terça-feira, outubro 30, 2018

Sábado, 6.
Quando o Prémio Gulbenkian 2015 foi dado ao Dr. Denis Mukwege eu estava presente e saudei vibrantemente Jorge Sampaio quando este o entregou ao generoso medico que se dedica a reconstruir o útero das mulheres africanas no hospital do Congo maltratadas por monstros. Agora foi a Academia Sueca que lhe outorgou o Nobel da Paz a ele e a Nadia Murat, vítima da selvajaria dos jihadistas, com resistência bastante para se erguer depois de ter sido violada por vários homens e ter visto morrer os seus seis irmãos às mãos do Daesh. Nunca o Prémio foi tão bem atribuído.

         - Perante esta grandeza, para quê falar do mistério militar que não sai dos espíritos cúmplices dos políticos e dos jornais e televisões que a ele se dedicam com a avidez de quem tem sede de sangue. Todo o processo é uma complicação, uma salada de interesses, de lutas e vinganças. Mas a mim, que não consigo perceber porque foram roubadas as armas e não quero acreditar que algures se está a desenvolver um golpe contra o nosso sistema democrático, enquanto cidadão, gostava de ser esclarecido com verdade e transparência. Quem queria tanto armamento e para quê?   

         - Por aqui o trabalho não falta. Pelo contrário existe em abundância. Esta tarde, sob sol que queimava e me fazia suar em bica, voltei à carga na piscina. Não me conformo com o trabalho mal feito e tornei a repintar uma parte na esperança que me agrade e possa amanhã concluir o resto. Ao lado, na quinta do meu vizinho, as máquinas não param. Depois de arrancarem os eucaliptos pela raiz, veio outra máquina que os arrastou para o caminho que confina com o meu espaço e oferece esta paisagem idílica onde o sonho repousa reinventando os velhos trilhos campestres quando o homem não os larga de mão.


         - Numa altura em que a descrença me invade e me faz sofrer, num sábado que eu julgava dia de descanso para pessoas e empresas, eis que me chega o convite da editora onde eu gostava de me abrigar, para que lhes envie O Pesadelo dos Dias Felizes. E de súbito, a esperança varreu as trevas. A mim basta-me um aceno para me reconstruir.