Terça, 31.
Esta frase de Ingres que eu conhecia,
mas não sabia ser dele e vem citada no Diário de Green (enfim, nem tudo é pouca
vergonha...): “Avec le talent on fait ce qu´on veut. Avec le génie, on fait ce
qu´on peut.”
- A propósito. Findo o ano com 510 páginas lidas desde o início do mês do
desconcertante Diário de Julien Green. Nada mau. Sobretudo se a isto somar mais
215 do livro sapiencial do AT.
- Donald Trump, goste-se ou não da personagem, eu não gosto, embora não
reprove tudo o que o homem faz ou diz à sua maneira alarve, tem tanta
importância que o Público de domingo oferece-lhe nada mais nada menos que 6 páginas
de maldizer.
- Marcelo, no afã de ultrapassar Mário Soares em popularidade, corre
a todas sem se perceber qual é o critério. Agora acaba de condecorar um homem
do futebol que fala um português que eu me vejo grego para entender, com a Ordem
do Infante D. Henrique - du n´importe quoi.
- A pouco e pouco, aos olhos de toda a gente, os países
concentracionários – Rússia, Coreia do Norte, China – vão implementando a estratégia da guerra. Dominados pela força e autoridade os seus povos, com
liberdade de expressão suprimida ou vigiada, voltaram-se para a arma mais
bélica dos nossos dias: as redes sociais. Assim, a Rússia, juntando-se aos
regimes ditatoriais, construiu também uma rede de Internet, a RuNet, exclusiva
que lhe autoriza espiar e controlar os seus compatriotas, em circuito fechado,
quero dizer uma rede que não permite aos cidadãos entrar em contacto com os
habitantes e amigos de outros países, com servidores próprios e técnica bastante
para garantir aquilo a que chamam “a segurança das infra-estruturas do país em
caso de ciber-ataque”. Mais: os fornecedores de Internet russos são obrigados a
adquirir tecnologia bastante que possibilite desligar os tráfegos globais,
reencaminhando toda a informação para o servidor estatal denominado Roskomnadzor.
- A Austrália, como se o fogo fosse uma brincadeira e as inúmeras mortes
e casas destruídas e árvores comidas pelas chamas e ainda ontem terem morrido
mais duas pessoas, decidiu comemorar a entrada no Novo Ano com fogo de
artifício monumental. Já antes, em pleno desastre, o primeiro-ministro tinha
deixado o país para férias. Que dizer? Os governantes são tão assassinos como
os governados.
- Hoje todo o santo dia brumoso. Tempo típico de Paris – moche, moche.
- A imagem do mundo tal como o vejo neste dobrar do ano. Há tanta
tragédia a desenhar-se diante dos nossos olhos distraídos, que o confronto com
a realidade só pode terminar num banho de sangue e no desaparecimento dos
valores de liberdade que nos elevaram desde a Segunda Grande Guerra. Apesar
disso, teimo em ser optimista, não quero deixar de desejar aos meus leitores um
2020 barrado às desgraças e iluminado pela fraternidade como valor originário da
humanidade.