terça-feira, dezembro 24, 2019

Terça, 24.  
A Alice referia-se ontem às toneladas de “amigos” que não têm uma palavra durante todo o ano, mas apressam-se a saudá-la e a desejar-lhe com a mais pura falsidade tudo e mais alguma coisa no próximo ano. Eu já me livrei disso. Foi a pouco e pouco de modo a rejubilar com os votos dos autênticos amigos, aqueles que sabem criar amizade e mantê-la na mais sublime reciprocidade e sinceridade.

         - A televisão onde tudo é cinismo e hipocrisia, fala do “espírito natalício”. Quer dizer do princípio cristão da quadra. Mas onde é que isso já vai! E mesmo quanto à família, que os cómicos apresentadores se esforçam por alimentar, empurrados pelas marcas que não dispensam a fantasia, também estamos conversados. As estatísticas sobre a instituição são o melhor paradigma, assim como o número de mulheres mortas às mãos dos maridos, os casais em união de facto, as toneladas de divórcios, as vidinhas de fachada e os milhares de infelizes a representar o papel doloroso e confrangedor do faz-de-conta.

         - Em França, apesar da época natalícia, contra os pedidos para que suspendessem a greve, os bravos maquinistas dos comboios não cederam um milímetro e reafirmam que estão ali para mais um mês se Chou Chou não mudar de intenções quanto à reforma por pontos.

         - Avanço, enfim, devia dizer antes arrasto-me na leitura dos salmos atribuídos a David (livro sapiencial, vol. IV, tomo 2, tradução de Frederico Lourenço). A beleza deste versículo (39:18): “Meu auxiliador e meu protector és Tu. Meu Deus, não demores.”


         - Dois dias simplesmente radiosos. Aproveito-os, lendo, lá fora, um chapéu de palha na cabeça, em calções, gozando do privilégio que me coube de viver num lugar representativo do Paraíso. Glória in excélsis Deo.