Domingo, 31.
A
rapariga da bomba de gasolina onde eu tinha ido abastecer e comprar o Público,
olhando o frontispício do jornal, dispara: “Já viu o Marcelo doente. Isto toca
a todos. - Pois é - respondo eu -, mas veja que na sua idade é um exemplo para
velhos e novos. Há muitos novos que são mais velhos do que ele. – Pudera! Ele
fez esforços a estudar, não digo o contrário, eu fi-los antes dos vinte anos a
carregar paletes. Se ele estivesse no meu lugar, não tinha as forças físicas
que tem.” Este é o Portugal que os políticos detestam, mas nas campanhas
eleitorais namoram.
- O ano que hoje finda, não posso
dizer que tenha sido em termos pessoais inútil ou mauzinho. Todavia, o que
observo ao largo de mim, é assustador e dramático. Sinto que os povos foram
abandonados, são maltratados por políticos corruptos e egoístas, impera cada
vez mais a loucura do dinheiro que faz de cada novo-rico um herói e de cada
novo pobre uma coisa abjecta que deve ser mantida equidistante do progresso e
da dignidade. Tornámo-nos egoístas, fechados sobre nós próprios, e estamos a
reinventar a família como suporte de consumo e fachada de elementos
pseudo-morais destruidores. Há um retrocesso civilizacional impressionante, que
parece escapar àqueles que são poder, mas que subjuga sem dó nem piedade o
espírito livre, a cultura, a solidariedade e a consciência social. Espero no
ano novo que amanhã começa, prosseguir o combate para mim essencial - muito
antes da disputa de classes cara aos marxistas -, o fosso entre ricos e pobres. Um
bom Ano 2018.