quinta-feira, dezembro 19, 2019

Quinta, 19.
O Orçamento de Estado apresentado por Centeno é uma obra prima que permitirá aos portugueses viver no paraíso no próximo ano. Se não fora o coro dos outros que logo vieram destruir as fantasias do técnico que montou ao trono de Bruxelas, a magia continuaria. Ao ponto de ele se vangloriar em nome de nós todos de pela primeira vez haver um excedente. Mas esta mais-valia é a que falta no SNS, nas escolas, nos investimentos públicos, e só é possível porque os velhos, que já auferem reformas miseráveis, vão ser aumentados em um, dois euros/mês e o salário mínimo é tão baixo que milhares de cidadãos não têm onde dormir. Se as pessoas não fossem tão passivas, sairiam à rua em protesto. Porque dinheiro há a rodos. De contrário não teriam aumentado os juízes em 700 euros/mês, os ordenados dos gestores bancários não seriam o que são, e por aí adiante.

         - De igual modo, se não houvesse dinheiro aos montes, os partidos seriam chamados a pagar as coimas devidas por exercícios de campanhas aldrabados ou desleixados. Segundo o artigo da autoria de Leonete Botelho, no Público de há dias, em 2009, 2010 e 2011, anos de três actos eleitorais, as contas dos partidos somavam irregularidades no montante de centenas de milhares de euros. Que aconteceu, porque não pagaram eles as multas? Pura e simplesmente porque prescreveram. Isto é, ficaram sem efeito graças às alterações legislativas aprovadas na Assembleia por mais de dois terços, em Janeiro de 2018. Só em 2009 ficaram por pagar coimas no valor entre os 110 mil e os 4,245 milhões de euros a que tinham sido condenados PSD, PCP, PEV!! Há dinheiro ou não? Este bónus e decerto os seguintes, fora trabalhado em segredo no Parlamento em 2017. Recordo que não vivemos em ditadura.

         - Terminei a quarta revisão do primeiro capítulo. Assaltado por dúvidas e receios, descrença e temores, devia lançar-me em mais uma inspecção do todo. Porque descubro sempre coisas que me escaparam: gralhas, frases mal construídas, adjectivação a mais, complementos directos em falta, tempos de verbos desajustados, etc. etc.


         - O saltério do vento imperou ontem ao serão e pela noite fora. Terminado o meu dia pelas onze horas da noite, deixei-me ficar no salão a escutar a sua trova milenar, que tangia nas janelas e portas, transformando a casa numa orquestra desafinada e ruidosa. Parecia que todas as vozes do mundo se tinham agrupado para me manter acordado, levitando sobre o fundo ora violento, ora suave de uma melodia cujo tema corria do princípio ao fim a pauta musical. No quarto, a ladainha do vento não era tão perceptível. Pelo contrário, transformara-se num finíssimo violino que me chegava aos ouvidos tratado a preceito por um compositor romântico que sabe fazer trovas melodiosas que nos cobrem de doçura e inundam de tranquilidade. Foi nesse embalo ternurento que fui entrando devagar no mundo voluptuoso dos sonhos...