Domingo, 10.
O
João contou-me que sexta-feira, arrastado por uma das filhas que para o efeito
alugou um camarote no Coliseu, foi assistir a um espectáculo degradante.
Perguntei-lhe que peça era, os actores e assim, mas ele não me soube dizer porque
pura e simplesmente tinha adormecido decerto de nojo. A sala segundo ele estava
à cunha. Famílias e casais, algumas com filhos menores, durante duas horas
ouviram o mais repugnante vocabulário corrido, claro, a sexo que é o tema que a
comédia vulgar e rasteira que começou com o Herman quer-nos fazer crer ser
arte. A mulher do pouco que ele escutou, sai muito mal tratada de Uma Nêspera no Cu assim se intitula a
peça, em verdade uma série de textos construídos com o propósito de instruir o
povo no tema. Intrigado, fui à internet espreitar. E lá vem o nome dos
“artistas”, figuras que os canais de televisão que andam com a programação
pelas ruas da amargura e não consentem que valores autênticos empurrem para
fora do cofre a mediocridade. Acarinham e dão trabalho àqueles repolhos passados
de prazo e depois vêm dizer que é aquilo que o povo gosta. Quando vejo estes
textos e escuto este português, digo para mim: “Ainda bem que os editores
rejeitam editar os teus livros porque não aceitas pagar a edição, ao menos não fazes
parte da choldra dos génios e candidatos ao Prémio Nobel ou mais caseiramente
aos globos da SIC." Tal como o mestre, capem-lhes o sexo e aquilo esvazia-se como um balão...
- Num orfanato de jovens com a
fantasia de virem a ser futebolistas, a Oeste do Rio de Janeiro, no Brasil que
come e bebe futebol, declarou-se um incêndio. Morreram dez adolescentes entre
os 14 e os 16 anos e muitos outros ficaram feridos. Assim se interrompe o que
não chegou a ser, nascido de um sonho que o destino se encarregou de destruir,
talvez para que eles não conhecessem a desilusão. Quem sabe?
- O mistério que acompanha sempre
estas desgraçadas e nos entristecem ainda mais quando se trata de adolescentes,
ninguém pode desvendar; como não sabemos o real sentido do inesperado. Se
acreditarmos que tudo se passa aqui e só aqui, as respostas estão por todo o
lado, desde o descuido do Estado às forças dinâmicas do capital que se instala
de qualquer maneira onde cheira a lucro. Eu, cada vez mais, acredito que onde
tudo começa e se estende através dos tempos sem tempo, é infinitamente mais importante
que o drama, portanto, legítimo de vislumbrar a fundamentação para o que nos
ocorre sem contarmos.
- Vejam este caso, narrado por Jean
Chalon. O seu amigo Thierry de la Villchuchet, no dia 12 de Novembro de 2008, diz-lhe:
“Je viens de réaliser l´un de mes rêves, je me suis acheté une Rolls. Le 29 de
octobre 2009, je donnerai une grande fête dans mon château en Bertagne. Je vous
invite. La Rolls viendra vous chercher à Paris et vous y ramènera. Vous ne pouvez
pas dire non.” No dia 23 de Dezembro daquele ano, o barão de Cassagne, telefona
ao escritor a anunciar o suicídio de Thierry de la Villchuchet em Nova Iorque. Bem
sei que são sonhos bem distintos, mas o que subjaz é o mistério de cada vida ou
cada morte.