Domingo,
28.
De
abalada ao 15 bairro, o sítio de eleição de Georges Brassens, onde ele viveu e
conheceu os primeiros amores, no extremo da cidade, com o intuito de conhecer a
feira semanal de livros velhos e novos. Trata-se de um espaço oposto à Porte de
Versailles, levantado ao fundo do jardim com o seu nome, onde para lá chegar
temos de caminhar uma boa meia hora. O jardim não oferece nada de especial à
parte o perfume de uma Paris operária, pobre e constituída para dar o mínimo
conforto aos seus habitantes. A parte reservada aos livros, estende-se por uma
língua de terreno, protegida por coberturas de folha de ferro, aberta, alçada
por escadas e com vista para uma parte ajardinada. Os boquinistas, a maioria de
idade avançada, oferece uma vasta variedade de temas imperando os livros de
arte a preços proibitivos. Eu percorri uma a uma as mesas cheias de in-fólios e
saí sem adquirir um só. O que me interessava começa em 30 euros, depressa me
apercebi que é nas livrarias de Quartier Latin que encontro a preços cordatos o
que procuro. Mas valeu a visita à zona que conserva o cheiro do passado, quando
o artista por lá joeirava, de cachimbo na boca e aquele ar ausente e suave que
todos conhecemos, levantando do chão de trabalho os belos poemas que
imortalizou em canções.
- A Annie perguntou-me se tinha
notícias do meu país. Respondi que não, acrescentando que sei de antemão o que
por lá se passa. Ela quis saber mais e eu disse: os tribunais devem ter
condenado mais um político ou gestor público por roubar uns milhões; as pessoas
devem ter denunciado mais uma mentira dos governantes, Marcelo deve ter
distribuído afectos aos rodos, os noticiários das estações de televisão devem
ter dado o espectáculo de famílias desavindas, o Benfica deve ter ganhado ao
Galinheiros, as aventuras sexuais de Ronaldo devem estar ao rubro e assim.
- O frio apertou, as temperaturas
desceram a pique. É provável que neva durante a noite. Madame Castelain veio
almoçar cá a casa.
- “La volonté de Dieu n´est pas une
créature, mais elle est avant toutes les créatures, puisque rien ne serait créé
la volonté du Créateur ne précédait cette création.” Santo Agostinho, A Criação do Mundo e do Tempo.