terça-feira, outubro 30, 2018

Sábado, 27.
Numa tarde sem sol, depois de sairmos da exposição Paula Rego no Museu de  L´Orangerie (já lá vamos), Robert e eu, descemos das Tuileries à Place de la Concorde  e depois aos Champs-Élysées. Longo passeio debaixo de um vento vivificante, que nos transportou pela famosa avenida, do Obelisco de Luxor que os egípcios ofereceram a Napoleão Bonaparte, à Place Clemenceau. O meu amigo, a dada altura, estendeu-se ao comprido; eu com outros passantes ajudámo-lo a levantar-se. Sob riso louco, eu ia provocando-o: “Tu que tens 45 de pé, dois metros de altura, cais e és ajudado por um coxinho, coitadinho! Essa agora não lembra ao diabo!” À chegada a casa, começou a tombar uma chuva miudinha.

         - As sessenta telas da nossa artista, ocupam várias salas do museu. Algumas já conhecia, a maior parte não. Muitas são antigas, outras datam de 2011. Todas, que me perdoem os entendidos, são retratos vivos da vida tal qual a viveu ou viu viver Paula Rego. São tratados humanos, tirados muitas vezes das suas leituras, mas também da sua infância, das suas loucuras, do seu desprezo pelos imbecis, os tiranos, os medíocres. Um cosmos de horror, de humor, de ternura despega-se dos quadros, não nos deixando indiferentes, arrastando-nos para um mundo onde Portugal consubstanciado nas relações familiares e políticas da pintora revive. O Portugal de Salazar, satirizado por figuras grotescas, o familiar tecido sombrio de El Greco, personagens impressionantes vestidas de cores alegres e tecidos de cetim aveludado contrastam com o ambiente umbroso e surrealista. Pena que as legendas não estivessem também em português, juntando as suas origens ao internacionalismo de que a artista beneficia. A crítica daqui diz que “son oeuvre se situe à la jonction improbable entre le baroque, catholique, sensuel, hispanique et le vérisme dur et austère de l´École de Londres”. Será? Esta série de telas centrada na família, ilustra bem o que acabei de escrever.   






         - Na véspera de sair, estando carregado, fui procurar um táxi à praça do Pinhal Novo. Na fila a aguardar passageiros, estavam cinco carros. Perguntei a uns e a outros quanto me levavam para me deixar no aeroporto. Os preços iam de 45 e 55 euros, praticamente o preço do avião Lisboa/Paris. “O senhor não é obrigado a ir de carro de praça”, disse um gorducho falando alarvemente. E continuou: “Vocês agora habituaram-se ao táxi.” Impus-me e ele: “Pois fique sabendo se algum dia me vier pedir para o levar a qualquer lado, eu não o levo.” Resposta dos obtusos da cauda: “Assim é que é falar.” Cheguei a casa, pesquisei na Net e optei pela Gettransfer e de pronto veio um carro à minha porta por... 27 euros! Passei a ser cliente.