segunda-feira, dezembro 16, 2019

Segunda, 16.
Em quinze dias li 300 páginas do outro Green e umas 100 da Bíblica (Os Livros Sapienciais). Estou com os olhos em bico, porque o esforço das 1400 páginas do Journal Intégral, naqueles caracteres miúdos e ainda por cima impressos sobre papel dito bíblico, deixa-me os olhos mais pequenos de cansaço. Sem falar na quantidade de leituras marginais: artigos, jornais, textos no computador, coisas avulso que me caiem nas mãos.

         - Não sei o que me deu. Tendo-me deitado por volta da meia-noite, só me levantei às oito e meia. Que grande preguiçoso me saíste, rapaz. Para não deixar este canto paradisíaco. Um dia de chuva constante, reteve-me entre muros e nem por minutos deitei o nariz fora de porta. Como mantenho dúvidas quanto ao primeiro capítulo do romance, ataquei (julgo) a quinta revisão deste cujo destino é uma incógnita. De manhã avancei nas primeiras 17 páginas, à tarde mais 12. Sem pôr de lado as leituras que ocuparam uma parte substancial das horas serenas aqui vividas, com o sussurro da chuva em sinfonia ora lenta, ora moderata, ora presto. Daqui a nada acendo a lareira e ao serão não perderei Echappées Belles na TV5Monde. A vida simples, consagrada ao trabalho, traz-me uma felicidade nua, irrecusável.

         - A Annie telefonou. Uma meia hora ao telefone com o derrame do quotidiano que é hoje o da maioria dos parisienses. As greves estão por todo o lado e a linha 13, a famosa e horrível linha 13, está completamente paralisada há mais de oito dias. Consequência: sem metro as pessoas limitam-se à vizinhança onde compram o necessário à sua subsistência. Pior ainda: nada de bom parece alterar o horroroso de ter que passar o Natal sem férias ou visita a familiares distantes. O sindicato dos transportes responde que a bola está do lado do Governo: ou altera a proposta de lei da reforma por pontos ou a greve não tem data para acabar. Com os franceses não se brinca e Chou Chou devia saber isso.


         - O deputado da direita fez afixar um grande cartaz com a palavra “vergonha” em frente à Assembleia Nacional. Com que direito? Aquela sua atitude é tão prepotente como a de Jaime Gama. Ambos extravasam dos seus direitos e deveres. Eu acho que a Polícia devia mandar retirar aquela afronta à democracia. Por quem se toma o sujeito! E quem pagou a afronta? Decerto os corruptos do futebol que ele representa no Parlamento.