalmologistas, ao todo 41 médicos, em busca do sossego que a sua mente perturbada carecia. Eu na altura disse que não acreditava que a companhia não soube do estado de saúde do seu piloto. Reforço agora a convicção de que a Lufthansa não só sabia como na sua ganância e irresponsabilidade fingiu desconhecer.

         - Ontem e hoje descanso merecido devido à ajuda da (pouca) chuva que caiu. Por dois dias não tive o suplício de arrastar mangueiras, gastar água e energia. As árvores e as plantas estão felizes e eu também. 

         - Aqui há tempos, indo eu atravessar o Rossio, reparei que ao meu lado estava um sujeito cuja figura não me era de todo desconhecida. O homem dava-me pelo ombro, ia de camisa aberta soltando um peito piloso de meter medo. Tinha todavia qualquer coisa de simpático e um imperceptível sorriso estampado no rosto. Ambos ficámos um bom bocado à espera que o semáforo nos permitisse atravessar a rua. Foi quando olhei melhor e reconheci o ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia. Soltaram-se-me de imediato os gazes figadais e estive para lhe perguntar quando perdia o medo e investia como era seu dever contra os excessivos lucros da eléctrica chinesa. Pressentindo o meu pensamento, ele olhou-me, quer dizer, olhámo-nos e eu recuei porque ele me pareceu por encanto uma criança querida e sage e eu sou incapaz de investir sobre as crianças... No íntimo, porém, não deixei de pensar no amigo Álvaro. Não porque fosse mais alto – não costumo medir as pessoas pela altura e nem admito que isso seja factor de cálculo -, mas porque o seu antecessor era mais corajoso e menos apegado às bavardages partidárias.