quarta-feira, fevereiro 27, 2019

Quarta, 27.
Vai por aí um falatório artificial sobre a violação dos nossos dados pessoais. Quem melhor abordou o assunto, foi o deputado do PSD Carlos Abreu Amorim, ao considerar “que a solução do Governo ao isentar todo o sector público (de multas) fará com que os responsáveis de cada entidade deixem simplesmente de se preocupar com assunto da protecção de dados”. Isto porque há facções que dizem que não faz sentido o Estado taxar-se a si próprio. Então pergunto: e se quem se sentir violado na sua intimidade cobrar ao Estado a respectiva coima? Simples pergunta.

         - Comecei a revisão do sexto e último capítulo de O Juiz Apostolatos. Fica a sobrar o Epílogo embora, como é bem de ver, a exemplo da empregada que limpa o pó e há sempre uma réstia de poeira que fica, assim vou eu ter que fazer uma segunda correcção. É este o drama e a loucura do escritor – nada lhe agrada, há sempre coisas a corrigir, a alterar, a acrescentar, a suprimir. Um romance é uma catedral onde falta sempre um elemento.

         - “Jean Cocteau dizia: “Il n´y a pas d´amitié, il n´y a que des preuves d´amitié.” Este axioma aplica-se ao João e a tantos outros que prometem o que sabem de antemão que não podem cumprir.


         - O senhor Guaidó que cometeu o erro astucioso de sair do país de helicóptero, a menos que o feito lhe tivesse sido imposto pelo senhor Trump, percebeu que os seus comandos ditados do estrangeiro - a salvo, portanto, de qualquer carga pessoal -, já não surtem o mesmo efeito. Daí que, pasme-se!, tenha incentivado a uma invasão americana para, claro, repor a democracia na Venezuela. Este sujeito, quer-se fazer passar por Rodolfo de Habsburgo, quando por volta de 1278, após guerras à direita e à esquerda, instala-se em Viena d´Áustria e é reconhecido como imperador por meia Europa e até pelo Papa. O que se coroou a si próprio rei da Venezuela, delirante revolucionário, não tem nem de perto nem de longe, o carisma exigido para levar avante as suas ambições. Ele usa os famintos com a mesma indignidade dos americanos quando montam estes estratagemas para atingir os seus fins estratégico-políticos. Assemelha-se àqueloutro que está no poder em Espanha há meia dúzia de meses, socialista das margens da ambição, e vai ser despejado com novas eleições para breve. Mas por que raio os comparo eu?! Ó Helder, diz ao Sousa que se cale. Que vá fazer uma hora de natação. Assim farei, caro Helder, e já!

terça-feira, fevereiro 26, 2019

Terça, 26.
Se dúvidas houvesse que Juan Guaidó, auto-proclamado Presidente da Venezuela, é um fantoche nas mãos dos Estados Unidos, os motins nas fronteiras com o Brasil e a Colômbia onde havia camiões com ajuda humanitária para os infelizes venezuelanos, anulou-as. Quem viu o “presidente” a deixar o país de helicóptero, a descer para as câmaras de televisão de um camião, quando à sua volta um tumulto decorria traduzido em quatro mortes e quase três centenas de feridos, sem que o objectivo se tivesse realizado, para não falar nas muitas deserções de militares esperadas (apenas 25 desertaram), quem viu o espectáculo pode dizer que o homem é um péssimo actor. Trump que está atrás daquela desgraça que levou milhares de crianças, homens, mulheres e velhos à fome e à miséria, com a ganância de assaltar as riquezas do país, utiliza os mesmos métodos usados na Síria, Líbia, Afeganistão ou Iraque para não falar noutros para trás. Os Estados Unidos começam sempre do mesmo modo e só saem quando deixam os países exangues e as populações paupérrimas e sofredoras.  

         - A minha afastada prima Teresa de Sousa, no Público de domingo, tece mais uma vez rasgados elogios a Emmanuel Macron. Eu acho a criatura um flop e não compreendo a visão da articulista no tocante à importância do Presidente francês no futuro da União Europeia e na administração da França, incluindo a reforma ou reformas que ele está ou vai empreender. Para já o homem prometeu muito durante a campanha e não realizou nada e o que fez foi contra a maioria a favor das minorias ricas. Teresa de Sousa enaltece aquilo que os jornalistas em Paris dizem: que a juventude e os seus 40 anos suportam as múltiplas acções em favor do balanço “democrático” que ele propôs aos franceses com o intuito de afastar da rua os gilets jaunes. Eu acho que aquilo foi uma demarche, uma forma de ganhar tempo e se possível a confiança perdida. Porque, é bom notar, por todo o lado nesta Europa decadente, não há governo nenhum que não fale em reformas, em reformar. Mas a verdade é que os ricos não param de enriquecer, enquanto os pobres não cessam de empobrecer. Todas as reformas traduzem-se nesta constatação. Os gilets jaunes, com o seu movimento, quiseram parar essa hipocrisia – e conseguiram.

          - Justamente a França. Eu vi outro dia no noticiário da TV5 Monde, as enormes cruzes suásticas desenhadas nas lápides dos cemitérios, em Paris. É um crime hediondo visto de qualquer ângulo. Mas não é novo. Green optou por ser enterrado na igreja de Klagenfurt, Áustria, porque detestava a profanação das campas que os energúmenos levavam a cabo. Se o Governo francês não investir sobre os criminosos, e deixar andar como coisa simplesmente de bárbaros, vai ver crescer o sionismo sob outra qualquer forma, mas sempre perigoso.

         - “Sem liberdade, não se é filho da família humana, mas escravo.” Fr. Bento Domingues. 


         - Ontem almocei com o Paulo Santos e o Carlos no Príncipe. Carlos muito mais calmo esperando eu que a calmaria seja para durar. Antes na Brasileira com o Brito, Carmo, Mário (economista), Teresa, Castilho, Paulo e um pintor que não retive o nome. Tertúlia habitual varrendo os temas mais diversos. Breves palavras por telefone à escritora Alice Vieira com quem devo estar em breve.

domingo, fevereiro 24, 2019

Domingo, 24.
Quando dirigi a Esfera – e fi-lo durante 31 anos! -, cada vez que perdia um cliente, afundava-me num desespero impressionante e por três ou quatro dias sentia-me desfeito, morto. Tinha sobre os meus ombros o peso dos ordenados no fim da cada mês, dos impostos, de toda a carga emocional que uma tal actividade (no caso a publicidade) comporta. Contudo, ao fim desse tempo, ia arranjar energias não sei como e enfrentava com denodo a vida profissional, com os seus desafios, incertezas, cansaços e renovado entusiasmo. A seguir a esses monstruosos desaires, chegava um tempo criativo, empolgante, que não me deixava parar em busca de novas contas que amortizassem a saída daquele cliente.
        
         Curiosamente, com os editores, passa-se a mesma coisa. Cada um que me fecha a porta desmaio, esmoreço, apetece-me desistir. Três ou quatro noites mal dormidas, uma tristeza infinita a cadenciar as horas, e depois, pouco a pouco, cresce dentro de mim em avalanche a motivação, a crença na minha arte, nos valores que defendo, na voz que imprime cada frase e a faz diferente do uivo árido que por aí campeia, e sento-me à mesa de trabalho banhado da força e do ânimo que o artista não pode de maneira nenhuma perder e desafio a imaginação, as palavras, as emoções e os nervos para a celebração divina da escrita quotidiana. Felizmente já não procuro um novo cliente, mas um simples e honesto Editor.


         - Muito do que sou e vivi, encontra-se espalhado pelos livros da minha biblioteca. No seu interior depara-se a factura do restaurante, a entrada no museu, o bilhete de avião, para além das notas de rodapé, dos sublinhados e das datas de leitura. São duas histórias que merecem ser lidas – a dos autores e a do leitor.
Sábado, 23.
A moda existia no tempo do Estado Novo na forma esférica de cunha ou simples imposição do gosto e vontade dos pequenos ditadores de uma arrogância perversa. Existia forma de falar, porque os métodos chegaram até nós que, dizem, vivemos em democracia. Pelas autarquias é moeda corrente e ainda não estamos completamente instalados na descentralização, embora o caso de Elvas seja absolutamente escandaloso, com o Presidente de Câmara a nomear a mulher e ao todo 27 familiares não só dele como dos vereadores para cargos bem remunerados. Mas não é só. Também o Mágico fez remodelação no seu governo e reconduziu os senhores, dobra a língua, rapaz, os doutores X e Y, vindo também a mulher, a filha e mais não sei quem da família, naturalmente bons e competentes socialistas. Eu afloro o tema do nepotismo em O Rés-do-Chão de Madame Juju provando que não sou nada original...

         - Em Argélia, um moribundo foi eleito Presidente do país. A resposta dá-se em forma de protesto nas ruas. Milhares de jovens estão contra – e com razão. Bouteflika não passa de um fantoche nas mãos dos militares. A seguir à eleição, deixa a Argélia rumo à Suíça para tratamento.

         - Este Inverno vou já na segunda passagem de corte na erva que atapeta tudo em volta da casa. Se não chovesse mais, o campo tal qual está, com o seu manto verde rasteiro, seria a maravilha que embeleza os olhos e a paisagem. Estou a fazer uma maratona porque não quero oferecer aos amigos que vou buscar a Madrid no próximo mês, o aspecto desleixado que não gosto para mim. Este trabalho, a par de outros, ocupa-me todos os dias umas duas horas no fim das quais estou todo partido. Depressa esqueço as dores nos rins quando olho a tarefa que permitiu mudar a imagem que me cerca.


         - Dia absolutamente deslumbrante. A Primavera espreita já o Verão. É um enorme privilégio poder admirar um dia assim, cheio do olhar do Criador que o criou para nosso gozo e felicidade. Paz e plenitude.

sexta-feira, fevereiro 22, 2019

Sexta, 22.
Faz hoje dois anos que comecei O Juiz Apostolatos. Foram 24 meses de intenso e reflectido trabalho para a moda dos “editores” que esmifram não só o labor como o dinheiro daqueles que pagam para trabalhar. São os vendedores de papel ao quilo, que nada percebem de literatura, de olhos postos na TV de onde nos nossos dias saem os nobéis que o povo analfabeto compra para passar o tempo lúgubre que o habita. Eles sabem da pouca importância que a arte tem num país de futebol, e jogam com a vaidade e relevância que um livro publicado tem nos estratos burgueses que pretendem armar àquilo que não são - escritores. Mas quer-me parecer que no final ninguém ganha: não enriquece o “editor” porque a coisa foi um fiasco, não se promoveu o autor porque vendeu uns quantos exemplares a vizinhos e amigos, não ganhou a literatura porque, por este processo, não é o escritor nem o seu trabalho que é apreciado, mas o montante do extracto bancário. Em Portugal quando se tem dinheiro, até a merda é perfumada.


          - Faleceu Sequeira Costa. Devo-lhe momentos inolvidáveis de beleza e espiritualidade. Era um exímio executante de Beethoven, um músico sério, uma pessoa integra – valores que no nosso país não contam para nada e por isso eu os exalto.