Sábado,
27.
Numa
tarde sem sol, depois de sairmos da exposição Paula Rego no Museu de L´Orangerie (já lá vamos), Robert e eu,
descemos das Tuileries à Place de la Concorde e depois aos Champs-Élysées. Longo passeio
debaixo de um vento vivificante, que nos transportou pela famosa avenida, do Obelisco
de Luxor que os egípcios ofereceram a Napoleão Bonaparte, à Place Clemenceau. O
meu amigo, a dada altura, estendeu-se ao comprido; eu com outros passantes
ajudámo-lo a levantar-se. Sob riso louco, eu ia provocando-o: “Tu que tens 45
de pé, dois metros de altura, cais e és ajudado por um coxinho, coitadinho!
Essa agora não lembra ao diabo!” À chegada a casa, começou a tombar uma chuva
miudinha.
- As sessenta telas da nossa artista,
ocupam várias salas do museu. Algumas já conhecia, a maior parte não. Muitas são
antigas, outras datam de 2011. Todas, que me perdoem os entendidos, são
retratos vivos da vida tal qual a viveu ou viu viver Paula Rego. São tratados
humanos, tirados muitas vezes das suas leituras, mas também da sua infância,
das suas loucuras, do seu desprezo pelos imbecis, os tiranos, os medíocres. Um cosmos
de horror, de humor, de ternura despega-se dos quadros, não nos deixando
indiferentes, arrastando-nos para um mundo onde Portugal consubstanciado nas
relações familiares e políticas da pintora revive. O Portugal de Salazar,
satirizado por figuras grotescas, o familiar tecido sombrio de El Greco,
personagens impressionantes vestidas de cores alegres e tecidos de cetim aveludado
contrastam com o ambiente umbroso e surrealista. Pena que as legendas não
estivessem também em português, juntando as suas origens ao internacionalismo
de que a artista beneficia. A crítica daqui diz que “son oeuvre se situe à la
jonction improbable entre le baroque, catholique, sensuel, hispanique et le
vérisme dur et austère de l´École de Londres”. Será? Esta série de telas centrada
na família, ilustra bem o que acabei de escrever.
- Na véspera de sair, estando
carregado, fui procurar um táxi à praça do Pinhal Novo. Na fila a aguardar
passageiros, estavam cinco carros. Perguntei a uns e a outros quanto me levavam
para me deixar no aeroporto. Os preços iam de 45 e 55 euros, praticamente o
preço do avião Lisboa/Paris. “O senhor não é obrigado a ir de carro de praça”,
disse um gorducho falando alarvemente. E continuou: “Vocês agora habituaram-se
ao táxi.” Impus-me e ele: “Pois fique sabendo se algum dia me vier pedir para o
levar a qualquer lado, eu não o levo.” Resposta dos obtusos da cauda: “Assim é
que é falar.” Cheguei a casa, pesquisei na Net e optei pela Gettransfer e de
pronto veio um carro à minha porta por... 27 euros! Passei a ser cliente.