terça-feira, outubro 30, 2018

Domingo, 7.
O serão de ontem, passei-o com o canal francês que retransmitiu um espectáculo exclusivo com Charles Aznavour no programa: Taratata. Que beleza! O artista ainda tinha aquela voz de veludo, com sonoridades ondulantes, timbres puros e fortes, que no fim da vida foi perdendo a pouco e pouco. A dada altura, falando com o apresentador que envelheceu mais do que ele, e naquela emissão possuía qualquer coisa de sensual grudado, espécie de vício que o físico traduzia na forma quente da voz, do rosto árabe, do corpo dengoso, e com a idade ficou apenas o fio libidinoso que detesto, os dois falaram da moda nas canções como em tudo o mais. Aznavour para quem o texto é que define a chamada Canção Francesa, de que ele é exemplar único pela perfeição dos poemas, chamou a colação Jean Cocteau nesta frase que eu já aqui citei e é magistral: .“La mode, c´est ce qui se démode.” Pura e inteligente graça do escritor francês que gostava da boutade como fraseologia que alimenta o petit monde.


         - Mais uma grande artista nos deixou: a soprano Montserrat Caballé. Era, de facto, notável, com um vozeirão capaz de crescer e diminuir em tonalidades que arrepiavam, uma grande senhora da ópera que teve a graça, a humildade, de cantar a convite de Freddie Mercury a canção Barcelona, que acabou por lhe abrir um universo de fãs inopinado. Nasceu, precisamente na capital da Catalunha, há 85 anos. É lá que repousará em paz rodeada do coro dos anjos e arcanjos que com ela cantarão as óperas que nenhum compositor criou.