domingo, dezembro 15, 2019

Domingo, 15.
Julien Green se praticasse a drague que o levou a engatar centenas de jovens, muitos pelos catorze, quinze anos o seu forte, hoje estava na prisão. O homem era um desassossego. Percorria parques, avenidas, banhos públicos, retretes, saltava de autocarro em autocarro na perseguição de um miúdo, recebia em casa, dormia com este e com aquele, trocava adolescentes com amigos, num movimento incessante que o levou depois ao estrangeiro, sobretudo a Alemanha onde chegou a ter dois rapazes em simultâneo, ambos com o nome de Adolf. Estou curioso em saber até que idade esta doença o atacou; agora não tenho dúvidas que o filho adoptivo era antes de mais seu amante. É caso para dizer: olha para o que escrevo, não para o que faço. Na escrita sou orientador espiritual, nas ruas um diabo porno. Esta dupla personalidade, esta espécie de esquizofrenia surpreende os seus leitores do Diário publicado. Toda a sua obra literária, vista à luz da celebridade, que digo eu, debochada ilustra aquilo que Paul Morand diz no seu diário: as personagens femininas greenianas não passam de transsexuais, a mulher não tem as reacções que o seu criador lhes confere.
       
         - Vai por aí outra chiste nascida, como quase todas as outras, no Parlamento: o confronto entre o Presidente da Assembleia e o deputado da direita de seu nome André Ventura. Este utilizou a palavra “vergonha” para qualificar certa actividade do Hemiciclo.  O mesmo vocábulo que o BE e outros partidos usam quando lhes chega a mostarda ao nariz. Só que desta vez, Jaime Gama insurge-se e corta a palavra ao solitário deputado, em nome do respeito pela Casa dos Portugueses, numa clara demonstração de prepotência contra a liberdade de expressão. Os socialistas aplaudiram. Eu que não gosto do emissário do futebol, estou do seu lado nesta questão. Em democracia, goste-se ou não da direita (eu não gosto), temos de aceitar as suas opiniões e combatê-las com sabedoria e vigor.

         - A primeira papoila que em francês toma o nome (rigolô) de coquelicot e vira masculina, acabou de aparecer no campo. Não tarda multiplica-se e cobre a terra da sua beleza de um vermelho intenso e frágil.


         - Detesto este clima maçudo, cinzentão, que faz que chove, mas não chove, empinado do nariz sisudo, que nos obriga a olhá-lo de soslaio, nos rouba o sol que é o nosso protector, nos retém contra nossa vontade em casa ou nos supermercados em passeios de cão ao fim do dia, e por isso larguei para Lisboa onde toda a gente se juntou a mim em protesto contra o dia tresmalhado da exultação.