domingo, dezembro 31, 2017

Domingo, 31.
A rapariga da bomba de gasolina onde eu tinha ido abastecer e comprar o Público, olhando o frontispício do jornal, dispara: “Já viu o Marcelo doente. Isto toca a todos. - Pois é - respondo eu -, mas veja que na sua idade é um exemplo para velhos e novos. Há muitos novos que são mais velhos do que ele. – Pudera! Ele fez esforços a estudar, não digo o contrário, eu fi-los antes dos vinte anos a carregar paletes. Se ele estivesse no meu lugar, não tinha as forças físicas que tem.” Este é o Portugal que os políticos detestam, mas nas campanhas eleitorais namoram.


         - O ano que hoje finda, não posso dizer que tenha sido em termos pessoais inútil ou mauzinho. Todavia, o que observo ao largo de mim, é assustador e dramático. Sinto que os povos foram abandonados, são maltratados por políticos corruptos e egoístas, impera cada vez mais a loucura do dinheiro que faz de cada novo-rico um herói e de cada novo pobre uma coisa abjecta que deve ser mantida equidistante do progresso e da dignidade. Tornámo-nos egoístas, fechados sobre nós próprios, e estamos a reinventar a família como suporte de consumo e fachada de elementos pseudo-morais destruidores. Há um retrocesso civilizacional impressionante, que parece escapar àqueles que são poder, mas que subjuga sem dó nem piedade o espírito livre, a cultura, a solidariedade e a consciência social. Espero no ano novo que amanhã começa, prosseguir o combate para mim essencial - muito antes da disputa de classes cara aos marxistas -, o fosso entre ricos e pobres. Um bom Ano 2018.

sábado, dezembro 30, 2017

Sábado, 30.
De repente, perante a revolta que vai de Norte a Sul, os deputados que se fecharam a cadeado para cozinhar e aprovar uma lei que os favorece em pleno, vêm agora dizer isto e aquilo sobre ela, de modo a deitarem poeira para os olhos dos portugueses. Parece que Marcelo Rebelo de Sousa, do hospital onde foi submetido a uma operação, vai despachar o assunto pondo o seu veto presidencial. Quem os topa a todos, é Margarida Salema, antiga directora da ECFP, que ontem ao Público diz textualmente que a lei tecida às escondidas, é “muito duvidosa do ponto de vista do Direito” e sobre a isenção do IVA aos partidos, defende que “não se aplica às campanhas, sob pena de inconstitucionalidade”. E siga a marcha.   

         - Foram muito curiosas as defesas do João ontem à mesa da Brasileira. Com o empenho do orador que ele foi na Assembleia, ocorreu em favor de Cristiano Ronaldo, contra a juíza que o quer na prisão por dívidas ao fisco no montante de 17,7 milhões de euros, repetindo que ele não sabia do negócio e afirmando que “o maior jogador do mundo” evoluiu muito, é inteligente, ao ponto de ter aprendido inglês e deixar de socar os companheiros no relvado. Eu argumentava, pelo contrário, que Ronaldo sabe de tudo, conhece os movimentos financeiros, tem personalidade dupla, e de inteligente pouco possui sendo é esperto.
        
         De igual modo, saiu em defesa de José Sócrates, argumentando que é tudo uma cabala, que o ex-primeiro-ministro é uma pessoa honesta e tudo não passa de mentiras da direita. Perante a minha indignação, repetiu aquilo que costuma dizer quando eu não concordo com ele e não me importo de o rebater: “Isso vindo de ti, que és uma pessoa culta e inteligente!..“

         - No restaurante onde almocei, havia uma fila de gente para encomendar o prato ao balcão e pagar. Na minha frente tenho um casal de miúdos pelos dezasseis/dezassete anos. Ela já com ar de madre prioresa, ele imberbe de bexigas no rosto. A dada altura, ela ordena-lhe que reserve a mesa que vagou para dois, sentando-se com os haveres de ambos. Ele abanca, mas ela fica de olho nele. De longe, dá-lhe ordens para pôr o casaco dela na cadeira da frente, depois que dispa o seu porque está calor, depois que não há Coca-Cola, só Pepsi. Ele encolhe os ombros e ela aceita o refrigerante. Paga a despesa e leva os dois tabuleiros à mesa onde o paxá a espera, satisfeito. Só faltou meter-lhe a paparoca na boca - o moço era de uma passividade assustadora. Quem disse que os tempos mudaram deve andar distraído. Dito de outro modo, os homens estão condenados a serem segundos no futuro.     


         - Esta manhã, leitura das primeiras cinquentas páginas do Capítulo Segundo que terminei esta semana. Muita coisa a clarificar, a suprimir, alguma a reescrever. Aqui e acolá, sensação de fracasso que me deixou profundamente deprimido. Ainda por cima, tempo depressivo.  

sexta-feira, dezembro 29, 2017

Sexta, 29.
O Daesh quer prevenir-nos que está vivo e não é a perda de uns quantos hectares de terra que o desarma. Assim, ontem, um atentado monstruoso ocorreu em Cabul de onde saíram pelo menos 40 mortos e mais de 80 feridos. A Europa que não deite foguetes.

         - A comédia Putin está para durar, a dança das cadeiras também. O homem quer continuar a ser Presidente e vai de novo candidatar-se ao cargo. Primeiro, anulou os opositores e só de seguida apareceu antecipadamente vencedor.

         - O mundo em que alguns querem aprisionar à força a democracia, hoje couto de políticos pseudo-democráticos, poleiro de quem tem dinheiro para campanhas cada vez mais festivas, se possível com um mocinho bonitinho de corpo cool, à boa maneira americana que vangloria a possibilidade de qualquer um ser de uma hora para a outra rico e até Presidente dos Estados Unidos, este mundo que é o de hoje, sustentado por um jornalismo espectáculo, maria-vai-com-as-outras, consegue sem espanto nem condenação, não só pôr no poleiro Putin como um jogador de futebol que andou por cá a jogar e era tão violento que escaqueirou o nariz de um colega. Este analfabeto acaba de subir à presidência na Libéria. Não tarda temos o deles “melhor jogador do mundo” com a sua “famila” no Palácio de Belém.

         - Ontem ouvi esta afirmação que vos juro não ser minha: “O futebol (português) é um caso de polícia há 30 anos.” Jornal da SIC, Rui Santos.

         - Os coxinhos, coitadinhos, demarcam-se dos demais que caminham sempre em sentido, monotonamente direitos, por serem resilientes e originais.


         - Esta manhã, na livraria do Corte Inglês, dois cavalheiros de provecta idade, lendo à borla os jornais, comentavam em voz alta as habituais jorradas futebolísticas que alimentam um país inculto de sabedoria. A dada altura voltaram-se para mim: “Não acha que isto é uma bandalhice? - Meus caros amigos, eu não pertenço a esse mundo”, respondi. Um deles, indignado: - “Então em que mundo vive! - No das estrelas, meu caro senhor.” E raspei-me.   

quinta-feira, dezembro 28, 2017

Quinta, 28.
Em uma parte da Europa e em vários Estados da América têm ocorrido grandes tempestades de neve, com as temperaturas a descer a menos de 40 graus. Este frio glacial, interrompeu a vida no seu curso normal. Só as crianças parecem usufruir deste clima retidas em casa, sonhadoras.

          - Enfim, o alerta soou nas centrais de muitos organismos. A minha indignação de há uma semana, chegou tarde e a más horas. A lei que o PS conluiado com os demais partidos à excepção do CSD e do PAM construiu para aliviar as suas dívidas e possuir dinheiro sem controlo, está a causar não só espanto como revolta. Estas atitudes são típicas da governação socialista que, desta vez, convieram aos outros partidos. Quem não se lembra da lei feita quando das cenas pedófilas, da lei Sócrates sobre os dinheiros de retorno ao país, e por aí adiante. Esta irresponsabilidade criminal, prova o desrespeito pela democracia, o sentimento de que o país é uma coutada dos partidos, que as pessoas contam muito pouco, são sugadas com impostos para que os governantes possam gastar a tripa-forra. Esta gente não me merece nenhum respeito.

         - Quando no mês passado fui mostrar as análises anuais ao meu médico, estando “muito bem, mesmo muito bem”, ficámos um pouco à conversa. O Dr. V. Alves é dado às artes, pinta, escreve, e sempre que o visito todas estas paixões vêm à baila. Desta vez falou-me da enorme riqueza que é a sua actividade clínica, dos seus doentes, e sem citar um único nome, contou-me histórias humanas incríveis. Aconselhei-o a escrever sobre isso e acrescei “desde que não me ponha lá”. Rui-se, rimo-nos. E depois disse: “Preciso que me trate por mais vinte anos, pois tenho três livros para escrever antes de partir.” Logo ele se interessou por saber de que tratam. Falei do Juiz Apostolatos, do Matricida (o rosto ia mudando à medida que desenvolvia a sinopse) e do Fantasmagorias. E ele, impressionado: “Onde vai você buscar essas histórias? - À vida”, respondi.


         - Tempo moche. Todo o dia o céu esteve com um boné cinzento a lembrar os dias tristes de inverno. Da quinta ao lado, através dos vários fogos controlados, chegava um intenso aroma a eucalipto. Silêncio. Trabalho. Horizonte fechado de mágoas travadas.

quarta-feira, dezembro 27, 2017

Quarta, 27.
Os trágicos incêndios de verão, com o seu rosário de mortes e destruição, quase desaparecimento de aldeias e vilas, têm sobrado para todo o mundo: políticos, presidentes autárquicos, televisões, instituições de caridade, toda essa gente hipócrita tem-se servido dos infelizes para aumentar a popularidade e rendimentos, festas e lágrimas de crocodilo. Mas a maioria dos infelizes, está ainda à espera das indeminizações e dos milhões que os portugueses lhes doaram.

         - No início deste ano o pobre rico, apresentou-se no tribunal por ter escapado ao fisco espanhol. Fê-lo não para reconhecer o crime, mas para acusar a juíza: “Se não me chamasse Cristiano Ronaldo, não estaria aqui.” A magistrada Mónica Gómez Ferrer, deu-lhe a reposta: “Temos na prisão pessoas que não pagaram 125.000 euros.” O “maior jogador do mundo”, está acusado de meter em offshores 17,7 milhões de euros! Ontem a juíza voltou à carga, afirmando que ele devia estar na cadeia. Neste vai-e-vem cómico, o arrogante folga as costas e... as pernas. É por estas e por muitas outras que o mundo está como está. Onde não há justiça, fica o campo aberto a todos os ditadores e revolucionários de pacotilha. Os grandes estudiosos sabem identificar os problemas, mas nada dizem da génese que lhes deu origem. Ou preferem ignorar. É mais cómodo e dá cargos e cagança.


         - Também o ano passado, passei um tempo em Strasbourg, chez Lionel. Inúmeros foram os dias que passeei no centro histórico da cidade e descansei no Au Vieux Strasbourg diante de uma chávena de chá e uma fatia do Kuglhopf.

Le vieux Strasbourg 

O Kuglhopf o doce característico da cidade