Terça, 24.
A Alice referia-se ontem às toneladas de
“amigos” que não têm uma palavra durante todo o ano, mas apressam-se a saudá-la
e a desejar-lhe com a mais pura falsidade tudo e mais alguma coisa no próximo
ano. Eu já me livrei disso. Foi a pouco e pouco de modo a rejubilar com os
votos dos autênticos amigos, aqueles que sabem criar amizade e mantê-la na mais
sublime reciprocidade e sinceridade.
- A televisão onde tudo é cinismo e hipocrisia, fala do “espírito
natalício”. Quer dizer do princípio cristão da quadra. Mas onde é que isso já
vai! E mesmo quanto à família, que os cómicos apresentadores se esforçam por
alimentar, empurrados pelas marcas que não dispensam a fantasia, também estamos
conversados. As estatísticas sobre a instituição são o melhor paradigma, assim
como o número de mulheres mortas às mãos dos maridos, os casais em união de
facto, as toneladas de divórcios, as vidinhas de fachada e os milhares de
infelizes a representar o papel doloroso e confrangedor do faz-de-conta.
- Em França, apesar da época natalícia, contra os pedidos para que
suspendessem a greve, os bravos maquinistas dos comboios não cederam um
milímetro e reafirmam que estão ali para mais um mês se Chou Chou não mudar de
intenções quanto à reforma por pontos.
- Avanço, enfim, devia dizer antes arrasto-me na leitura dos salmos
atribuídos a David (livro sapiencial, vol. IV, tomo 2, tradução de Frederico
Lourenço). A beleza deste versículo (39:18): “Meu auxiliador e meu protector és
Tu. Meu Deus, não demores.”
- Dois dias simplesmente radiosos. Aproveito-os, lendo, lá fora, um
chapéu de palha na cabeça, em calções, gozando do privilégio que me coube de
viver num lugar representativo do Paraíso. Glória
in excélsis Deo.