quinta-feira, dezembro 26, 2019

Quinta, 26.
Há tantas provas que os partidos, à excepção do BE, Verdes e pouco mais, se estão nas tintas para o buraco de ozono, alterações climatéricas e saúde pública, que uma simples proibição do glifosato hoje reconhecido como causador de vários tipos de cancro, não passou a semana passada na Assembleia. Os interesses das grandes empresas são mais importantes que as pessoas e as suas vidas. Cambada de hipócritas.

         - Este e-mail que Brito me mandou e revela o homem lúcido e o jornalista exemplar que ele foi.

“Estimado amigo Helder
Registo com agrado as suas palavras votivas de esperança por um ano melhor e retribuo com os votos chineses: SABEDORIA, LONGA VIDA E ABUNDÂNCIA.
Goze a vida o melhor que puder e souber, o resto são sonhos desfeitos e circunstâncias que nos escapam.
Abraços neste período de CARNAVAL...
Dias Brito”

         - Há em Portugal muito poucas pessoas capazes de manter a autêntica liberdade que é  dizer o que pensam e fazê-lo de mente aberta e espírito livre. Cito duas: Ana Gomes e Francisco Teixeira da Mota. Portugal e a democracia devem-lhe muito, porque ambos assentam as lutas na ética que comanda o raciocínio, a razão e a objectividade. Os partidos, as pessoas como Isabel dos Santos, os políticos como José Sócrates fogem deles. Estão sempre certos? Longe disso. Como todos os intelectuais que se expõem em favor da verdade e da justiça e correm riscos com isso, devem merecer o nosso reconhecimento. Os outros, os que se calam, têm medo, são covardes, imbecis, concordam com statu quo, merecem simplesmente o nosso desprezo.

         - Na Missa do Galo a que assisti, o Papa Francisco, lançou: “independentemente dos nossos pecados, Deus ama-nos”. É uma admirável mudança da Igreja na relação de Deus connosco, muito distante daquela imagem do Deus vingativo e tirânico, vinda através dos séculos, empurrada por S. Paulo e Santo Agostinho, que afugentaram milhares de católicos. Quando Deus é amor desde o princípio dos tempos.

         - A impressão que tenho é que se não houvesse pobreza disparava o número de desempregados. Esta sensação é mais clara para mim nesta altura do ano. Porque ao ver a quantidade de almas caridosas que se dedicam a levar ao estômago dos infelizes a consoada de Natal, sei de fonte segura que, atrás de todo este movimento, estão interesses de muita ordem, a começar pelos salários gordos dos presidentes, directores, gestores das instituições que deviam existir voluntariamente ou não existir de todo se o Estado fosse mais equitativo. E quando eu ouço na televisão - que é o lugar certo para a grandeza destes franciscanos -, dizer que o pobre não tem dinheiro para dar uma prenda ao filho, para uma ceia digna da quadra, o problema não é ter meios para dar o que as crianças desejam - é ter dinheiro para comer o ano inteiro. Enfim, já D. Dinis acusava os conventos de manterem milhares de pobres às costas da caridade que não queriam trabalhar.

         - O que quero reflectir é sobre o país que somos. Dizem-nos que a democracia mudou muito quem somos e como somos. Talvez aqui e acolá, mas para pior. O baixo nível cultural é enorme, há uma razia de abaixamento da qualidade em quase todos os sectores,  a aridez da vida que vivemos, feita de coisa nenhuma, montada sobre valores efémeros que nos democratizam na mediocridade, no egoísmo, longe de qualquer valor moral, ético, educacional. E no entanto, sou dos que acredito que os valores essenciais da nossa raiz estão por aí ofuscados pela imposição do dinheiro, do ter, da importância em linha com os novos-ricos diplomados na arrogância, no provincianismo, na bazófia. Tombámos todos para um lado só: futebol, o enriquecimento, o quotidiano árido, à manjedoura da televisão, a grande culpada da rifa 0. Está tudo padronizado pelos Trumps, Bolsonaros, Xi Jinpings e assim. Um exemplo: na véspera de Natal cheguei a casa e liguei a televisão. Na RTP1 deparei com um pacóvio a cantar balouçando-se todo: “Maria tchá tchá tchá”, um horror de mau-gosto, de sargeta, de; zarpei para Viena onde à mesma hora, no velho teatro onde tinha estado há dois anos nesta altura, à cunha, acontecia um espectáculo maravilhoso de canções de Natal. É isto que o povo quer ou é isto que lhe dão?

         - Sobra deste tempo a descoberta histórica feita por uns cómicos brasileiros travestidos de eruditos, segundo os quais Jesus Cristo era homossexual. Bom. Sabemos como são os nossos cómicos, imaginem os seus confrades brasileiros. Ambos sabichões de muita cultura, de língua afiada e sexo mal vivido, amantes do dinheiro e fama porque a vida de cómico é difícil, servem-se de tudo e de todos em nome da liberdade de expressão. Os seus patrícios de além-mar não gostaram e meteram-lhes umas bombas no edifício onde foi produzida a obra de arte. Se o grosseiro ataque fosse contra Alá, liquidavam-nos um a um. Mas Jesus Cristo é bom e está habituado a estas investidas idiotas e oportunistas.  


         - E com esta me vou: quando é que o Mágico deixa a propaganda e passa a governar?