Terça,
16.
Esta
manhã na Brasileira que rigolada! Juntaram-se os do costume mais a Idalina.
Aquilo foi um espectáculo de riso que parecia não ter fim. Pode ser que aquela
gente aos olhos de quem entra seja vetusta, mas o coração, a cabeça, o olhar
sobre a vida passada e presente está imaculado, envolvido numa juventude e
liberdade onde não entram preconceitos, moral, pecados de inveja e glutonaria
de deleites sensuais. É um prazer viver com gente desta qualidade, um pouco
inclinada ao passado, é verdade, mas o passado glorioso, cheio dos mistérios a que
a ditadura obrigava e era por isso extremamente saboroso. Porque em vez de
desunir, unia. Em vez de isolar, juntava, Em vez de rolhar, soltava a voz e
empurrava o pensamento e a revolta. Paradoxalmente, com a democracia, estamos
mais isolados, desistimos do convívio tagarela, da tertúlia onde os temas
saltam como castanhas desapareceu. É cada um por si e Deus por todos. Enfim,
uma miséria triste. A reflectir.
- Carcassonne que eu conheço bem, foi
fustigada ontem por chuvas diluvianas. Aquele sul francês, tem pouco mais ou
menos o nosso clima, com mar e praias belíssimas. A tempestade matou 12
pessoas, fez centenas de sinistrados, o nível de água foi de um pouco mais de 7
metros e submergiu vilas e aldeias, tendo transformado a própria localidade
numa ilha. O mais curioso, tendo a França registos de pluviosidade desde o
século XIX, em 1891 registou 7,95. Dá que pensar quando ouvimos atribuir ao
aquecimento terrestre estes desarranjos climáticos.
- A banheira tinha um elefante de
barriga para o ar. Eu vi-o quando entrei na sala e afaguei-lhe a massa corporal
enorme. Ele encolheu-se, resmungou, visivelmente não gostou. Nos dias
seguintes, assim que entrava ia fazer-lhe uma cocega. Daí a uns dias, o
paquiderme reagiu e pareceu-me ver a epiderme grossa e untuosa arrepiar-se de
gozo. Prossegui sempre que penetrava na sala e o via estatelado como rei da
selva urbana, cercado de prédios altos, ruído e automóveis a passar
indiferentes à sua figura majestática. Depois... andei com ele às costas a
manhã toda, só me libertando quando me sentei para almoçar no Centro Comercial
do Chiado. Aí estava bem acordado. Alguns clientes eram mais grosseiros e
presunçosos que o pobre e simpático animal que me veio visitar durante a
noite.