Domingo, 7.
O
serão de ontem, passei-o com o canal francês que retransmitiu um espectáculo exclusivo
com Charles Aznavour no programa: Taratata.
Que beleza! O artista ainda tinha aquela voz de veludo, com sonoridades
ondulantes, timbres puros e fortes, que no fim da vida foi perdendo a pouco e
pouco. A dada altura, falando com o apresentador que envelheceu mais do que ele,
e naquela emissão possuía qualquer coisa de sensual grudado, espécie de vício
que o físico traduzia na forma quente da voz, do rosto árabe, do corpo dengoso,
e com a idade ficou apenas o fio libidinoso que detesto, os dois falaram da moda
nas canções como em tudo o mais. Aznavour para quem o texto é que define a
chamada Canção Francesa, de que ele é exemplar único pela perfeição dos poemas,
chamou a colação Jean Cocteau nesta frase que eu já aqui citei e é magistral: .“La
mode, c´est ce qui se démode.” Pura e inteligente graça do escritor francês que
gostava da boutade como fraseologia
que alimenta o petit monde.
- Mais uma grande artista nos deixou: a
soprano Montserrat Caballé. Era, de facto, notável, com um vozeirão capaz de crescer
e diminuir em tonalidades que arrepiavam, uma grande senhora da ópera que teve
a graça, a humildade, de cantar a convite de Freddie Mercury a canção Barcelona, que acabou por lhe abrir um universo
de fãs inopinado. Nasceu, precisamente na capital da Catalunha, há 85 anos. É
lá que repousará em paz rodeada do coro dos anjos e arcanjos que com ela
cantarão as óperas que nenhum compositor criou.