terça-feira, outubro 30, 2018

Domingo, 28.
De abalada ao 15 bairro, o sítio de eleição de Georges Brassens, onde ele viveu e conheceu os primeiros amores, no extremo da cidade, com o intuito de conhecer a feira semanal de livros velhos e novos. Trata-se de um espaço oposto à Porte de Versailles, levantado ao fundo do jardim com o seu nome, onde para lá chegar temos de caminhar uma boa meia hora. O jardim não oferece nada de especial à parte o perfume de uma Paris operária, pobre e constituída para dar o mínimo conforto aos seus habitantes. A parte reservada aos livros, estende-se por uma língua de terreno, protegida por coberturas de folha de ferro, aberta, alçada por escadas e com vista para uma parte ajardinada. Os boquinistas, a maioria de idade avançada, oferece uma vasta variedade de temas imperando os livros de arte a preços proibitivos. Eu percorri uma a uma as mesas cheias de in-fólios e saí sem adquirir um só. O que me interessava começa em 30 euros, depressa me apercebi que é nas livrarias de Quartier Latin que encontro a preços cordatos o que procuro. Mas valeu a visita à zona que conserva o cheiro do passado, quando o artista por lá joeirava, de cachimbo na boca e aquele ar ausente e suave que todos conhecemos, levantando do chão de trabalho os belos poemas que imortalizou em canções.

         - A Annie perguntou-me se tinha notícias do meu país. Respondi que não, acrescentando que sei de antemão o que por lá se passa. Ela quis saber mais e eu disse: os tribunais devem ter condenado mais um político ou gestor público por roubar uns milhões; as pessoas devem ter denunciado mais uma mentira dos governantes, Marcelo deve ter distribuído afectos aos rodos, os noticiários das estações de televisão devem ter dado o espectáculo de famílias desavindas, o Benfica deve ter ganhado ao Galinheiros, as aventuras sexuais de Ronaldo devem estar ao rubro e assim.

         - O frio apertou, as temperaturas desceram a pique. É provável que neva durante a noite. Madame Castelain veio almoçar cá a casa.


         - “La volonté de Dieu n´est pas une créature, mais elle est avant toutes les créatures, puisque rien ne serait créé la volonté du Créateur ne précédait cette création.” Santo Agostinho, A Criação do Mundo e do Tempo.