terça-feira, outubro 30, 2018

Segunda, 8.
Bolsonaro, o líder da extrema-direita brasileira e candidato à presidência do Brasil, por pouco não passou à primeira volta no escrutínio de ontem. O partido de Lula assusta-se, a esquerda também, mas a questão que ninguém levanta é esta: como foi possível ter-se chegado aqui. A resposta, sabem todos aqueles que contribuíram para isso, faltando-lhes aquilo a que os maoístas chamavam o “julgamento público e construção do novo”.

         - Os fogos que os nossos sabichões, políticos, Presidente da República e toda essa gente que vive à conta dos incêndios prometiam este ano reduzir, não nos largam. Este fim-de-semana Sintra e Cascais estiveram debaixo deles, com muita gente a ser assistida nos hospitais, centenas a abandonar os seus lares, uma vasta área reduzida a cinzas. E todavia, quem os ouve falar sobre as causas e modos de enfrentar a calamidade, julgará que os fogos só acontecem porque ninguém acredita nos seus superlativos juízos e técnicas.

         - As temperaturas começaram a descer. Por isso, ontem, terminei o meu trabalho na piscina e o resultado foi um fosso cheio das tonalidades de azul como as que existem no céu. Forma de atenuar o descontentamento. O que nasce torto, assim permanecerá. Resta a ideia que repleto de água se dissemine o meu falhanço. Sábado andou aí um rapaz que fez um trabalho notável. Descascou os cedros do lado do meu vizinho e aparou-os do meu lado, abrindo deste modo um belo caminho da entrada à casa. As amendoeiras respiram agora melhor e as que estão moribundas, conto ressuscitá-las em Janeiro quando o técnico as podar. Por outro lado, o resto de lenha por cortar que existia em pequenos montes por todo o lado, ficou reduzido a troncos para as lareiras. A mim cabe-me a recolha para debaixo da lona abrigando-os da chuva. Todavia, antes de partir, tenho ainda uma infinidade de trabalho a concluir. O romance, em consequência, patina.  


         - Não te lamentes. Apesar de tudo, ontem e anteontem, no único lugar civilizado de Setúbal, o Café da Casa, dirigido pela Maria João com maestria, discrição e sentido artístico, conseguistes avançar ao todo umas sete horas. Concluí-lo como era teu desejo antes de Paris, parece estar fora do baralho. Pelo simples e conclusivo remate: um romance não tem fim.