domingo, fevereiro 10, 2019

Domingo, 10.
O João contou-me que sexta-feira, arrastado por uma das filhas que para o efeito alugou um camarote no Coliseu, foi assistir a um espectáculo degradante. Perguntei-lhe que peça era, os actores e assim, mas ele não me soube dizer porque pura e simplesmente tinha adormecido decerto de nojo. A sala segundo ele estava à cunha. Famílias e casais, algumas com filhos menores, durante duas horas ouviram o mais repugnante vocabulário corrido, claro, a sexo que é o tema que a comédia vulgar e rasteira que começou com o Herman quer-nos fazer crer ser arte. A mulher do pouco que ele escutou, sai muito mal tratada de Uma Nêspera no Cu assim se intitula a peça, em verdade uma série de textos construídos com o propósito de instruir o povo no tema. Intrigado, fui à internet espreitar. E lá vem o nome dos “artistas”, figuras que os canais de televisão que andam com a programação pelas ruas da amargura e não consentem que valores autênticos empurrem para fora do cofre a mediocridade. Acarinham e dão trabalho àqueles repolhos passados de prazo e depois vêm dizer que é aquilo que o povo gosta. Quando vejo estes textos e escuto este português, digo para mim: “Ainda bem que os editores rejeitam editar os teus livros porque não aceitas pagar a edição, ao menos não fazes parte da choldra dos génios e candidatos ao Prémio Nobel ou mais caseiramente aos globos da SIC."  Tal como o mestre, capem-lhes o sexo e aquilo esvazia-se como um balão...   

         - Num orfanato de jovens com a fantasia de virem a ser futebolistas, a Oeste do Rio de Janeiro, no Brasil que come e bebe futebol, declarou-se um incêndio. Morreram dez adolescentes entre os 14 e os 16 anos e muitos outros ficaram feridos. Assim se interrompe o que não chegou a ser, nascido de um sonho que o destino se encarregou de destruir, talvez para que eles não conhecessem a desilusão. Quem sabe?

         - O mistério que acompanha sempre estas desgraçadas e nos entristecem ainda mais quando se trata de adolescentes, ninguém pode desvendar; como não sabemos o real sentido do inesperado. Se acreditarmos que tudo se passa aqui e só aqui, as respostas estão por todo o lado, desde o descuido do Estado às forças dinâmicas do capital que se instala de qualquer maneira onde cheira a lucro. Eu, cada vez mais, acredito que onde tudo começa e se estende através dos tempos sem tempo, é infinitamente mais importante que o drama, portanto, legítimo de vislumbrar a fundamentação para o que nos ocorre sem contarmos.


         - Vejam este caso, narrado por Jean Chalon. O seu amigo Thierry de la Villchuchet, no dia 12 de Novembro de 2008, diz-lhe: “Je viens de réaliser l´un de mes rêves, je me suis acheté une Rolls. Le 29 de octobre 2009, je donnerai une grande fête dans mon château en Bertagne. Je vous invite. La Rolls viendra vous chercher à Paris et vous y ramènera. Vous ne pouvez pas dire non.” No dia 23 de Dezembro daquele ano, o barão de Cassagne, telefona ao escritor a anunciar o suicídio de Thierry de la Villchuchet em Nova Iorque. Bem sei que são sonhos bem distintos, mas o que subjaz é o mistério de cada vida ou cada morte.