terça-feira, dezembro 10, 2019

Terça, 10.
Todos os anos por esta altura, a Austrália como nós, passa por dramáticos momentos devido aos incêndios. Este ano, quer-me parecer, que foram dos piores que ciclicamente atingem o país. Chegaram perto da cidade e da sua maravilhosa Ópera, embora os bombeiros os combatam há quase quinze dias. Mais de cem fogos comem a floresta de Norte a Sul. Parece vingança dos primitivos habitantes que naquela densa floresta foram deixados: ladrões, prostitutas, assassinos, revoltados.

         - A política de hoje e talvez a de sempre não dá para compreender. De um lado dizem-nos que as reformas tendem a acabar ou a transformar-se numa esmola aos velhos; por outro incentivam os funcionários públicos a entrar, forçados, na aposentação.

         - Prossigo Green. O que me desnorteia agora que a vida do grande homem entra no verdadeiro desassossego e nem a sua relação amorosa com Robert o acalma, é o desprezo com que trata quem engata nos parques, nas retretes públicas ou nos bares e cafés frequentados pelos rapazes fraldiqueiros que dão para o outro lado. Frio, exigente, escolhendo com a nota de 50 francos na mão, sodomiza-os, usa-os a seu bel-prazer e depois despeja-os no caixote do lixo da solidão e abandono mais hediondos. Está com trinta anos, três ou quatro livros publicados. Passou a frequentar os seus pares, diz mal de todos inclusive de François Mauriac que veio a suceder na cadeira da Academia. Como acontece com muitos homossexuais que resolveram imitar os heterossexuais e levar a mesma vidinha vazia e monótona, os dois, Julien e Robert, passam a cenas de sexo com menores. Não é o concúbito, a vida entre pessoas do mesmo sexo que me choca, é usar os desgraçados a troco de dois patacos e descartá-los de seguida uma vez satisfeitos os instintos. Pela sua pena, sabemos que o homem masturba-se todos os dias e o seu forte nas relações com os homens que surpreende nas longas horas de engate, é a annulingus.

         - O grande educador da classe operária, o nosso simpático homem da política activa, está a enfrentar o desinteresse da maioria dos tertulianos para o almoço habitual de Natal. Ontem eu recusei, comigo o António e o Virgílio. 

         - Um artigo publicado ontem no Público, da autoria de Patrícia Carvalho, dá conta que só a Ryanair e os navios que atracam nos nossos portos, poluem mais que os automóveis que nos querem tirar ou substitui à força por eléctricos que custam os olhos da cara. O que é que se está a tramar nas nossas costas!