quarta-feira, fevereiro 13, 2019

Quarta, 13.
Eu nunca percebi a razão de haver dois sistemas de saúde: o SNS e a ADSE. Se somos todos portugueses, descontando para o mesmo patrão, ganhando miseravelmente, tendo as mesmas doenças e achaques... Talvez a temperatura no bolso seja mais alta para os funcionários públicos e as maleitas neles mais refinadas devido ao esgotamento acentuado, às frequentes greves, ao falatório e desleixo em consequência nas repartições públicas, sobretudo, à segunda-feira, ou ainda porque ganham menos que os empregados no sector privado, vá-se-lá-saber-porquê, eles podem escolher com descontos simpáticos entre ir a um ou outro sistema. Portanto, a sua saúde é de melhor qualidade, embora o dono seja o mesmo e os descontos também. Só posso concluir que se trata de um privilégio inadmissível em democracia e num Estado republicano. Eu penso que esta é mais uma anomalia do antigamente, quando éramos governados pelo Estado Novo. Talvez não tenha razão. Seja como for, os privados instalaram agora uma guerra ao romperem os acordos que tinham com o Estado por este lhes exigir a restituição de milhões facturados a mais. Aqui d´el rei, gritam os funcionários públicos que não querem ser assistidos pela segurança dos pobres e apalermados doentinhos do SNS. Barafusta este sistema porque teme a invasão dos patrícios habituados ao melhor tratamento. Riem-se os hospitais privados que pensam ficar apenas com os ricaços que detestam a cambada arrogante dos funcionários do Estado. E gargalham os infelizes do SNS que, vingando-se, vão ter nos bancos de espera dos hospitais, centros de saúde e misericórdias por companhia a massa compacta dos mangas de alpaca com o jornal A Bola nas mãos a disfarçar a descida de categoria. Só a corajosa Ministra da Saúde fica no pedestal da sua competência, se ousar consertar as coisas e provar aos gananciosos dos negócios da vida humana, que vão ter que falir por falta suficiente de doentes a bater-lhes à porta. Agora para mim que sou dado a conjecturas, não deve ser alheia toda esta trapalhada nesta altura, quando a Ordem dos Enfermeiros tem à sua frente uma mulher apalermada, espécie de catavento, de uma infelicidade abismal. Mas isto são pensamentos meus.


         - Reflexão enquanto cortava o relvado ao que disse as dez da manhã: se a ministra Marta Almeida Simões não ceder, acho que esta é uma oportunidade única de equilibrar os interesses em jogo, robustecendo o Serviço Nacional de Saúde. Percebo que é preciso estofo tendo em conta o múltiplo xadrez em equação, mas também é em momentos destes que se vê o génio dos políticos.